Nos anos 60 eu estive bem no “olho do furacão” do movimento contra a ditadura militar instalada no Brasil. Participava das ações estudantis contra a cavalaria da polícia militar, na Avenida Rio Branco, no Rio de janeiro: correndo entre os carros. liberando pedras portuguesas das calçadas para serem utilizadas como armas... Nesse contexto, vi muitos carros da polícia serem incendiados, aprendi, na prática, como um jovem vestibulando luta contra um regime totalitário. Talvez, pelo fato de ainda não haver passado num vestibular de Medicina (que fora a promessa aos meus pais, quando saí de casa), eu não tenha participado ainda mais ativamente do movimento. Os universitários, por exemplo, tinham os seus diretórios que, regra geral, os apoiavam, davam guarida, enquanto eu era apenas um vestibulando que fazia refeições no restaurante estudantil Calabouço. Naquela época, o perigo era uma constante. Fazia parte do meu dia a dia. Também, com a idade que tinha, quem ia se preocupar com o tamanho do perigo? O importante era combater a Ditadura; defender a Pátria. Achávamos, simplesmente, que as decorativas pedras portuguesas, acabariam vencendo os confrontos da Rio Branco, por conseguinte, o regime totalitário implantado. Santa ingenuidade! O nosso líder estudantil, Wladimir Palmeira, com a sua voz tonitruante enchendo a avenida, era quem “comandava” a tropa de estudantes. Até que as ações da cavalaria foram se tornando cada vez mais violentas...
Vi colega com braço quebrado em confronto; outro com a mão mutilada por bomba de gás que explodira no momento em que tentou devolvê-la. E, por pouco não tive o mesmo destino do estudante Edson Luiz, morto numa noite quando os jovens chegavam para jantar no Calabouço. Presenciei, naquela noite, o pungente velório do jovem secundarista sacrificado, enquanto colegas mais exaltados pichavam as paredes com o sangue do morto empoçado no saguão da Assembleia: “Abaixo a Ditadura!” Não sei se foram as preces da minha mãe, ou se Deus me preservou para poder estar hoje aqui, dando este depoimento. O certo é que depois de cada embate entre estudantes e a cavalaria, eu me recompunha no banheiro da primeira lanchonete que encontrasse, colocava a carteira de estudante dentro do sapato e saia, misturado aos funcionários que deixavam os prédios onde trabalhavam, no final do expediente...
Hoje, vivemos situação muito parecida. Só que imposta por uma ditadura ideológica de esquerda de um grupo que quer se perpetuar no poder. Porém, em ambos os casos, as pessoas se esquecem da índole do povo brasileiro. O seu jeito pacato, família, trabalhador e cumpridor das suas obrigações. O regime ditatorial, seja de direita ou de esquerda, evidentemente, não combina com o modo de ser do brasileiro, principalmente pelo péssimo exemplo apresentado que dizem favorecer os mais humildes através de esmolas oficiais, enquanto amigos e familiares são favorecidos com polpudos empregos públicos, principalmente aqueles que os ajudem a permanecer no poder. Com certeza, não é um regime ditatorial que favorecerá o povo brasileiro, e, ainda por cima, é triste vermos o país afogado na violência, na corrupção, no descaso da saúde e da educação, no descrédito internacional. Não permitamos que a luta do Sergio Moro seja em vão!
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