Campos tem suas características. A filantropia é uma delas. Pessoas caridosas estão sempre se unindo na ajuda aos mais necessitados. Além das igrejas, os centros espíritas fazem com bastante empenho esse trabalho, oferecendo aos miseráveis da cidade – que não são poucos! – pernoites, cafés, sopas, cestas básicas, etc. Um trabalho realmente louvável de amor ao próximo praticado por elementos da sociedade melhor situados na pirâmide financeira.
Essas casas recebem, em geral, um nome iniciado por Casa de Caridade, completado pelo nome de alguém que tenha se destacado em vida, servindo aos seus semelhantes. Uma delas, muito especial para mim, curiosamente, não recebe o nome de “Casa de Caridade”. Tive contato com a mesma nos primeiros anos da década de 80, quando fui trabalhar no CESEC, atual sede da prefeitura campista. Nessa época, eu passava diariamente pela frente da “Fundação Cultural Vovó Teresa” e via, muitas vezes, a porta daquela modesta casa cheia de famintos que para ali afluíam, em busca de comida. Tempos depois, conheci Dona Conceição de Maria, a sua presidente. Negra, baixinha, culta e acolhedora, a sua imagem não revela, nem de longe a grandeza dessa senhora, que, através da sua obra, luta pelo negro, com uma garra extraordinária. Para isso, busca direitos, fala com políticos e passa noites em claro, fazendo um crochê “fino” cuja renda ela reverte para a fundação. Enquanto tece as suas peças, vai imaginando o que mais pode ser feito pela causa que abraçou...
Vovó Teresa foi uma escrava que lutou muito pelos irmãos de raça tendo, por isso padecido todos os sacrifícios reservados a um escravo rebelde. Foi ela quem inspirou Conceição a lutar pelos seus irmãos... A menina que cresceu na miséria, sendo depois empregada doméstica, sofrendo humilhações, jurou a si mesma ser alguém na vida, para cuidar da sua raça! E, foi o que aconteceu. Com a preciosa ajuda de Vovó Teresa, ela se torna enfermeira do corpo e da alma, e dá início à sua missão...
Foi contemplando a sua luta de amor desmedido que, um dia, eu lhe dediquei um poema. Há poucos dias ela me ligou:
- Doutor, queria lhe agradecer pela poesia que o senhor fez para mim. Foi lida na reunião de ontem e o senhor não sabe como foi bonito! (era uma reunião para a criação de uma nova entidade sobre a cultura negra, e o poema fora lido em sua homenagem).
- D. Conceição, a senhora não tem nada a agradecer! Nós é que agradecemos a sua bondade, a sua grandeza, a sua luta em favor da Raça Negra e dos miseráveis que batem à sua porta.
O poema que tem o mesmo título da crônica, “Duas Rosas”, encontra-se na seção MEUS POEMAS ESCOLHIDOS deste blog, e é a versão definitiva do que fora lido na reunião por ela citada, e que há anos eu dedicara a essa linda e emblemática senhora de Campos.
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