"Ao fim das crônicas conheça os poemas do autor"

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domingo, 22 de agosto de 2010

FILHO, CHAMA O ELEVADOR!

Uma incumbência muito especial, um amigo meu me confiou: acompanhar sua esposa e seu filho na visita a alguns apartamentos para aluguel. Uma exigência sua era que deveria ser na região da Pelinca, próximo a confrades da Academia Pedralva e do Palácio da Cultura. Do Espaço Garotinho e da Casa da Carne, onde atualmente são realizados os Cafés Literários Poeta Antonio Roberto Fernandes.

Com pontualidade britânica, eles se aproximam às dez horas. Feitos os cumprimentos de praxe, fomos à luta. Tínhamos primeiro que localizar o senhor Adalberto, que nos mostraria uma unidade interessante, segundo a imobiliária que os atendeu. Com o porteiro, procuramos saber preço de condomínio, qualidade da vizinhança, tamanho dos imóveis, etc. Encontramos o Seu Adalberto, mas, como estava preso a outro compromisso, sugeriu-nos que visitássemos primeiro outras unidades. Como a esposa do meu amigo havia trazido mais chaves da imobiliária, fomos conhecer outro apartamento. Um viçoso “comigo-ninguém-pode” dividia as duas portas de entrada, onde o ap. que buscávamos se encontrava. Lá dentro, o susto: no chão pisos soltos; nas paredes descascados, buracos de tamanhos diversos, na cozinha, uma mesa que deveria ser presa à parede pendia, denunciando o total desprezo. Os armários embutidos, aparentemente o que de melhor havia, infestado por cupins, observou a senhora, comerciante com o marido em cidade vizinha. O filho do casal amigo chamou a atenção do quarto de empregada também em péssimo estado.

- Engraçado, parece que nesses prédios toda empregada tem que ser anã... Comentou. Ele, que estagia num clube de futebol da cidade e possui mais de 1,80m.

Nos dirigimos ao ap. do senhor Adalberto, dois blocos adiante. Familiares cuidavam em desmontar o imóvel. O chão estava todo tomado por caixas, e numa delas um rico aparelho de jantar me chamou a atenção. Lembrei-me do poema “Os pratos de vovó”, de Antonio Roberto, e perguntei para mim mesmo: “quantas vezes ele teria sido usado...? ou será que, conforme os pratos dos versos nunca tinham saído da cristaleira?...”

Seu Adalberto explicava que ali morava a sua mãe que falecera recentemente. Mãe e filho se entreolharam. O proprietário cuidou de falar das outras vantagens: “A coluna é a mais fresca de todo o conjunto. Chega a fazer frio... se quiser alugamos com ou sem os móveis. Na verdade, se formos alugar mobiliado tenho de comprar fogão e geladeira que os daqui, a sobrinha levou...”

Já nos despedíamos, ficando de voltar com a proposta definitiva, quando uma velhinha, vizinha do lado veio ao nosso encontro:

- É o senhor que está alugando?...

- Não senhora! São os meus amigos que querem vir para Campos...

- Ah! Seja bem vinda! (falou fitando bem a esposa do meu amigo). Eu ainda estou tão chocada com a morte da minha amiga. Nós jogávamos todos os dias... mas ela era cardíaca, e começou a piorar. A ter crises... cada vez mais... até que naquela noite ela não suportou e, parece que... explodiu! Foi muito triste... (sorriu um sorriso melancólico para a esposa do meu amigo) Agora eu fiquei sem a minha parceira... tomara que a senhora venha para cá. A senhora gosta de jogar, não gosta?... Mãe e filho voltaram a se entreolhar. Assustados com aquela presença, a mãe então apressou-se:

- Filho, chama o elevador! Temos que ver outros apartamentos!