Recentemente, tivemos uma nova premiação do Oscar para a escolha dos melhores do cinema. E, não é que Merryl Streep ou Glenn Close não sejam atrizes excepcionais, merecedoras dos maiores prêmios. Mas o cinema no contexto atual é uma coisa tão singela em relação a algumas décadas atrás...
Antes da televisão, tudo girava em torno do cinema. Em cidades pequenas eles eram certamente as atrações maiores. Lembro-me sempre dos grande filmes que assistia no Cinema Pax, de Mossoró.
O ritual era o mesmo, mas fascinava sempre. A música cessava; as luzes coloridas do imenso salão aos poucos iam se apagando; apenas uma meia-dúzia delas continuavam acesas para garantir a penumbra; “O Guarani” crescia nos seus acordes; e a gigantesca cortina abria-se lentamente para dar início ao espetáculo.
Não me lembro do primeiro filme ao qual assisti, mas com certeza, terá sido um daqueles bang-bangs que antecediam ao seriado, nas vesperais barulhentas de domingo. As vesperais eram em preto e branco. Filme colorido só em sessão noturna. Muito cedo, porém, eu comecei a assistir à sessão das sete. “O Maior espetáculo da terra” foi um dos primeiros. Um filme fantástico, do qual ainda guardo lembranças. Além da cor e da movimentação de um grande circo em turnê pelos Estados Unidos, havia o drama sentimental do palhaço Botões. Foi o primeiro filme sério a que assisti. Na época, além dos musicais da Metro, muitos filmes juvenis como “Carrossel”, “Férias no Havaí” eram frequentes no Pax. Em geral eram filmes que apresentavam o “way of life” da juventude americana: dourada, alegre, rica... De repente, o avesso da história, com Marlon Brando e James Dean, em filmes que retratavam outra realidade...
“Museu de Cera”. Foi o meu primeiro filme de terror. O vilão matava mocinhas incautas e as cobria de cera, transformando-as em belas peças de museu. As pessoas, em certas cenas se assustavam, soltando gritos de horror. Hichcock, em seguida, também assustaria muita gente com os seus filmes de suspense.
No início do Cinemascope, os bíblicos foram muito admirados. “O Manto Sagrado”, “Os Dez Mandamentos”, e clássicos, como Sansão e Dalila e “Salomé”, em que Rita Hayorth, mostrava toda a sua beleza e resplandecia na dança dos sete véus, desnudando-se para Herodes...
As chanchadas, comédias nacionais onde estrelavam Oscarito, Grande Otelo, Eliana e tantos outros, lotavam os cinema. Sem grandes recursos técnicos, elas agradavam pela alegria que conseguiam passar com muito samba, ingenuidade, brejeirice... A Atlântida era a produtora do Rio de Janeiro. Já de São Paulo, os filmes vinham através da Vera Cruz que chegou a produzir clássicos como “O Cangaceiro”, “Sinhá Moça”, além dos alegres filmes de Mazzaroppi.
Depois, vim para o Rio; depois, veio a Revolução; e os “meus” filmes foram se tornando mais raros, sendo substituídos por outras atrações ou atividades.
Os tempos mudaram, o velho Pax resistiu o quanto pode à concorrência da televisão e às investidas de novas religiões e supermercados, chegando até à fase do “pornô”... para sobreviver. Na minha última viagem, pude constatar que o templo da magia do cinema na cidade abriga agora uma das maiores lojas de roupas femininas do país. São as transformações que o progresso e o modernismo nos impõem. Fazer o quê?!...