"Ao fim das crônicas conheça os poemas do autor"

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domingo, 12 de abril de 2009

A LANCHONETE QUE VEIO DE LONGE

É uma lanchonete simples, sem o layout ou o luxo de um Bob`s ou de um McDonald. Modesta, instalada num dos prédios antigos próximos à rodoviária de Campos, tem um balcão de vidro em “L” com uma pequena frente e uma parte mais longa que separa os dois ambientes; de um lado, móveis para mostruários, painel de preços, depósitos com refrescos coloridos, moenda de cana e outros apetrechos relativos a qualquer lanchonete; do outro, mesas com 4 cadeiras brancas de plástico. Dando continuidade ao balcão principal, um outro, mais estreito e de inox, com bancos redondos, onde também são servidos lanches, vai até o fundo da loja. Um minúsculo banheiro completa o lado dos fregueses. Do lado de dentro, além do espaço para o atendimento, um outro mais estreito é usado para lavar e secar louças. Lá dentro, a cozinha. Aparentemente, uma lanchonete como tantas outras... Por que então esta me chamou tanto a atenção?
O diferencial fica por conta dos donos do estabelecimento. Longe da improvisação brasileira, os chineses, seus proprietários, apesar de tranqüilos, parecem estar sempre “antenados”. Confesso que gostaria de conhecer mais detalhes daqueles personagens tão curiosos. Infelizmente, porém, a comunicação com eles é muito restrita, já que entre eles é feita na sua língua original; e quando se relacionam com os fregueses, é como se tivessem criado mais um dialeto, ao falar, por exemplo: flango (frango), cazu (caju), cocinha (coxinha), duzicinqenta (dois e cinqüenta). Uma difícil comunicação que se restringe quase sempre ao lanche de deliciosos salgados e ao seu pagamento...
Admirável, no entanto, é a disposição deles para o trabalho. O chinês franzino parece coordenar o funcionamento da loja: toda hora conversa com a mulher, vai à cozinha, volta com salgados para o mostruário. A chinesa que toma conta do balcão também é franzina e, só aparentemente, frágil! Fica na lanchonete de manhã à noite, muitas vezes, horas a fio, com o bebê às costas como se fora uma mochila presa ao seu corpo. O bebê “não está nem aí” para o vai e vem da mãe, que costuma usar da habilidade na sua labuta diária servindo, atendendo, recebendo, etc. sem nunca por a criança em risco com batidas na cabeça, por exemplo. Brasileiras, sem tal precisão e com medidas anatômicas bem mais avantajadas, dificilmente conseguiriam tal façanha naquele espaço tão apertado.
Outra coisa é a obediência e a tranqüilidade que as crianças parecem já trazer no DNA... O maiorzinho, educadamente, se interessa por celulares e calculadoras dos fregueses. Já o bebê, mesmo mal acomodado naquela “mochila” não parece conhecer a palavra choro...