"Ao fim das crônicas conheça os poemas do autor"

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sábado, 20 de junho de 2009

VELHICE, BAH!...

Lysa Castro que aparece neste blog com poesia e em fotografia, do alto dos seus 91 anos, tem duas características marcantes, porém antagônicas: a seriedade e a comicidade. Elas ocupam espaço naquela pessoinha aparentemente frágil, na proporção de 50 por cento para cada uma. No momento em que fala da morte, por exemplo, (ela que mora com um filho que passa a maior parte do tempo na casa da namorada) revela a dor da solidão, diz que “Deus se esqueceu dela, mas que não tem coragem para abreviar a partida”. Já, quando recita “Aquela” que um dia já se chamou “Velhice, bah!”, em que tira o maior sarro da sua idade e dos efeitos naturais do tempo sobre o seu corpo, ela é hilária e não há quem não dê umas boas gargalhadas.
Grande responsável pela formação intelectual da família, essa influente jornalista no Rio de Janeiro pelos idos dos anos 60, viúva e morando em Campos há mais de 20 anos, promoveu festa recentemente para comemorar a aprovação de uma neta no exame de ordem da OAB. Por outro lado, as pessoas se divertem com as peripécias dessa senhora que apesar da elevada idade, sobe escada e faz qualquer outro serviço com agilidade de menina. Lysa, que raramente adoece, costuma dizer que conhece cada pedacinho do seu corpo. E quando qualquer um deles se rebela, quer falhar ou começa a doer, ela o repreende, dá pulinhos e, conforme o caso, se dependura numa barra até a parte voltar ao normal.
Acredito que de todas as coisas engraçadas acontecidas com ela de que se tem notícia, nenhuma supera a que lhe aconteceu recentemente e que, na maior tranqüilidade, me passou por telefone:
- Meu filho, você não sabe o que me aconteceu... Eu estava esperando uma visita, e resolvi abrir o portão. O Peralta faz sempre uma festa quando me vê. (Peralta é o vira-lata que ela pegou pequeno e que hoje tem um porte capaz de assustar). Nesse dia, parece que ele estava endiabrado, me cercava por todos os lados. De repente, eu tropecei e cai. Ah, foi o que ele quis! Pensando que eu era da idade dele, fez a festa. Corria para os meus pés, ia pra cabeça e quando eu tentava me levantar, me derrubava, puxando pela roupa... Quando eu podia, juntava as duas pernas e dava um chega pra lá nas costelas que ele ia longe. Mas quem disse que eu me levantava?... quando me preparava, lá vinha ele em disparada para recomeçar a brincadeira. A sorte é que eu conseguir me arrastar até o portão, e quando a moça chegou, pude lhe passar a chave...
Indispensável eu dizer da minha preocupação, mas, depois de saber que estava tudo bem, sem nenhuma fratura ou escoriação, que ela saíra ilesa da alucinante brincadeira do Peralta, restou-me dar umas boas gargalhadas com mais uma da nossa querida e imprevisível Lysa Castro!