Peço desculpas aos leitores (será que tenho algum?) pela demora de mais de um mês sem postagens neste blog. É que tive de fazer uma breve viagem ao Rio Grande do Norte. E, como, apesar das facilidades das tais milhagens, que permitem viajar até de graça em determinadas situações, o medo não me permite a aproximação de avião. Daí, enfrentar com muito garbo como se fora um adolescente, a extravagante viagem: sim, porque dois dias sentados num ônibus até o destino final, não é para qualquer um. E, o pior: num prazo de dez dias, dois dias para lá, dois dias pra cá, com apenas seis dias para resolver problemas familiares, cartorários, etc.
Depois de completar 50 anos de idas e vindas até Mossoró, com escalas em Natal ou Teresina, acho-me apto a emitir alguns conselhos para quem quiser se aventurar sozinho pela BR-101, ou pela BR-ll6. Quero dizer que antigamente, era tudo mais difícil. Ônibus desconfortáveis, sujeitos a trocas de coletivos uma ou duas vezes durante o trajeto. E, se o seu lugar fosse próximo ao banheiro? Havia quem gostasse da posição. Por exemplo, a turma da boemia que prolongava a farra dentro do carro. Antes de iniciada a viagem, eles já começavam a encher a cara. E, tome anedotas em voz alta; tome cantorias pela noite a dentro. Como se não bastassem, as crianças que “abriam o berreiro”, disputando o horário com os pinguços. Mas, isso foi a muito tempo atrás. Agora os boêmios são mais controlados (não se pode beber ou fumar dentro do coletivo) e, os bebês parecem até que entenderam o horário do silêncio. Essa última viagem quase deu para tirar cochilos entre uma parada e outra. Isso, eu, porque tem uns que basta o motorista dar a partida e eles puxam a coberta para cima do rosto e dormem até a próxima parada...
Para falar a verdade eu gostava mais dos ônibus sem ar condicionado (talvez pelo meu problema de rinite alérgica que sofre com aqueles 20 graus). Naquele tempo a gente controlava o calor pelas janelas, com a vantagem de sentir o ar saudável das manhãs brasileiras, principalmente se a época fosse de chuva.
Falando em paradas, as atuais estão bem mais modernas e asseadas do que as de antigamente. Em Feira de Santana, o ponto onde o coletivo parou tinha uma ótima aparência. Mármore para todos os lados, o banheiro com televisão, tudo muito limpo. E o salão onde servem as refeições, digno de sediar qualquer encontro importante, com um mobiliário de chamar a atenção, por incrível que pareça! É, os passageiros reclamaram dos preços; uma fatia de bolo por 6 reais, não é tão barato assim... provavelmente, o construtor de tal “palácio”, deva estar precisando do retorno. Sei lá! Mas, seria bom se em todas as paradas de ônibus tivéssemos lugares com estrutura semelhantes à de Feira de Santana.
Outra coisa que aconselho a quem for empreender viagem do Rio de Janeiro ou de São Paulo ao Nordeste, é se relacionar de cara com seu/sua companheiro/a de viagem. Afinal de contas você passará, pelo menos, mais de um dia ao seu lado. E a pessoa que lhe tocou com vizinha poderá lhe ser útil. Por exemplo: evitando que você entre em outro coletivo quando a pressa do motorista lhe convoca, buzinando sem parar. É como se ganhássemos uma família relâmpago de dois dias. Nessa viagem, um senhor que estava no banco ao lado do meu e com quem conversei bastante, esperou na porta do ônibus duas vezes, aguardando a minha chegada.
Também, para quem gosta de escrever, aquele interior singular, onde tem quem durma com as pernas para o corredor, arriscando um acidente com algum passageiro que pretenda ir ao banheiro, principalmente à noite onde o espaço é escuridão só. Pois, esse lugar, na falta de bienais, por exemplo, é um espaço interessante para fazer propaganda do seu livro. Já é a segunda viagem que eu experimento a façanha. Até porque, vendo propagandistas “atirados” como os vendedores de água, ou de doce, que invadem o coletivo na busca do seu sustento; ou assistindo a motoristas ainda tímidos a falar baixo para dezenas de pessoas, a gente se empolga e se arrisca vender o seu último trabalho. Não sai quase nada: dois na ida; três na volta. Mas vale a pena!
Provavelmente eu volte a falar sobre o tema na próxima crônica. Até lá!
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