"Ao fim das crônicas conheça os poemas do autor"

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terça-feira, 30 de novembro de 2010

GUERRA DO RIO

Foi, seguramente, o meu record de tempo em frente a uma televisão. Afinal, o país tinha acabado de entrar numa guerra. Não numa Copa do Mundo qualquer, mas numa guerra pra valer, sujeita a confrontos, mortes, atos de heroísmo, enlutamento de famílias. E, o pior: o combate era entre: Brasil x Brasil. Claro que era o Brasil do Bem contra o Brasil do Mal. Neste caso, a torcida só podia ser a favor do Brasil do Bem.
À medida que o tempo passava, torcia bastante para que os traficantes se entregassem, atendendo à legislação universal sobre guerras, saindo segurando os armamentos com os braços levantados sobre a cabeça, para evitar o pior. Imaginava ver, após o ataque final, fileiras ou amontoados de cadáveres vencidos após o derradeiro confronto. A possibilidade de ver brasileiros mortos ou feridos no confronto me assustava. Eu aguardava, atento, todos os acontecimentos. O olho não se desgrudava da tela. A rendição, no entanto, não aconteceu.
No dia seguinte, por volta das 8,00 horas, lembrando grandes filmes de guerra de Hollywood, o tanque da Marinha tomou posição; soldados carregando seus fuzis seguiam “para a morte”. Eram jovens como os meus filhos, e nessa hora o peito fica mais dolorido. Foram momentos de suspense, na busca da vitória sobre o inimigo (o Brasil do Mal). Entretanto, usando de toda a sua esperteza, o exército do tráfico ali instalado, não esperou e fugiu para a mata e para o labirinto da favela que tão bem conhecia, deixando ao comandante do Bem a obrigação de proclamar uma vitória “meio vazia” mas, felizmente, sem derramamento de sangue!
A fortaleza do tráfico que eles julgavam inexpugnável caiu aos pés da força solidária do Brasil do Bem. Mas com a evacuação antecipada da praça de guerra, restou aos homens do bem a tarefa de vasculhar casa a casa da enorme favela, na busca do inimigo, de armamentos e da droga causadora da guerra.
Durante a invasão ao território inimigo, ficou-se conhecendo a grande variedade de armas e de drogas apreendidas. O luxo exibido nas mansões dos chefes do trafico era impressionante. Terrível era o domínio que esses traficantes exerciam sobre seus subordinados, e dolorosa, a decisão de pais que entregaram seus filhos para a polícia, no afã de livrá-los das drogas. Emocionante, o hasteamento das bandeiras do Brasil e do estado do Rio, após a reconquista do território, a brava a atuação das forças armadas e a solidariedade da população. Parabéns! Viva o Brasil do Bem! Viva as forças que derrotaram o Brasil do Mal!
Mas... espere aí! Se houvesse derramamento de sangue, ao fim do combate, só correria sangue brasileiro por terra. Do Bem ou do Mal, era sangue pátrio, nativo, brasileiro. Portanto, muita coisa está errada, concorrendo para essa guerra estúpida entre irmãos. É muito grande o ônus que todos nós brasileiros acabamos pagando. Principalmente os cidadãos honestos das favelas. Muita coisa precisa ser revista para que não presenciemos mais vezes guerras estúpidas como esta! Seria bom que políticos sérios – e não palhaços! – começassem a pensar no Brasil com mais seriedade e patriotismo.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

FALTOU WALNIZE NA BIENAL

Minha querida Walnize Carvalho, acredito que compromissos geográficos ou familiares tenham determinado a sua ausência nesta festa fantástica que foi a VI Bienal do Livro de Campos dos Goytacazes. Por isso, tento em breve relato passar para você o que foi o acontecimento que agitou a cidade durante dez dias. Devo informar-lhe que você não foi a única da Pedralva que esteve ausente ao espetáculo. O acadêmico Amir Barbosa, por exemplo, encontra-se na Beneficência Portuguesa onde, em breve, será operado.

Mas, vamos às notícias do evento. A Bienal deste ano foi uma festa! A começar pela criançada que no afã de aproveitar o máximo a novidade, percorria a feira fazendo alvoroço pelos corredores, mais parecendo – na busca por seus primeiros livros! – um chilrear de pássaros na hora matinal do seu alimento, ou à noitinha quando retornam em bandos. Desta vez, a boa localização e a ótima estrutura implantada que cobria as duas praças em frente à catedral, tornaram bem maior a afluência do público à feira. Para você ter uma idéia, no último dia, faltando poucas horas para o encerramento, a lotação era quase total e o público super animado.

Uma atração à parte. A estátua do soldado no centro da praça (homenagem aos pracinhas brasileiros mortos na II Guerra Mundial) normalmente ignorada pelo campista que por ela cruza diariamente na sua luta pelo ganha pão, virou atração. Por ser mais alta que o teto comum da bienal ela ganhou uma espécie de cúpula que a cobria e, conforme a iluminação, reproduzia beleza toda especial.

Você, cronista e poeta como eu, iria adorar o bate-papo desses dois mestres da crônica brasileira moderna: Luiz Fernando Veríssimo e Zuenir Ventura, que num humor refinado divertiram uma arena lotada de pessoas interessadas nas opiniões dos autores de “O analista de Bagé” e de “1968 - o ano que não acabou”. Falaram, dentre outras coisas, da amizade que os une e das suas esposas, com quem estão sempre viajando pelo Brasil.

Devo dizer que por estar dando uma atenção ao stand da Academia Pedralva, não tive oportunidade de assistir a todas as palestras que desejava. No entanto, conhecer “ao vivo e a cores” o pensamento de Cora Ronai, de Rui Castro, de Moacir Scliar e de Ivan Junqueira foi sensacional. Como sensacional foi trocar palavras com essa extraordinária mulher chamada Suzana Vargas, que fez de tudo na Bienal: mediou debates, lançou livro, e acima de tudo foi a curadora desse fantástico evento literário em terras campistas.

Houve falhas? Houve, sim. Num projeto gigantesco como esse seria impossível que uma ou outra não acontecesse: ausência de conferencista; carpetes levantando em determinados locais provocando tombos; sons e gritaria próximos ao Café Literário, tirando um pouco o brilho da palestra, por exemplo... Nada, no entanto, que impedisse que o evento ganhasse o entusiasmo e o aplauso da população. De parabéns, portanto, os seus organizadores

domingo, 7 de novembro de 2010

RACISMO

Qualquer forma de racismo é nociva ao ser humano. Quem se envolve com essa prática, principalmente utilizando-se desse instrumento aparentemente inocente e tranqüilo que é a Internet, ou quer aparecer, ou não tem idéia do dano que pode causar à sociedade. Estou me referindo, obviamente, à estudante (de Direito!) que apareceu na Internet culpando os nordestinos pelos males feitos a São Paulo e pelo resultado da recente eleição presidencial.

Não vi fotos dessa jovem. Pela idade, se é o caso de querer aparecer, acredito que ela teria outra maneira de fazer sucesso, a exemplo da jovem do micro-vestido cor-de-rosa de universidade paranaense, que foi selecionada para um programa televisivo e já faturou um ensaio sensual, descobrindo, assim, um modo fácil de ganhar a vida...

Se essa moça não tem idéia do que está fazendo, eu posso lhe enviar material fotográfico sobre o extermínio de judeus pelos nazistas, na II Guerra Mundial, para ela sentir o que representa essa loucura do ser humano, essa escalada do ódio contra irmãos. Não sei do grau de influência em que ela está envolvida. Talvez, as cenas dantescas a que me refiro, dependendo do que lhe vai na cabeça, até aumente o ódio pelos nordestinos, a quem ela gostaria de ver afogados, e mude de idéia para a câmara de gás... Acorda, menina!

São Paulo é muito diferente! Uma cidade que acolhe tão bem gente de todos os lugares do Brasil e do mundo de repente também produz figuras estranhas, alienadas (aparentemente, sem família e sem Deus!) querendo aparecer, fazendo o que eles julgam mais fácil: perseguir, nordestinos, negros, gays e outras minorias. Enganam-se profundamente esses grupos, engana-se a mocinha da faculdade de Direito (como agiria uma advogada com uma mentalidade dessas, hein?). Eu aconselho a pessoas ou grupos como esses, a trocarem um pouco de lugar com esses trabalhadores, acostumados desde cedo à dureza da vida. Botar o capacete e irem para as obras; suar o uniforme; buscar um significado para a sua existência. Sentir o gosto do seu salário suado no final do mês. Amar. Constituir família. Pensar em Deus.

Sinceramente, acho que o que está faltando a certas pessoas ou grupos de São Paulo é justamente isso. Desconhecendo o valor do trabalho, por comodismo ou má educação, elas se apegam a idéias radicais, extravagantes, buscando nos mais fracos(?) um motivo para aplacar as suas frustrações...