O movimento musical “Sertanejo Universitário” que, teoricamente, deveria ser um evento musical mais refinado do que o outro Sertanejo, para poder justificar o nome, poderia ser mais cuidadoso... O cantor tido como o “papa” do movimento, por exemplo, canta coisas desse tipo: “Tô de cara com você. Tô de cara com você...” Talvez ele quisesse dizer: “Tô de caso com você...” Acho que, pela posição que conseguiu, não fica bem ele ficar maltratando a “Última Flor do Lácio” assim!
Tem uma dupla aí, cujo grande sucesso é: “O jeito é dar uma fugidinha com você; o jeito é dar uma fugidinha com você...” repetindo inúmeras vezes a mesma coisa. Experimente, trocar o G, por um D... Foi-se o tempo em que duplo sentido não era tão direto assim. Convenhamos: pegar um grupo de garotos cantando dessa maneira e apresentá-los como Sertanejo Universitário é, no mínimo, um contra-senso. Porque, na verdade, não se trata nem de uma coisa, nem de outra (o mais correto seria considerar o movimento como “fórmula fácil de se ganhar dinheiro”, assim como outros produtos que a TV vende, destinados à criança, principalmente, embalados em fantásticos cenários e produções.
O país que já produziu a “Tropicália”, a “Bossa Nova” e a “Jovem Guarda”, lamenta que as novidades musicais que surgem não se equiparem, em qualidade, aos citados movimentos. Por outro lado, jogar no lixo obras do tipo “Rancho Fundo”, “Tocando em frente”, “Tristeza do Jeca”, “Nuvem de Lágrimas”, “O menino da porteira”, “Fio de Cabelo” entre tantos sucessos, só porque temos agora uns meninos saltitantes que, em mega shows, enlouquecem as meninas do Brasil, é preocupante e até desrespeitoso para a nossa cultura musical.
Sei que os tempos são outros, são raros os verdadeiros universitários, engajados no estudo e no crescimento do país. Os “universitários”, que compuseram a tal Fugidinha... certamente, foram incentivados por alguém que falou: “É isso que dá dinheiro!!! Nada de conhecer a obra de Chico Buarque, Caetano, Gil, Roberto Carlos, Cartola, Paulinho da Viola e tantos mestres da MPB. Nada disso! Façam gestos sensuais, pulem e gritem, que do resto nós cuidamos. Afinal, não é disso que o as menininhas gostam?!...”
É, as menininhas gostam!... O problema é saber quem vai reparar os dramas de crianças indesejadas jogadas pelo muro, no lixo, na lagoa... Quem cuidará dos traumas produzidos e das despesas geradas na Saúde Pública?. Porque, pela fantástica filosofia do Sertanejo Universitário: “Primeiro a gente foge, depois a gente vê! Primeiro a gente foge! Depois, a gente vê!”...