"Ao fim das crônicas conheça os poemas do autor"

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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

OBRIGADO, DOUTORA

Quando a doutora cobriu o meu rosto, como preparação para a operação de catarata e a rinite reclamou com o pouco de ar que me deixava sufocado, eu reclamei:
- Doutora, vai ser difícil eu aguentar. Não estou respirando nada!
- Tente controlar, porque por aqui, tem que ser por esse sistema, (e tentou encaixar o buraco daquela capa/manta, ou sei lá o que, no meu olho direito, que seria operado)
- Se você colaborar, vai dá para fazer. Caso contrário, teremos que remarcar!
- Deixe comigo Dra., vou colaborar. Esperei mais de 2 anos por este momento! (não seria agora que eu iria fraquejar, adiando a operação tão aguardada).
- Fique calmo, que tudo sairá bem. (com a cabeça imobilizada por faixas adesivas, o olho anestesiado por inúmeras gotas de colírio, foi a vez dela encaixar no olho uma aparelhagem que facilitaria a operação);
A dor fez com que eu gemesse, ao mesmo tempo em que tentava movimentar a cabeça.
- Assim não dá. Ou você colabora, ou remarcamos para outro dia.
- De jeito nenhum, doutora! Pode contar comigo...
- Tudo bem... olhe para o seu pé!
- Como doutora? Não estou vendo nada!
- Imagine! Como se olhasse para a ponta do nariz... Levante o queixo! Por favor, levante o queixo! E olhe para o nariz!
- Estou tentando, doutora... Tô sufocando...
- A auxiliar está tentando chegar ao seu nariz um pouco de oxigênio.
Bendita auxiliar, que por baixo daquela capa/manta sufocante, me socorria com uma lufada de oxigênio vinda daquele caninho salvador.
- Agora melhorou bastante, doutora.
- Vamos ver se dá para concluir, então? Olhe para a ponta do seu nariz!... Para a ponta do nariz! Isso! Levante o queixo! Levante o queixo! Colabora!...
- Estou fazendo o máximo, doutora! (proferir essas poucas palavras, já me sufocava. Mesmo assim, busquei forças para manter o globo ocular na posição que ela pedia).
- Isso! Isso! Mantenha nessa posição!
Por algum tempo, que para mim foi uma eternidade, mantive-me totalmente paralisado, obedecendo às instruções da doutora.
- Mais um pouquinho...
Mais uma “eternidade” naquela posição... Tudo para solucionar um problema que já se prolongava por mais de dois anos. Valia qualquer sacrifício pelo êxito da operação.
- Só mais um pouquinho... Ah... Ah... Pronto! Podem tirar aqui, e fazer o curativo.
- (após um grande suspiro, aliviado, só pude agradecer) Obrigado, doutora! Muito Obrigado!