A cidade é o lugar onde você, por ordem natural, por conveniência ou necessidade, se descobre morando. Você pode amá-la ou não. Mas você precisa dela, da mesma forma que a cidade também precisa de você.
Caso seja necessário nela permanecer, o melhor a fazer é procurar se adaptar, tirando proveito daquilo de bom ela oferece e contribuindo como cidadão para o seu progresso. Se por algum motivo não houver como nela permanecer, não há razão para desespero. O Brasil tem milhares de outras cidades: capital, interior; quente, fria; praia, serra; tranqüila, agitada; pequena, média ou grande; com os mais variados cenários e tipos humanos. Todas falando a mesma língua que você, e com uma fraternidade que é mundialmente reconhecida, o que lhe facilitará a escolha...
Felizmente, não é esse o meu caso com a cidade de Campos, já que o nosso encontro foi consagrado como “amor à primeira vista”. Nos quase 30 anos que aqui vivo, fui aos poucos me adaptando ao modo de ser e de viver do campista: religioso, um pouco desconfiado, porém tranqüilo, alegre, chegado a um bom papo no calçadão ou num barzinho, a um futebol, um pagode, e confiante em dias melhores. É claro que as exceções existem!...
Devido à proximidade geográfica, é inegável a influência social que o Rio de Janeiro exerceu sobre a nossa cidade desde o império, revelando muitas vezes, dessa tradicional e íntima convivência, a face campista aristocrática. Mas, para quem anda pelas ruas do centro, Boulevard, Beira-rio, Formosa, Sacramento, Rosário e tantas outras que atestam a tradição campista, interagindo com sua gente simples, sente que a cidade apesar do seu porte, se revela ingênua e brejeira, cheirando a mel e a vinhoto. O seu ritmo costuma ser movimentado até o Natal; depois (período em que tira férias coletivas até o Carnaval e o campista vai de encontro ao verão em praias vizinhas), mergulha no esvaziamento e na solidão.
Quando cheguei a Campos em 1980, vindo do Rio de Janeiro, tudo era novidade. Aos poucos fui descobrindo seus prédios históricos, a imponência da Basílica de S. Salvador, em cuja praça se desenvolveram alguns dos episódios históricos mais importantes da cidade... A fé do povo, notadamente nos festejos de S.Salvador e de Santo Amaro, onde, ao lado do místico, o profano se destaca nas cavalhadas e outras atrações. Eventos que atraem milhares de fiéis e turistas à Baixada Campista, cenário de “O Coronel e o Lobisomem”, obra de José Candido de Carvalho.
Cortando a cidade, o gigante e maltratado rio Paraíba, também encanta os visitantes com trechos como a Curva da Lapa, ou à noite, com suas pontes derramando luzes nas águas plácidas e poluídas... meio assustado com tantos edifícios que se erguem a toda hora onde outrora haviam ricas mansões no próspero bairro da Avenida Pelinca, o cidadão campista toca a sua vidinha num ritual tranqüilo, típico do homem da terra.