"Ao fim das crônicas conheça os poemas do autor"

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domingo, 9 de maio de 2010

ORGULHO MOSSOROENSE

(endereçado ao blog Azougue.com em 07.04.10)

Amigo Cabi, acho que você exagerou um pouco ao se referir à minha pessoa no seu fantástico blog “Azougue.com”, me colocando em destaque por um bom período na página principal do mesmo. Por que penso assim? Porque, para mim, orgulho de um lugar é o operário, na sua árdua luta diária, construindo o progresso; o microempresário, na busca incansável para levar adiante um projeto; o estudante que se esforça e se forma (aí, agora, são inúmeras as oportunidades!); a mestra, que envelhece educando; os médicos que honram o seu juramento; o policial, que garante a segurança; aqueles que persistem na sua labuta diária, reclamando da batalha sob o calor intenso, mas que é compensada, quando à noitinha a brisa refrescante vem farfalhar os carnaubais...

Além do mais, já caminha para 40 anos o tempo que deixei a cidade. De lá para cá, apenas visitas periódicas. Da família do S. Juvenal e de D. Dalila, apenas o casarão, que vai se transformando em comércio, obedecendo à ordem econômica. Cadê as noites tranqüilas, as moças desfilando pela calçada, dobrando a Coronel Gurgel, em direção ao Pax, ao Caiçara, à Churrascaria “O Sujeito”; Cadê a Padaria da Meira e Sá, onde eu e Ninha ajudávamos o pai no fabrico e na venda do pão? Cadê os cantadores na pedra do Mercado? Cadê os carroceiros, as lavadeiras equilibrando grandes trouxas na cabeça? Cadê os melancólicos enterros com o fundo musical do sino da catedral, se arrastando pela Augusto Severo, até o cemitério? O que foi feito, meu amigo, da praça do Pax, onde nos reuníamos e assistíamos a filmes épicos (contrastando com os Fellinis, exibidos no Caiçara)? Cadê Luiz dos jornais, jornais vendidos sempre à noitinha em frente ao cinema? Para onde foram a sorveteria, a sinuca do bar Suez, as danças na churrascaria? O bucólico do rio que cortava uma Mossoró singela, na maioria das vezes quase seco, mas que conseguia o magnetismo de refletir a lua cheia. Os namoros vigiados, cobrados, talvez por isso até mais apaixonantes? No final da noite, eu busco e não encontro mais a zona do meretrício... Dos amigos, os que comigo formavam o quarteto de papo, cerveja e sinuca, Cizinho, Paulo e Berício, já partiram para o andar de cima e estão na boa companhia do Senhor. Ninguém, amigo, consegue deter a marcha do progresso!

Esse que você dá destaque como “Orgulho mossoroense”, deixou Mossoró em 1965, em busca de oportunidades no Rio de Janeiro: queria fazer Medicina. Nas ilusões juvenis, enfrentou difíceis vestibulares, o restaurante Calabouço, a polícia da ditadura, a dureza da vida. Passou para a Embratel (que iniciava suas operações e era orgulho nacional!) Casou-se. Constituiu família. E o velho sonho de voltar médico (não mais para fazer curativos na operação de Tio Altamiro, mas para realizar as suas próprias operações!) se desfez. Quando me descobri, os anos haviam passado e eu estava radicado no “sul maravilha”, como se falava antigamente. No meu livro “Nativo” sou um tanto radical ao dizer: “Não sou mossoroense... Não sou carioca... não sou campista... não tenho naturalidade... tenho nacionalidade: sou Brasileiro!” Porque imenso é o meu amor por esta Pátria, que precisará cada dia mais, de cada um de nós... Como tal, procuro fazer a minha parte como pai de família (agora avô!) e, desde a doença da mulher, escrevo crônicas, dentro do que julgo ser mais coerente.

Agora, amigo Caby... orgulho por orgulho, apesar de tudo o que eu falei, fique sabendo que: estar no seu blog, é um “orgulho danado”!



Em tempo: Nesses breves dias, estarei novamente em Mossoró, para mais uma visita familiar.