"Ao fim das crônicas conheça os poemas do autor"

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sábado, 7 de maio de 2011

TEMPO DE DESCULPAS

Mais de um mês envolvido com móveis empilhados, areia, cimento, brita, prego, arame, vergalhão, andaimes, estacas que para o bem da Ecologia agora são de ferro, betoneira, latão, fios emaranhados sobre as nossas cabeças, porta emperradas, paredes descascadas, destruídas, levantadas, colunas, cintas e laje, poeira, máscaras, caminhão em meia calçada descarregando enormes vigas e tijolos, e eu no meio da pista para controlar carros, polícia, multas, etc., entulhos, regador para baixar a poeira do entulho, alerta aos carroceiros para não derramar material e não deixar os cavalos comerem a grama do bem cuidado jardim da vizinha da frente e não fazer cocô na vila (como se fosse possível controlar as funções dos animais, reza silenciosa para que o pedreiro não despencasse do topo da casa em dia chuvoso e escorregadio, aprendizado com a convivência com pessoas mais humildes (que sonham, brincam, se empolgam com seu time de futebol) e devoram avidamente suas modestas marmitas, a necessidade de mais trabalhadores para ajudar a encher a laje, e, ao final de cada dia, a limpeza: tudo arrumado, o pano de chão em ação para tornar o ar respirável, tudo para continuar a obra no dia seguinte.
Foi assim a minha vida nesse último mês, quando optei pela feitura de uma laje na casa para mais conforto e, principalmente para acabar com a praga dos cupins que acabava com tudo que fosse de madeira dentro de casa. Controlada por máscaras, e pano molhado no chão o tempo todo, a rinite não me perturbou tanto quanto a demora, o passar dos dias sem ver a obra concluída. O computador foi o que mais falta fez, com certeza! As refeições foram improvisadas ou feitas na rua, e as roupas sujas empilhadas (como por para secar roupa num lugar que era só poeira? Enfim, eu que resisti até o último momento, assustado com o que poderia vir, vejo a coisa caminhar para um belo final (graças a Deus!) mesmo que ainda não seja o final final, pois ainda restam coisas menores para fazer ou arrematar.
Hoje que finalmente consegui liberar o computador para teclar este texto para o blog, peço desculpas aos leitores pela espaço vazio ocorrido devido à obra, mas a minha confiança é que quando decidimos enfrentar uma tempestade, uma noite escura ou uma guerra, é porque confiamos que, num futuro próximo, poderemos aproveitar o conforto, o sol e a paz que tanto almejamos.

sábado, 2 de abril de 2011

FOI-SE O TEMPO

Foi-se o tempo em que nossas companhias teatrais em respeito ao público no Rio de Janeiro, São Paulo, Teresina, Belém ou Manaus, se esmeravam no preparo de um repertório para mostrar a arte de Dionísio. Como verdadeiros mambembes, o sacrifício era compensado pelos aplausos aos seus magníficos espetáculos. Foi-se o tempo em que Procópio e Bibi Ferreira, Jaime Costa, Eva Todor, Maria della Costa, Tonia Carrero, Paulo Autran, verdadeiros bandeirantes da arte teatral, pela batuta de Adolfo Celli, Amir Hadad, Gianni Ratto, José Celso Martinez Corre, e outros bravos diretores mostravam a arte da representação e do canto, com tamanha maestria que lotavam os mais belos e importantes teatros nacionais, para a satisfação mútua: dos atores e do público.
Hoje em dia, as grandes salas de espetáculos do pais estão entregues aos “astros globais”. E, aí vem a pergunta: a quais astros globais? Tônia Carrero? Juca de Oliveira? Eva Wilma? Natalia Timberg? Teresa Raquel, Glória Menezes, Itala Nandi? Não, infelizmente não! Os teatros brasileiros estão entregues, principalmente, aos “astros ou produtos globais”, tipo Kayke Brito (para citar um muito comentado ultimamente, depois de ter seu espetáculo suspenso no Piauí, após um membro do elenco da sua peça ter desrespeitado o povo de Teresina, com expressão jocosa e de certa forma preconceituosa).
Nós, os mais antigos, que através de grandes companhias, um dia já assistimos a “Os Pequenos Burgueses”, “O Balcão”, “Eles não usam Black Tie”, “O Pagador de promessas”, “A ópera dos 3 vinténs”, “A Capital Federal”, “O Noviço”, por exemplo, ficamos deveras tristes com o que está acontecendo com o teatro brasileiro. Entregue a uma garotada convencida de que: “por terem passando pelo vestibular da novelinha das 6 ou das 7 (com o suporte de um empresário ambicioso. que lhe arranja um texto qualquer e depressa, para que a sua imagem não fuja das retinas das menininhas deslumbradas!), já podem dominar no palco a arte de Sófocles, de Shakespeare, de O’Neill, de Miller, de Brecht, de Mayakoviski, de Martins Pena, de Guarnieri ou de Plínio Marcos...
Pobres coitados! O caminho pela frente costuma ser longo e nem sempre tão fantasioso o quanto imaginam. Exige talento, dedicação, estudo e respeito... muito respeito ao público! A louca fantasia que a televisão costuma incutir na cabeça do garoto e da garota, faz com que, ao participar da novela das 6 ou das 7 (com raras exceções, é claro!) já se considerem grande ator teatral, o que lhes daria direito a atitudes deslumbradas e impensadas...
Recentemente, os grupos de Kayki Brito, do sertanejo universitário Luan Santana e da banda RESTART, cometeram graves indelicadezas, para não dizer grosserias, com o povo de Teresina (PI), de Belém (PA) e de Manaus (AM), respectivamente. Os fatos estão na INTERNET. O lamentável é que empresários que cuidam com tanto rigor dos contratos dos seus “seus meninos prodígios”, não lhes ensinam as regras básicas de respeito ao próximo, principalmente àqueles que lhes acolhem tão bem e lhes pagam regiamente por suas apresentações, muitas vezes pobres e improvisadas!
É... na verdade já não se produzem grandes espetáculos, nem artistas carismáticos e educados como antigamente!

terça-feira, 22 de março de 2011

BODAS DE DIAMANTE

Deífilo, meu irmão mais velho, dentre outras coisas, poeta, pesquisador e folclorista, casou-se com Zoraide, profunda conhecedora do Lar e seus detalhes, como era costume familiar no início dos anos 50. Seguindo a tradição, eles tiveram 09 filhos. Seus filhos, todos adultos, formados, alguns espalhados pelo Brasil e pelo mundo, conseguiram se reunir em Natal no mês de março para comemorar as BODAS DE DIAMANTE do casal, apesar do casamento ter sido realizado no mês de maio, tradicionalmente o Mês das Noivas.
Como não pude estar presente à festa, pedi ao mano Tarcísio que fosse o portador da seguinte mensagem ao casal:
DEDÊ E ZORAIDE,

"A um CASAL AMANTE do Amor, da Crença em Deus, da Família, dos Amigos, da Fraternidade;
da Boa Mesa, da Comunicação e da Confraternização, da Saúde e da Orientação dos filhos;
da Paz no Lar e no Meio em que Vive, da Alegria, do Folclore, da Boa Conversa, da Estética, do Culto ao Belo;
enfim, da vida tranquila e sossegada que Deus reserva a cada um, e que cada casal constroi à sua maneira...
eu e os meus filhos,
desejamos um momento de festas sem igual, rodeado pela alegria dos seus descendentes, dos parentes e amigos, na gloriosa festa das suas BODAS DE DIAMANTE!
Dedê e Zoraide,
Possa Deus lhes proporcionar mais e mais momentos marcantes como o de hoje, com os quais vocês escreveram esse poema, dançaram essa ciranda de maneira tão mágica, que resultou na construção de uma vida iluminada, que é exemplo para todos! E, que Ele, na Sua infinita bondade, possa lhes dar a chance de continuar a escrever por muitos anos mais, o seu fascinante romance!"

Recebam os nossos Parabéns!
José Gurgel dos Santos e Família.

quinta-feira, 3 de março de 2011

PREFÁCIO

O meu amigo Roberto Acruche me pede um prefácio para o seu livro “O mangue da moça bonita”. Conhecendo o talento que é, nas letras e na política, esse filho do antigo sertão de São João da Barra, hoje próspero município de São Francisco do Itabapoana, arrisco algumas linhas para o seu mais novo trabalho. Roberto Acruche é um empolgado historiador da sua terra, que conheci declamando românticos poemas, no Café Literário de Campos, criação do saudoso poeta Antonio Roberto, onde buscamos crescer literariamente, partilhando com outros poetas e prosadores nossos trabalhos literários.

Sobre o livro: trata-se de uma bonita lenda passada há muitos anos atrás, no manguezal de Gargaú, na foz do rio Paraíba. Ao lê-lo, lembrei-me de outras duas histórias. A primeira, “Cinderela”. Por quê? Porque essa moça bonita da lenda gerou, desde cedo, a inveja de muitos, inclusive das suas irmãs mais velhas: Ilde e Elda. E, desgraçadamente, acabou morta pelas duas, quando a Moça Bonita conquistando o coração de um moço rico que um dia apareceu no mangue, preparava-se para casar, quando usaria (presente do noivo!) um belíssimo vestido de noiva. Conta-se que é com ele que ela aparece, de vez em quando, vagando pelo manguezal. Outra imagem que me vem à mente é aquela de “Gabriela”, de Jorge Amado, vivida na TV por Sônia Braga. Tanto na novela quanto na lenda, as personagens são misto de inocência e sensualidade, gerando inveja que, no caso da moça, acabou sendo fatal.

Preciso ressaltar também, o valor desse resgate cultural (poderia ser qualquer outra manifestação popular). Um povo que não valoriza o seu passado, não pode ser levado a sério. Constantemente vemos imagens de Olinda (seus casarões, sua musicalidade, seu folclore; idem, Salvador, com suas ricas igrejas, sua história, suas tradições africanas; também as cidades históricas de Minas, onde constatamos o nosso heróico passado.

Por tudo isso, abraço o confrade Roberto Acruche, por seu amor à terra, e pelo resgate dessa bela lenda passada no manguezal de São Francisco do Itabapoana. Parabéns!

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

OBRIGADO, DOUTORA

Quando a doutora cobriu o meu rosto, como preparação para a operação de catarata e a rinite reclamou com o pouco de ar que me deixava sufocado, eu reclamei:
- Doutora, vai ser difícil eu aguentar. Não estou respirando nada!
- Tente controlar, porque por aqui, tem que ser por esse sistema, (e tentou encaixar o buraco daquela capa/manta, ou sei lá o que, no meu olho direito, que seria operado)
- Se você colaborar, vai dá para fazer. Caso contrário, teremos que remarcar!
- Deixe comigo Dra., vou colaborar. Esperei mais de 2 anos por este momento! (não seria agora que eu iria fraquejar, adiando a operação tão aguardada).
- Fique calmo, que tudo sairá bem. (com a cabeça imobilizada por faixas adesivas, o olho anestesiado por inúmeras gotas de colírio, foi a vez dela encaixar no olho uma aparelhagem que facilitaria a operação);
A dor fez com que eu gemesse, ao mesmo tempo em que tentava movimentar a cabeça.
- Assim não dá. Ou você colabora, ou remarcamos para outro dia.
- De jeito nenhum, doutora! Pode contar comigo...
- Tudo bem... olhe para o seu pé!
- Como doutora? Não estou vendo nada!
- Imagine! Como se olhasse para a ponta do nariz... Levante o queixo! Por favor, levante o queixo! E olhe para o nariz!
- Estou tentando, doutora... Tô sufocando...
- A auxiliar está tentando chegar ao seu nariz um pouco de oxigênio.
Bendita auxiliar, que por baixo daquela capa/manta sufocante, me socorria com uma lufada de oxigênio vinda daquele caninho salvador.
- Agora melhorou bastante, doutora.
- Vamos ver se dá para concluir, então? Olhe para a ponta do seu nariz!... Para a ponta do nariz! Isso! Levante o queixo! Levante o queixo! Colabora!...
- Estou fazendo o máximo, doutora! (proferir essas poucas palavras, já me sufocava. Mesmo assim, busquei forças para manter o globo ocular na posição que ela pedia).
- Isso! Isso! Mantenha nessa posição!
Por algum tempo, que para mim foi uma eternidade, mantive-me totalmente paralisado, obedecendo às instruções da doutora.
- Mais um pouquinho...
Mais uma “eternidade” naquela posição... Tudo para solucionar um problema que já se prolongava por mais de dois anos. Valia qualquer sacrifício pelo êxito da operação.
- Só mais um pouquinho... Ah... Ah... Pronto! Podem tirar aqui, e fazer o curativo.
- (após um grande suspiro, aliviado, só pude agradecer) Obrigado, doutora! Muito Obrigado!

sábado, 29 de janeiro de 2011

DUAS ROSAS

Campos tem suas características. A filantropia é uma delas. Pessoas caridosas estão sempre se unindo na ajuda aos mais necessitados. Além das igrejas, os centros espíritas fazem com bastante empenho esse trabalho, oferecendo aos miseráveis da cidade – que não são poucos! – pernoites, cafés, sopas, cestas básicas, etc. Um trabalho realmente louvável de amor ao próximo praticado por elementos da sociedade melhor situados na pirâmide financeira.

Essas casas recebem, em geral, um nome iniciado por Casa de Caridade, completado pelo nome de alguém que tenha se destacado em vida, servindo aos seus semelhantes. Uma delas, muito especial para mim, curiosamente, não recebe o nome de “Casa de Caridade”. Tive contato com a mesma nos primeiros anos da década de 80, quando fui trabalhar no CESEC, atual sede da prefeitura campista. Nessa época, eu passava diariamente pela frente da “Fundação Cultural Vovó Teresa” e via, muitas vezes, a porta daquela modesta casa cheia de famintos que para ali afluíam, em busca de comida. Tempos depois, conheci Dona Conceição de Maria, a sua presidente. Negra, baixinha, culta e acolhedora, a sua imagem não revela, nem de longe a grandeza dessa senhora, que, através da sua obra, luta pelo negro, com uma garra extraordinária. Para isso, busca direitos, fala com políticos e passa noites em claro, fazendo um crochê “fino” cuja renda ela reverte para a fundação. Enquanto tece as suas peças, vai imaginando o que mais pode ser feito pela causa que abraçou...

Vovó Teresa foi uma escrava que lutou muito pelos irmãos de raça tendo, por isso padecido todos os sacrifícios reservados a um escravo rebelde. Foi ela quem inspirou Conceição a lutar pelos seus irmãos... A menina que cresceu na miséria, sendo depois empregada doméstica, sofrendo humilhações, jurou a si mesma ser alguém na vida, para cuidar da sua raça! E, foi o que aconteceu. Com a preciosa ajuda de Vovó Teresa, ela se torna enfermeira do corpo e da alma, e dá início à sua missão...

Foi contemplando a sua luta de amor desmedido que, um dia, eu lhe dediquei um poema. Há poucos dias ela me ligou:

- Doutor, queria lhe agradecer pela poesia que o senhor fez para mim. Foi lida na reunião de ontem e o senhor não sabe como foi bonito! (era uma reunião para a criação de uma nova entidade sobre a cultura negra, e o poema fora lido em sua homenagem).

- D. Conceição, a senhora não tem nada a agradecer! Nós é que agradecemos a sua bondade, a sua grandeza, a sua luta em favor da Raça Negra e dos miseráveis que batem à sua porta.

O poema que tem o mesmo título da crônica, “Duas Rosas”, encontra-se na seção MEUS POEMAS ESCOLHIDOS deste blog, e é a versão definitiva do que fora lido na reunião por ela citada, e que há anos eu dedicara a essa linda e emblemática senhora de Campos.