O cinema sempre me fascinou. Na minha infância havia apenas um cinema na
cidade e nos divertíamos com os filmes de cowboys do tipo Roy Rogers, que
passavam colados ao seriado. O seriado que mais me impressionou em criança foi
o de Flash Gordon. Mais tarde, vieram as famosas chanchadas da Atlântida, onde
se destacavam: Oscarito, Grande Otelo, José Lewgoy, Eliana, Fada Santoro, Dercy
Gonçalves, Violeta Ferraz, Zezé Macedo, Zé Trindade e tantos outros...
A essa altura, na adolescência, eu já frequentava as sessões noturnas.
E, como era divertido! Havia um frequentador na cidade que era uma alegria
extra, em virtude de sua gargalhada espalhafatosa que contagiava toda a
plateia. Oscarito não podia “atropelar” Grande Otelo numa fuga, na história,
sem que ele não disparasse a sua estridente gargalhada. E, o público vinha
junto.
Foi numa dessas chanchadas da Atlântida, cujo tema era espionagem e
tratava do satélite russo “Sputinik” que teria caído no interior do Brasil, que
eu a contemplei pela primeira vez no cinema. No filme, algumas nações se
interessavam pelo objeto e providenciavam agentes para obtê-lo. Engraçado é que
um dos agentes americanos era Jô Soares, no início da sua carreira. Mas, sem
dúvida, a grande estrela de “O homem do Sputinik”, era ela: NORMA BENGELL.
Parodiando Brigitte Bardot, na época o grande apelo sexual do cinema, a nossa
Norma ficava dengosa e fazia inúmeros trejeitos para cima do Oscarito, dono da
casa onde caíra o tal objeto, tentando conseguir pistas que levasse os espiões
franceses ao tal Sputinik. Foi uma participação curta, mas marcante, desta
grande atriz brasileira falecida recentemente.
Depois, ela fez dois grandes filmes: “Noites Vazias” e “Os Cafajestes”.
No primeiro, foi protagonista, com outra grande estrela do nosso cinema, Odete
Lara, de cenas quentes entre duas mulheres; já no segundo, ela era vítima de
uma curra (ou estupro!) pelos “cafajestes” Daniel Filho e Jece Valadão, no
filme de Ruy Guerra. Além disso, deslumbrou o país ao apresentar a famosa cena
de sexo frontal feminino explicito (Hoje, o “Amor e Sexo” da TV, já exibe ambos
os sexos frontais e explícitos...). Nos dois filmes, a despeito do apelo
sexual, a artista demonstrou talento tão grande que passou a ser escolhida
pelos melhores diretores brasileiros, entre eles Anselmo Duarte, que consagrou,
com “O Pagador de Promessa” o nosso cinema, com a obtenção da “Palma de Ouro”
do festival de Cannes, o que levou a nossa Norma ao estrelato internacional.
A partir daí, ela participou de uma série de películas italianas e
francesas, tornando-se – excetuando atuações em Hollywood – a grande estrela
brasileira do Cinema Mundial.
Depois, eu vim embora para o Rio. Depois, a televisão tomou o lugar do
cinema, que foi vendido a supermercados e igrejas evangélicas, e Norma Bengell,
nossa grande estrela, ficou um tempo esquecida. Até que alguém inventou que, ao
contrário da sua marcante sensualidade feminina, ela poderia ser um grande
trunfo no papel de “sapatão”, no seriado de TV,
“Toma lá, dá cá”. Não sei se por dinheiro ou se por estar sempre pronta
a qualquer desafio, ela (atuante até nos movimentos contra a Ditadura!) que
ultimamente reclamava da falta dos amigos que sumiram, topou. Topou e, apesar
da doença que a vitimou, ainda foi fazer sucesso na televisão com um personagem
que não tinha nada a ver com a sua trajetória de deusa do Cinema Brasileiro.