"Ao fim das crônicas conheça os poemas do autor"

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segunda-feira, 9 de março de 2009

SOFRINILDO DA SILVA, UM BRASILEIRO

O caso de Sofrinildo, um amigo meu aposentado e sua conta-corrente controlada por um desses bancos que anunciam férias fantásticas, patrocinam jornais televisivos milionários, e chegam ao fim do ano com lucros astronômicos, é um caso típico do sofrimento do brasileiro atual. Velho, aposentado após infindáveis anos de trabalho duro, ele, ao “pendurar as chuteiras” se viu, de repente, como o mais importante dos mortais ao tornar-se correntista de um dos maiores e mais badalados bancos do país. O seu orgulho aumentava ainda mais quando recebia as luxuosas correspondências contendo, em belos folhetos, as “vantagens” oferecidas pelo banco. Nas rodinhas entre amigos, no entanto, já fora alertado para o risco das tais “armadilhas”. Por isso, estava sempre a recusá-las.
Porém, em determinada ocasião, o filho que trabalhava e o ajudava, pagando a própria faculdade, ficou desempregado. Aí, a coisa mudou de figura. Sofrinildo achou que tinha chegado o momento de aceitar aquelas tão cordiais e generosas propostas do banco. Banco amigo que, podia até dizer – diante da rica correspondência recebida quase diariamente – se lembrava mais dele do que alguns parentes. Para o primeiro contrato, escolheu entre os inúmeros gerentes (todos padronizados, jovens, bonitos e falantes), a mocinha que lembrava a sua sobrinha preferida. Alguns comandos no computador, e ele só teve o trabalho de teclar a sua senha. Pronto: dinheiro liberado e os problemas daquele mês resolvidos...
Como os problemas, no entanto, continuavam e as “generosas” ofertas idem, Sofrinildo foi acatando a prestimosa ajuda do banco “amigão” que, sendo tão rico como diziam, não iria lhe causar maiores problemas mais tarde, como falavam. As pessoas têm mania de boatos, pensava... Assim é que contratou mais um, mais outro, cheque especial (que mudou de valor por mais de uma vez), etc. Confiando no “amigão que não o deixa na mão”.
Até que um dia Sofrinildo caiu na real: estava fulminado! Estava difícil honrar as parcelas mensais, principalmente depois que passou a utilizar o cheque-especial e a dívida cresceu astronomicamente, comprometendo a parcela vital da sua aposentadoria. Foi quando ele viu fugirem, como num passe de mágica os sorrisos amáveis, as palavras amigas... Diálogos cordiais agora trocados por monólogos ásperos:
- Ta no contrato! Não posso fazer nada!
Ao retornar à casa, deprimido, Sofrinildo, percebe que o correio lhe deixara mais uma correspondência do seu banco “amigão”. Ironicamente, era mais uma oferta. Desta vez, de um Cartão Internacional, que facilitaria as suas férias nos paraísos da terra: Capri, Bahamas, Ilhas gregas, Havaí...

Extraído do livro “A Ponte”, livro de crônicas do autor.