"Ao fim das crônicas conheça os poemas do autor"

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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

LIXEIRA, NÃO!

A conversa surgiu devido a problemas comuns nos seus telhados, após a construção de um edifício ao lado:

- Ah... o senhor não tem ideia do que a gente tem sofrido aqui (reclamava a mais velha) toda hora cai objeto lá de cima... embalagens usadas, sacolas de supermercados... resto de cigarro, então... às vezes, vem até acesos! Fui obrigada a mudar a posição do gás. Já imaginou se uma ponta daquelas acesa caindo em cima do bujão? A vila toda vai pelos ares!

- É verdade, D. Sandra, uma tremenda irresponsabilidade! Será que eles não sabem o risco que podem causar? Todo o dia a gente vê notícia de incêndios causados por atos desse tipo. Falou o velho aposentado.

- E... o senhor pensa que é só isso? (a mais jovem, católica fervorosa, que acompanha as programações religiosas na TV, revezando entre a Rede Vida e a Canção Nova, respira fundo para dar continuidade) O pior... foi o que eu recolhi semana passada, quando estava catando as sujeiras que eles jogaram... (parou de repente).

- Foi o quê, que esses irresponsáveis fizeram, D. Isabel? (Ele deu ênfase aos “irresponsáveis” para que ela concluísse).

- No meio do lixo que eles jogaram, uma revista... e eu como gosto de ler, apanhei. Não que eu goste de fofocas de artistas ou de gente famosa, não. Mas, como estava na minha área, eu peguei. Não acreditei no que estava vendo! Mulher pelada...

- Já é por conta do carnaval! Ponderou o velho aposentado.

- Carnaval, nada! Revista por-no-grá-fi-ca! Isso é coisa de se jogar pela janela?! Deus me livre! O mundo está perdido mesmo!

- Você não me mostrou, Isabel!...

- Como é que vou ficar mostrando pornografia pra você, Sandra!? Deus me livre! Cruz credo!

O homem achou complicado prolongar a conversa com aquelas senhoras e se despediu. Mas, saiu dali se lembrando de uma história parecida que ouvira há pouco tempo:

Um moço ascendera na vida social, morando num dos novos e luxuosos prédios da cidade. Ao lado, numa casa arborizada e confortável, morava uma senhora zelosa pelo seu imóvel. O moço tinha o péssimo hábito de, toda noite, jogar camisinhas usadas pela janela, indo as mesmas cair bem no centro da área da senhora, o que naturalmente a deixava intrigada. Não se sabe como, mas ela garantia que eram dele... Na primeira vez, gritou, na direção do seu apartamento, reclamando; pedindo para que desse outro destino ao objeto usado. Mas, nada! Toda noite, nova camisinha usada era jogada; e, toda manhã, lá estava ela indignada, fazendo a sua remoção.

Apesar da figura influente que se tornara, ele era dessas pessoas que tiveram facilidade de ascender na vida, galgando luxuosos edifícios por elevadores requintados, mas não tiveram o devido escrúpulo de respeitar os semelhantes que lá embaixo permaneceram querendo apenas ser tratados com dignidade.