"Ao fim das crônicas conheça os poemas do autor"

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domingo, 21 de fevereiro de 2010

ESPERANDO LEONARDO

Leonardo chegará em abril. Eu estou preocupado. A gente quer sempre oferecer o melhor a quem chega, não é verdade? E, como recebê-lo na tremenda bagunça em que estamos vivendo? Sim, porque certamente virá passar muito tempo entre nós. Como vamos recebê-lo num ambiente desses?

Na hora em que ele chegar, eu gostaria que muita coisa estivesse diferente: o ar despoluído, o mar despoluído, o rio despoluído... Que as pessoas tivessem chances mais reais e pudessem se relacionar com mais alegria. Os representantes do povo poderiam dar exemplos de honradez, de amor aos cidadãos e ao país. É verdade que de vez em quando surge um Magno Malta, um Paulo Paim, um Cristóvão Buarque... É pouco! Vez por outra, uma tênue luz se acende, “mete o dedo na ferida”, quer corrigir (como ocorre agora em Brasília). Mas, até quando? Sabemos que a praga da corrupção é forte e seus tentáculos abrangentes, as veredas cheias de vícios, e o antídoto acaba não dando o resultado esperado. O descaso com o povo sempre foi muito grande. No noticiário sobre as chuvas em São Paulo e nos estados do Sul, a gente vê o quanto ele sofre...

Enquanto a grandeza das nossas matas dá lugar à imensidão de campos de soja e abre espaços que aguçam a cobiça externa, o entrave burocrático e o caos político criam monstros que montados em tratores derrubam plantações, ameaçam e matam... A situação de pessoas que não conseguem um pedaço de terra para sustentar a família continua indefinida, restando a elas pomposas migalhas oficiais e as filas da incerteza e da miséria!

Queria, na chegada do Leonardo, poder dizer que ele desembarcou num país onde a infância é protegida; a velhice é amparada; a saúde atende a todos; a educação é democrática; a segurança, de primeiro mundo; e a justiça igual para todos. Infelizmente, a realidade é bem diferente, apesar de décadas e décadas de lições não aprendidas.

Mesmo assim, quando abril chegar, trazendo com ele o rostinho rosado e risonho do meu primeiro neto, LEONARDO, eu vou continuar torcendo para que as coisas erradas regridam, sejam consertadas, acabem, enfim, para que ele não receba apenas a paz do lar que o aguarda, o amor dos pais, as atenções, as descobertas, o cheirinho de lavanda, as suaves cantigas de ninar...

Para que eu possa, a qualquer hora, levá-lo a passear por ruas limpas, seguras, sem buracos; e por parques floridos, onde não habitem marginais ou predominem comércios ilícitos, onde LÉO e todas as crianças levadas a esses locais se habituem ao canto mavioso dos pássaros; sintam a paz no colorido e na fragrância dos roseirais e, à tardinha, com a magia do por do sol conheçam desde cedo a presença de Deus.