"Ao fim das crônicas conheça os poemas do autor"

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terça-feira, 13 de abril de 2010

O MORRO DO BUMBA

Chocado, como o Brasil inteiro, com a tragédia do Morro do Bumba – depósito de lixo sobre o qual autoridades permitiram que incautos cidadãos realizassem o sonho da casa própria, constituíssem família e criassem seus filhos em aparente tranqüilidade, para ver tudo acabar numa terrível avalanche de lixo compactado e chorume – não consigo tirar da cabeça mais essa tragédia nacional anunciada. E, não sei por que razão, de vez em quando me vem à mente uma antiga piada.

Conta essa piada que cidadãos de diversos países foram se queixar a Deus, pelos privilégios por Ele concedidos ao Brasil...

- Por que, Senhor, tanto benefícios para aquele país ? Lá não tem os ciclones como os que castigam o meu... Era o americano.

- Nem guerras, Senhor! Os europeus uniam-se em coro na sua reclamação.

- Senhor, e os terremotos?! O japonês educadamente reclamava: - O meu país tão pequenino sofre tanto com esses abalos!...

Na fila ainda esperavam a vez asiáticos, africanos, latino-americanos, todos com reclamações engatilhadas, quando Deus resolve abreviar a reunião contra o Brasil, falando:

Meus filhos, sérios e inteligentes como vocês são, certamente hão de perceber que estão reclamando sem razão... Queria que vocês meditassem, por exemplo, no “tipo de gente” que Eu coloquei lá!... Após um momento de reflexão, analisando as palavras do Senhor, eles foram aos pouco se retirando...

Eu ouvi pela primeira vez essa piada – que, como toda piada, tem sempre um fundo de verdade - na adolescência. Mas nunca a esqueci por seu incrível humor negro e por sua terrível realidade. Como é que pode administradores permitirem construções em cima de um lixão? É, mas no nosso país pode tudo. Deixa acontecer, se render votos, melhor! Se não... o que representam “apenas” 200 cidadãos mortos, não é verdade?...

Infelizmente, a tragédia do Morro do Bumba tem tudo a ver com esta piada. Do “povim” que o Senhor colocou aqui, destaca-se a pior classe dele: a daqueles que nós elegemos nossos representantes. Os mais inteligentes, os mais espertos. Tão espertos que só fazem leis em benefício próprio, que possam inocentar seus crimes, suas falcatruas. Pensar na Pátria, nos concidadãos sem segurança, educação, moradia digna, aposentadoria justa? Isso é coisa para intelectual... Obras de infra-estrutura?! O importante é construir praças e serviços que possam lembrar o seu governo. Às favas com as obrigações institucionais. Escárnio e desprezo com o povo até a próxima eleição, é esta a lei do político brasileiro.