"Ao fim das crônicas conheça os poemas do autor"

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domingo, 3 de maio de 2009

O TERCEIRO PORTO

Divulgo hoje neste espaço o poema com que encaro a Terceira Idade (65 anos em 27 de abril!). Acho que a pessoa lamentar o que deixou de fazer é uma bobagem. Possuir a Vera Fischer, (que, no fundo, era desejo de todo jovem brasileiro da época) não foi, com certeza, o único desejo não realizado. Pior do que isso, considero as escolhas erradas que fazemos: trabalho ou profissão, por exemplo. E, acontece tanto, não é mesmo? Acredito que o mais importante é a pessoa saber se adaptar com fairplay à nova realidade, acreditando, acima de tudo, no Deus supremo. Bom... aí está o poema ao qual dei o título de “O terceiro porto”.

O TERCEIRO PORTO

Eis um exemplo de sonho que não vivi:
Possuir a Vera Fischer no seu esplendor!
Mas não lamento, como Borges ou Nadine,
Alguns “Instantes” não realizados da vida
Ao ancorar neste porto implacável,
Inaugurando solenemente a minha velhice...

Se dos meus pais ganhei um corpo saudável
Sem seqüelas ou maiores imperfeições,
Dele procurei cuidar sempre com desvelo,
Pois, quando se ganha um bom presente
Não se vai estragá-lo com o que não presta,
Corrompê-lo com o que não devia...

Fiz musculação no fabrico do pão;
Levantando rudes pesos de concreto...
Geravam suor, desenvolviam músculos.
Nas garotas, provocavam suspiros sutis;
E, naquelas da “luz vermelha”, os elogios
Faziam parte das aulas eróticas iniciais...

Esforços físicos, hábitos saudáveis,
Prepararam o meu corpo para as batalhas.
O velho esqueleto virou sustentáculo
Da combativa e sólida musculatura,
Que hoje aporta o limiar da velhice
Com vontade de caminhar ainda mais...

Da parte física, só me queixo da rinite
Desde cedo tratada com vacinas,
Cauterização de mucosa, (a fumaça,
Cheiro de chuurrasco no ar!) bons alívios!
Depois, a cortizona entrando em cena.
E, sempre, sempre, gotinhas para dormir.

Já o psíquico difere do físico – e como!
Como medito, meu Deus, me penitencio!...
Muito me questiono, para tudo busco razões.
Mesmo assim, no balanço geral, acredito,
O resultado é azul: tenho saldo positivo!
E tudo agradeço à minha fé em Deus.

Casamento de trinta anos: prós e contras.
Na viuvez, os filhos como herança maior;
A eles sempre busquei dar bons exemplos.
Difícil é agradar a três cabeças distintas
Que já não trazem a candura das crianças;
E com vontades muitas vezes irredutíveis.

Os meus conceitos não são os mesmos
Que viveram os meus velhos pais,
Tampouco os que vivem os meus filhos
Ou viverão, por certo, os meus netos.
O mundo é uma evolução constante
E a certeza é uma só: “O futuro está intacto”!