"Ao fim das crônicas conheça os poemas do autor"

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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012


O título são dois versos do poema “Velhice, Bah!...” que virou “Aquela”, do livro “Micro Universo em Prosa e Verso” da escritora Lysa Castro, paraense radicada em Campos dos Goytacazes desde os anos 70. A autora que saíra cedo do Pará, desembarcou no Rio de Janeiro nos anos 40. Depois de ter sido auxiliar de laboratório e de escritório, enviou poemas para jornais, foi premiada, e acabou escrevendo para importantes jornais e revistas do Rio de Janeiro.
E, por que abrir esta crônica com o poema de Lysa? Poema irônico, onde ela tira o maior sarro com a idade e que é obrigada a declamá-lo onde quer que se apresente?... Primeiro, porque é uma maneira de homenagear a grande autora, companheira dos saraus campistas nos últimos 10 anos, pelo menos. Depois, para atender a um pedido de Ivoneide, de Natal, amiga nossa desde os anos que morou em Campos na última década:
- Por quê você não fala, também, da velhice?
- Fiquei dias pensando na idéia por ser um tema difícil de se falar. Acho até que existem duas maneiras de se falar sobre ele: fazendo gozação como fez Lysa Castro no “Velhice, bah!...” ou falando sério. Na segunda forma, só de pensar, a gente fica irritado. Senão, vejamos algumas manchetes policiais recentes: “Avô morre após buscar atendimento médico em vários hospitais”; “Avó é morta pelo próprio neto ao negar dinheiro para comprar drogas”; “Idoso, não resiste ao ver casa ser levado pela enxurrada, e morre”...
Há muita diferença entre o idoso europeu ou asiático e o idoso brasileiro. Lá, ele é ouvido; as suas experiências são válidas e servem sempre de exemplo. Muitos são tratados como conselheiros. No Brasil, o desrespeito tem início quando ele resolve se aposentar pensando num merecido repouso, e assiste, logo após o primeiro ano (os que foram aposentados ganhando mais de um salário mínimo quando existe a necessidade de um ganho perene), ao achatamento do seu benefício, paralelamente ao péssimo atendimento hospitalar para os menos favorecidos.
O Brasil que importa tanta futilidade, tanta bobagem do exterior por que não importa, também, o tipo de tratamento que lá é dado aos idosos? E, não apenas ao idoso, mas a toda classe mais baixa da pirâmide social, tratada aqui com esmolas oficiais. É “chover no molhado” repetir o que os nossos legisladores fazem em causa própria e da sua família, com o cinismo de Don Corleone, mas com a garantia do voto que o seu “gado” lhe proporciona a cada eleição... Para encerrar com Lysa Castro, devo dizer que, se todos tivéssemos aposentadorias iguais à sua (complementada!) teríamos certamente vidas bem mais dignas no ocaso das nossas existências.
Caso não haja mudança, a situação das aposentadorias tende a piorar já que a média de anos de vida do brasileiro aumenta progressivamente. A nossa querida Lysa quando compôs o poema “Velhice, bah!...” tinha chegado ao marco dos 80. Esse ano, mais ativa do que nunca, chegará aos 94. Pois é... antigamente, a gente chegava aos 50 numa euforia enorme por haver chegado ao “meio século de existência”. Agora, com os devidos cuidados, não é difícil chegar-se ao SÉCULO! Urge dar vida melhor a estes brasileiros da terceira idade...

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

HAJA CORAÇÃO!

Entra ano, sai ano e a novela de muitos brasileiros continua a mesma. Nós a acompanhamos pela televisão, na segurança e no conforto do nosso lar. Chocados, querendo fazer algo; ser autoridade para solucionar os problemas. Como reféns, como se aquelas figuras patéticas exigissem de nós alguma solução...

Foi tomando o meu café da manhã no segundo dia do ano, que assisti a mais um doloroso capítulo desse folhetim real, que parece não tocar jamais o sentimento das nossas autoridades. Um programa dito “policial”, que é exibido nas manhãs pela TV Record mostrou vários flashes de família de moradores de rua na última noite do ano, em três importantes capitais brasileiras: Salvador, Brasília e São Paulo. E, eu posso garantir que mais emocionante do que o desfecho da morte de Odete Reutman, ou os gritos histéricos de poderosa e desvairada “empresária” da atual novela das 9,00, da Globo, foi contemplar toda a crueza da vida desses trabalhadores brasileiros que mais pareciam animais acuados, buscando refúgio em lugares tão inóspitos.

A matéria exibida tinha de tudo: família de sem teto cuja casa o temporal levou; desempregado de aparência tranqüila que pagou pena por haver traficado droga um dia, mas que hoje tem dificuldade para conseguir novo trabalho; crianças de idades diversas, inclusive na barriga da mãe... debaixo de viadutos, convivendo, dividindo seus espaços com paredes de papelão.

Os toscos fogões estavam desativados e uma sobra de um arroz de festa de encontro de final de ano era o que havia para a sua ceia. O mais chocante é que aquelas pessoas não eram mendigos, bêbados ou loucos que perambulam pelas ruas e buscam o espaço para descansar o corpo. São famílias, gente como a gente, pai, mãe, filhos (alguns ainda na barriga, prestes a conhecer essa dura realidade!) que, de alguma, forma tentam conseguir alguns trocados para sobreviver. De que maneira? Catando material reciclável; lavando roupa para fora; fazendo biscates. São famílias que não conseguem sair dessa vida (dá para chamar de “vida” o seu cotidiano?) e, sem nenhuma solução, vão se deixando levar...

Foi nesse lugar (que nenhum ser humano merece viver!), que eles assistiram, olhando pelas frestas dos edifícios que os rodeiam, o brilho de fogos na avenida e na praia. Foi ali que eles repartiram o pouco que conseguiram, desejaram Feliz Ano Novo para todos, mesmo que saibam que a solução para a sua vida miserável está longe de uma solução.

Enquanto isso, políticos que os representam, insensíveis, em festanças milionárias, em lugares privilegiados daqui ou do mundo, se empanturram com ceias requintadas, indo mais tarde, ou sendo levado, para dormir o sono da indiferença, num país cristão que começa a se destacar entre os maiores do mundo.

Haja coração!!!