"Ao fim das crônicas conheça os poemas do autor"

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quinta-feira, 19 de março de 2015

EU, MEU PAI E A POLÍTICA

       Quando eu era pequeno em Mossoró, nas conversas de família à noite na calçada (ainda não havia televisão na cidade) eu ouvia de vez em quando alguém comentar: “Fulano está bem, ganhando muito dinheiro com o emprego que o político tal arranjou para ele”. No “hum...!” cheio de reticências com o qual o meu pai comentava o assunto, eu via a maneira de censurar de um cidadão que sustentou nove filhos a custa de muita luta. 
         Desde aquela época eu comecei a enxergar Política com olhar diferente porque, juntamente com o favor oferecido, havia também, implícito, o compromisso do beneficiado e sua família com a carreira do político: era o famoso “voto de cabresto”. Isso marcou tanto a minha formação que, quando alcancei a maioridade, tendo servido o Exército e concluído o curso científico, sempre que alguém falava comigo: “Por que você não vai falar com o deputado? Ele consegue uma coisa boa para você!” Eu respondia: “Não tenho cara para isso!” E, não tinha mesmo! O exemplo do meu pai me dava a convicção de que existiam outros meios para se vencer na vida. Foi aí que eu decidi vir para o Rio.
        Vim. E, o mesmo estilo de política (“Toma lá, dá cá!”) que conheci no Nordeste, também havia por aqui. A diferença era que o Rio oferecia múltiplas oportunidades. Desistindo de Medicina, depois de dois vestibulares frustrados, comecei a fazer concursos públicos. Fiz para a EMBRATEL, recém-inaugurada, e passei. Por 10 anos trabalhei na empresa. Casei-me e, já com dois filhos pequenos, fiz concurso para o TRT. Passei novamente, indo assumir na JCJ de Campos dos Goytacazes. O ano era 1980 e com a cabeça ainda cheia de estudos para concursos, aproveitei para fazer mais um: para o Banco do Brasil (sonho de adolescente!). Passei, e fiquei no banco até 1995 quando, em razão de um PDV, resolvi sair.  Queria exercitar o Direito aprendido na faculdade, e permanecer perto da família. No entanto, pairava sobre os que não optassem pelo plano, a ameaça de serem removidos para regiões distantes no país...   
         Estou rememorando tudo isto a título de mensagem para os mais jovens. Eu sei que o tempo mudou. A concorrência em concursos públicos é bem maior. O advento da Informática, que  facilitou a vida do homem moderno e trouxe entretenimentos, também acabou com muitos empregos. Mas, há sempre chances para se lutar por um sonho, sem se ficar na dependência de político A, B ou C..., (muitas vezes maus políticos), ou coisas piores ainda... Para isso, é necessário estudar muito desde cedo. É bem verdade que a qualidade do nosso estudo básico não é lá essas coisas. E, o sonho da faculdade, hoje em dia, não está fácil, em razão da violência que tomou conta do país, principalmente nas grandes cidades onde o estudante não tem a certeza de que retornará com vida à noite para casa. Já se você optou por outra atividade que não exige tanto do intelecto, procure ser “o melhor” naquilo que se propôs fazer, e se relacione bem com todos.
       Porque, nada como você à noite deitar a cabeça no travesseiro e agradecer a Deus por tudo aquilo conseguido, para si e para a sua família, com honradez, a custa do seu trabalho! Foi este o exemplo que herdei de “Seu Juvenal”, meu pai; e, ele que eu sempre procurei honrar, procuro hoje transmitir aos mais jovens.  

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