"Ao fim das crônicas conheça os poemas do autor"

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quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

UMA HISTÓRIA DE AMOR

Hoje, eu lhes trago uma história de amor. Está tão fora de moda esta palavra, atualmente, não é mesmo? O que se vê na mídia, diariamente, é o contrário, o desamor. Por isso que ela merece ser contada... Foi entre dois seres que durante determinado período se amaram intensamente. Dois anos de perfeita união. Os amigos comentavam o bom relacionamento entre eles. Ele tímido, aos poucos foi se soltando, apresentando a companheira com orgulho. Ela o atraíra por seu carisma, seu charme, sua simplicidade. Era um mundo diferente: tudo nela lhe atraia. Daí, rolar fácil a conquista, o convívio intenso. Quinzenalmente costumavam festejar com os amigos a sua felicidade, em animados encontros que se prolongavam pela noite. Os dois pareciam o casal mais perfeito do mundo. E, se os dois aparentavam tanta união, nada mais natural que uma separação agora causasse tanto constrangimento.
Ela era um amor. Acatava os mimos que o amante lhe proporcionava, tornando-se, com isso, mais atraente e jovial, o que, a despeito da idade, exibia sem nenhum constrangimento. Conhecedora da vida, já vivera outros casos de amor antes. Mas, o parceiro atual era diferente. Cobria-lhe de atenções, de cuidados, de elogios, incrementando sempre aquele relacionamento. Muitas vezes, buscava nos antepassados da família da amada desvendar o carisma da companheira. Gostava de ir fundo nos seus pensamentos, seus mistérios, suas fantasias, suas dores, sim, porque como todo ser, ela também tinha ocasiões de carência, de necessidades diversas, e, nesses momentos ele redobrava suas atenções, seus carinhos... Um tipo de amor, talvez até ultrapassado pelos novos modelos de vida: comunicações fáceis, amores fugazes, que a mídia quase nos impõe a cada dia, de forma charmosa, mas nem sempre feliz.
Na verdade, a fantasia literária acima não se refere a nenhum relacionamento homem-mulher. Trata-se do meu caso de amor com a Academia Pedralva. Um caso daqueles tão intensos que a gente nem vê o tempo passar. Há poucos tempo, quando notei, já estava se encerrando o meu mandato. Tentei fazer o novo presidente, o que seria a meu ver, uma continuação, mas ele não topou. Para concluir alguns trabalhos, candidatei-me novamente, mas a maioria já havia se comprometido com a outra chapa...
O certo é que os dois últimos anos foram anos de luta, de fraternidade, de felicidade intensas vividas plenamente com a minha querida Academia Pedralva. Tão íntimos fomos, que considerei esta, uma verdadeira história de amor. Coisas que só o coração entende...

domingo, 6 de dezembro de 2009

CLIMA DE NATAL

- Moço, me dá uma moeda...
Levantei o olhar do chão esburacado da calçada do Palácio da Cultura, que já me tombou em outra ocasião, parei, e me voltei para a dona daquela voz:
- Que foi que a senhora falou?
- Uma moeda, moço! Para comprar um pão...
Eu havia comprado comida num restaurante próximo e, sem necessidade, mas atraído pelo cheiro especial que vinha do bacalhau, acabei gastando mais um pouco com o prato... E, estava no dilema, dar o dinheiro para a mulher “beber cachaça”? Havia sinais, inclusive de machucados pelo rosto da infeliz, tudo levando a crer que se tratava de mais um viciado na bebida. Nesses casos, não costumo dar dinheiro a quem pede, por isso questionei...
- Tem certeza que é para comprar pão, mesmo?
- É sim, moço. Estou sem comer desde ontem.
Era meio-dia. Nas quentinhas, comidas escolhidas e aquele bacalhau que eu não comia há bastante tempo me esperando, e a infeliz da mulher, magra, olhar perdido de quem já não vê mais futuro em nada, e eu, questionando se devo ou não devo dar uma moeda para uma miserável “comprar pão”...
- “Och!...” diriam alguns amigos campistas: “dar dinheiro a uma vagabunda pra tomar cachaça?...” Era a primeira vez que eu via aquele infeliz tão desprezível, vestida de andrajos, com um pano enrolado na cabeça, mais parecendo um vulto saído da escravidão. E eu ali estático, na calçada esburacada, matutando o que fazer...
- ... (a mulher não falou mais nada. Apenas me olhava esperando a minha reação)
- ... (mais alguns segundos, se passaram até que eu tomasse a decisão, que veio com uma advertência:
- Taí, mas é pra comprar o pão mesmo!... Foi quando o “outro eu” passou a me criticar pela atitude mesquinha com que eu dei aquela moeda. Com o clima de Natal instalado, eu (com o bacalhau que me enchia a boca dágua) na quentinha me esperando, fazendo questão de 1 real para dar a uma miserável... O “outro eu” me lembrou as bandalheiras de Brasília, a proximidade de Natal, a mesa posta aguardando o bacalhau, e eu fazendo questão por um real. Meu “outro eu” que quase não me deixou almoçar direito, explodiu:
- Ora, que se dane se ela foi comprar pão ou cachaça. Um real vai te fazer falta? Então não f...? Quem deveria cuidar desses infelizes não cuida. Deixa de ser mesquinho, cara! O clima do Natal já está no ar!...
Só então pude degustar tranqüilo o tão desejado bacalhau.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

FOTOCRÔNICA

É natural que a pessoa que escreve traga consigo recordações marcantes da cidade onde nasceu. Comigo não é diferente, e aí está Mossoró, o lugar onde nasci.


Foi nessa importante e iluminada cidade potiguar que eu vivi a minha infância e a adolescência. Uma infância saudável, com direito a irmãos pequenos e animas que faziam a nossa alegria. Foi aí que fiz a primeira comunhão e conclui os estudos básicos.






As transformações da adolescência trouxeram os namoros, as festas do tipo “quadrilhas”, e as de clube, incluindo o Carnaval; além do Tiro de Guerra...






A gente ia crescendo, e assistindo aos amigos partindo para o Rio ou São Paulo, alimentando a idéia de um dia também partir. Nesta foto, um grupo de potiguares, novos no Rio de Janeiro, num viaduto do Aterro do Flamengo. (Na época, o bigodão a la Doutor Jivago era moda, e eu o adotei)...


No final do aterro, próximo ao Aeroporto Santos Dumont, ficava o Restaurante Calabouço, onde estudantes secundaristas como eu se alimentavam e alimentavam um nacionalismo inflamado contra a ditadura militar. Em 68, por exemplo, participei da famosa passeata dos 100 mil, após a morte do estudante Edson Luiz num confronto com a polícia militar. Na foto, estou na 2ª fila, logo atrás dos grandes intelectuais da época que encabeçavam a passeata.

Foto: Evandro Teixeira. JB

Eu não sabia que a grande paixão da minha vida morava no Catete, próximo de mim. Um dia, fatalmente, nos encontraríamos... E, quando isso aconteceu, foi amor à primeira vista. O Parque do Flamengo foi testemunha, servindo de cenário em muitas ocasiões,...


Paixões fulminantes não conseguem esperar. E olha nós aí, na roça, jurando amor eterno. Os parentes e amigos viajaram do Rio, para conferir a “amarração”...






A fase das brincadeiras, das aventuras, passara. Agora tinha que suar a camisa para trazer o pão para casa. Numa época de emprego bons e fartos, entrei para a EMBRATEL, onde convivi durante dez anos com uma turma muito amiga. Gostava do serviço que era completar ligações internacionais, via telex ou telefone, num ambiente onde a camaradagem reinava.




Não demorou muito e, Ricardo veio aumentar a nossa alegria; três anos depois a dose se repete com Rodrigo, os cariocas da família.

O Rio agitado obriga-nos a optar pela tranqüilidade de Campos para criarmos os filhos. Aqui trabalhei um ano na Junta de Conciliação e Julgamento, de onde saí em virtude de “um sonho de criança”: passar num concurso para o Banco do Brasil...


Com a chegada do campista Roberto, a família ficou completa. Mas, essa formação durou apenas 14 anos, quando Deus chamou Neli. Vivemos anos difíceis como todos que já viveram drama semelhante. Felizmente, a minha afinidade com as letras e o meu espírito fraterno, fez com que aos poucos fôssemos retornando à normalidade.

Dentre tantos amigos conquistados ao longo dos anos, sobressai um antigo colega de banco que se destacou como grande poeta e figura de proa na cultura campista e da região. Falo do poeta Antonio Roberto Fernandes cuja convivência, notadamente através do seu Café Literário, e da Academia Pedralva Letras e Artes, muito contribuíram para que me tornasse o homem de letras que hoje sou...




...capaz de transformar uma meia dúzia de fotografias numa Fotocrônica, com o pretexto de exaltar o valor da FRATERNIDADE.

domingo, 15 de novembro de 2009

LAMENTO PELO MONITOR

Triste, muito triste, a notícia do fechamento do jornal Monitor Campista, de Campos. Não só pelo fato de ser mais uma empresa que deixa dezenas e dezenas de pais de família desempregados numa cidade onde as oportunidades são cada vez mais difíceis, mas, por sentir que o terceiro jornal mais antigo do país, em atividade, ao fechar as suas portas, encerra o ciclo de um jornal que foi testemunha da história campista, atuando sempre com correção e categoria.
O bacana do Monitor começa nas letras do seu título em estilo gótico; passa por colunas como “Campos há 50, 100 e 150 anos”; por matérias isentas de partidarismo político; por um colunismo aberto à criatividade, sem nunca fazer do noticiário policial uma atração. Por tudo isso que o Monitor Campista é tão apreciado pela família campista.
Ao ver as tristes imagens da manifestação de solidariedade em frente à sua sede, com Patrícia, Carla e tantos funcionários em lágrimas, senti um misto de tristeza e de revolta por sentir que a nossa cultura sai ainda mais enfraquecida desse fechamento.
Em momentos assim, eu fico ainda mais melancólico porque inevitavelmente vem à minha mente o “crime” que foi a demolição do Teatro Trianon – símbolo de uma época áurea da cidade! – com toda a sua pompa, e o descaso que acontece com tantos prédios históricos em lamentável estado de conservação que, a persistir a mesma mentalidade, não sobreviverão para mostrar às futuras gerações, o que um dia foi a cidade de Campos...
Infelizmente, parece que preservação da cultura nunca foi o forte da cidade... A mentalidade aqui parece ser outra: “Deu lucro?... derruba! Vende! Que importa o valor histórico de um belo solar, que abrigou figuras históricas, se em seu lugar é possível construir um rentável empreendimento? Às favas com a cultura e a história da cidade!..”
O meu protesto é de um cronista que em 1999 foi colaborador do Monitor. É uma pena que o velho Monitor, por onde passou a nata do jornalismo campista em várias épocas, venha a fechar as portas! Torço por uma possível saída que ainda possa mudar esse quadro sombrio. E, daqui mando o meu abraço de solidariedade ao Jairo e aos demais funcionários do Monitor Campista.

domingo, 1 de novembro de 2009

E, SE...

E, se... o Brasil entendesse que tem uma missão a cumprir, e que já não é mais “o país do futuro”, porque o futuro chegou?...
E, se... crianças e jovens aprendessem desde cedo a importância de cuidar do meio ambiente, como condição fundamental para a preservação da vida?... E, com relação à Amazônia, aprendêssemos a respeitar opiniões sérias, principalmente de estudiosos da região; e, o problema fosse tratado com seriedade, sem protecionismo, visando preservar a mata milenar, o silvícola, o solo nacional?...
E, se... os políticos entendessem que são representantes “do povo”, por quem devem lutar; e não apenas da “própria família e dos amigos”, a quem acham que devem beneficiar?...
E, se... nos habituássemos a copiar de outros povos não apenas a futilidade, a corrupção, a bandalheira, mas também o respeito, as necessárias punições, as leis justas?...
E, se... tivéssemos leis mais sérias, que punissem o bandido comum, mas não se esquecessem do bandido de colarinho branco, que teve boa educação, dinheiro fácil, e no fim, certo da Impunidade, age irresponsavelmente, aceitando conchavos, roubando o erário público, ceifando vidas, contribuindo para o desastre da nossa sociedade?...
E, se... o zelo pela a coisa pública fosse obrigatório e não ocorressem: medicamentos jogados no lixo, hospitais inacabados e aparelhagens de custo elevado sendo destruídas pelo tempo?...
E, se... entendêssemos que a tecnologia, a informática, que nos dá conforto e prazer, também é responsável pelo desemprego e pelo lucro cada vez maior dos empresários e banqueiros?...
E, se... os dirigentes buscassem fórmulas para a sobrevivência do povo que não fosse o clientelismo ou o trabalho informal sem nenhuma segurança física ou previdenciária?...
E, se... houvesse um entendimento de que o país é formado por incontáveis regiões e micro-regiões, e que a realidade do Leblon é bem diferente da realidade de Eirunepé; E que a concorrência desenfreada da mídia confunde e desagrega?...
E, se... houvessem oportunidades reais para que não fosse preciso o mestre, o doutor, os formandos em geral buscar a profissão de “gari” para sobreviver?...
E, se... o governo entendesse que o trabalhador que chega honestamente à aposentadoria, merece o benefício integral tanto quanto os funcionários públicos que, muitas vezes, como “afilhados políticos”, não estão submetidos ao controle do relógio, ou ganham sem trabalhar; que o trabalhador aposentado merece a velhice tranqüila com que sonhou!...
E, se... lembrássemos que Jesus nunca foi corretor de imóveis no Céu e que, certa vez, até expulsou os vendilhões da casa do Pai?...
E, se... o “filhinho do papai” aprendesse desde cedo que é o seu dinheiro que sustenta a guerra do tráfico?...
E, se... o carro com a proteção do insufilm nos vidros não tornasse “iguais” pessoas boas ou mal intencionadas?...
E, se... a motocicleta circulasse, apenas, para fins honestos?...
E, se... o trabalhador favelado fosse respeitado tanto pelo bandido quanto pelo policial autêntico, não acontecendo em confrontos tantos crimes, tantas lágrimas, tantas crianças órfãs?...
E, se... finalmente, entendêssemos que não basta proclamar que “Deus é brasileiro!” ou que “O Paraíso é aqui!”... mas que é preciso fazer por onde merecer?...

sábado, 24 de outubro de 2009

DUAS ADORÁVEIS SENHORAS

Antônia Leitão, respeitadíssima ex-vereadora de Campos, autora de
3 livros, sendo o último a sua versão da história da cidade de
Campos dos Goitacazes. Em recente conferência na Academia
Pedralva, ela informou que encontra-se agora em campanha para que
a cidade possa dispor de um "asilo de primeiro mundo". É claro que,
no país de Lula, muita coisa precisa ser colocada a nível de Primeiro
Mundo, a começar pelo caráter, pela vergonha! Que tal começarmos
pelos asilos? Nadas mais justo do que oferecer àqueles de mais idade
que necessitam de um lugar digno onde possam curtir a sua velhice,
um estabelecimento decente, com todas as condições de higiene,
assistência médica, atividades físicas, etc.
Lysa Castro, dias atrás, pegou um avião e desembarcou na Suíça.
Foi dar apoio à neta que lá mora e vai precisar ser operada. Poetisa e
cronista, autora de livros, como Antônia Leitão, na sua volta estará
publicando o seu terceiro trabalho, desta feita, uma compilação das
crônicas que escrevera no jornal Monitor Campista. E, não é a sua
primeira viagem internacional. Há dois anos já fizera viagem
semelhante, só que para a Itália.
E, o que tem em comum essas duas respeitáveis senhoras?
A coragem, a lucidez, a inteligência para continuar, aos 90 anos,
com suas vidas plenas de planos e de astral positivo. Eu não conheci
os meus avós. A não ser através dos solenes quadros, na parede da
sala de visitas. Naquele tempo as pessoas viviam menos a apartir de
determinada idade, o seu destino era uma cadeira de balanço, onde
passavam os dias. Quantas vezes fiquei imaginando como teriam
sido as férias do irmão mais velho na cada do vovô Lourenço, em
Caraúbas, descritas com muita paixão nos seus poemas evocativos.
Os tios, sim. Esses eu os conheci. Iam a Mossoró a negócios ou
cuidar da saúde. Mas, a maioria deles, não passou da casa dos 70.
Talvez, por isso a minha admiração quando me deparo com uma
pessoa longeva e lúcida.
Na sua brilhante palestra sobre o livro que lançara recentemente
sobre a história de Campos, Antônia Leitão foi saudada por Lysa
Castro, e as duas brincaram e ironizavam a idade uma da outra, mas,
falaram de coisas sérias, como o asilo de 1º mundo onde o idoso
fosse respeitado como gente. Parabéns, Antônia Leitão, pela
belíssima palestra! Parabéns, Lysa pela emocionante saudação. Não
demore! Já estamos sentindo sua falta...

sábado, 17 de outubro de 2009

ISSO É PROVA DE AMOR

A acadêmica Neiva Fernandes, que é presidente da União Brasileira de Trovadores, seção Campos, de vez em quando manda para o meu e-mail um bonito texto colhido da internet. Desta vez, ela me enviou uma mensagem sublime, porém chocante! São fotos e comentários sobre casamento de Katie: um Love Story, desses que vez em quando tomamos conhecimento, acontecem nos Estados Unidos, e tem tudo para virar filme de sucesso:
O referido e-mail conta a história de Katie, uma paciente terminal de câncer que, cadavérica, mas ricamente produzida, casa-se aos vinte um anos com o jovem Nick, de vinte e três. Com todo cerimonial, festa e alegria que requer um ato desse tipo numa rica família americana. Apenas uma coisa diferenciava Katie das noivas normais: ao lado do seu vestido de grife estava um tudo de oxigênio, que a mantinha viva, garantindo-lhe momentos mais suportáveis. Infelizmente, nem toda riqueza proveniente dos seus pais prolongaram a vida daquela inusitada noiva que falece 5 dias após o casamento...
Um ou outro leitor poderá criticar a morbidez do assunto. Por isso eu já vou respondendo: a vida não é feita só de momentos alegres, e acontecimentos trágicos acontecem também aos jovens, como neste caso. Quem já perdeu parente para esta terrível doença sabe o quanto é terrível essa realidade...
O autor do e-mail sobre o casamento de Katie, que pede para repassar, alivia um pouco o clima pesado, concluindo com este belo poema:
" A felicidade sempre está ao alcance,
Dure enquanto dure,
Por isso devemos deixar de complicar as nossas vidas.

A vida é curta, portanto
Trabalhe como se fosse seu primeiro dia.
Perdoe rapidamente;
Beije demoradamente;
Ame verdadeiramente;
Ria incontrolavelmente;
E nunca deixe de sorrir;
Por mais estranho que seja o motivo.
A vida pode não ser a festa que esperamos,
Mas enquanto estamos aqui, devemos sorrir e agradecer".

sábado, 10 de outubro de 2009

DIA DAS CRIANÇAS

Cenário: sala de estar do apartamento de uma família média alta.
Personagens: Mãe; Izabella, filha, de 8 anos; e Romarius, filho, de 7.
Ato único.

O que a garota Izabella, que já possui o baton, o himel, o estojo de maquiagem, a sandalinha, a bolsinha, as botinhas, a maria-chiquinha, a camisetinha, o dvdzinho, tudo da linha “X” altamente divulgada, e que concede status à menininha mais simples, gostaria de receber de presente no Dia da Criança? Interrompendo a leitura da sua revista favorita, “Bocas”, a mãe volta a insistir com a filha:
- Então, filha, vai querer a boneca mesmo, não é?...
- Bo-neeee-ca?! Mas... nem pensar! Quero é me inscrever no curso de modelo. Ou, então... no de estrelinha de novela!
A mãe, que costuma embelezar a filhinha com o baton, o himel, o estojo de maquiagem, a sandalinha, a botinha, a Maria-chiquinha, a camisetinha, tudo da linha “X”, se espanta:
- Mas, minha filha! Você ainda não tem idade!...
- Se não for possível, então eu quero é uma roupa indiana para a dança do ventre, igual a das meninas da novela, e um CD com as músicas. Se liga, mãe! “Boneca” tá por fora!...
- Oh, Deus!... E o meu querido “Rominha”, vai querer a bola que viu naquela vitrine?
Rominha é o apelido familiar do filho Romárius. Ele, que já possui a bola do time, a camisa do time, o calção do time, o tênis do time, o álbum do time, o caneco do time, a mochila do time, o caderno do time, o estojo do time, o lápis do time, a borracha do time; já visitou até a sede do time, quando foi ao Rio, foi taxativo:
- Quero um celular igual ao do David!
- Mas, o celular David o pai dele trouxe dos Estados Unidos, filho. E você, não já tem um?
- Mas não faz o que o do David faz! (uma pausa) Então, o Laptop!
- Você é muito novo para um Laptop!...
- Pronto: um computador. Mas, só pra mim!
- Computador? Só pra você?...
- Isso mesmo. Todo amigo meu tem computador no seu quarto. Já dei a lista que você pediu. Agora, é você quem decide!...
A mãe, já quase entrando em desespero:
- Meus filhos, ouçam bem: quando sua mãe era criança...
- Ih, mãe, sem essa de sermão, tá?! (para o irmão) Ela agora deu pra fazer sermão... igual ao pastor da televisão.
- Tá bom... tá bom... Hoje, que é dia da visita do seu pai, vou falar pra ele o que vocês querem ganhar...
- Se vier com uma bola, eu dou um bico pela janela! Tô avisando!
- E, se trouxer uma boneca, eu pego a faca do churrasco e esquartejo ela todinha, boto no saco e deixo na lixeira, igual o cara fez com a mulher na televisão...

CAI O PANO.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

FRENTE A FRENTE

Frente a Frente!!! A vinheta informa que está entrando no ar o último quadro do programa do comunicador campista Nilson Maria, pela Radio Absoluta de Campos. Depois dos quadros que falam do dia-a-dia, das noticias da TV, e do Encontro de Corações, ele encerra o seu programa vespertino com o quadro Frente a Frente, em que debatedores discutem assuntos importantes ou curiosos do dia. O número de participantes é variável. Vai do máximo de seis ao mínimo de um, quando, nervoso, o apresentador tem que se virar para dar conta do quadro, reclamando dos que “esnobam o fabuloso salário oferecido”...
Naquela segunda, Nilson Maria dá inicio a mais um Frente a Frente:
- Hein, professor Marcelo, qual a sua opinião sobre o assunto?... O professor, como de costume, inicia sua fala cumprimentando a todos: Boa tarde, Nilson Maria, Boa tarde, Dr. Carlos Alberto, Boa tarde, Dr. José Gurgel, Boa tarde, Dr. Ivan Granato, Boa tarde Nino Bellienny, Boa tarde ouvintes. Bom, eu acho... e dá a sua opinião sobre o tema. O apresentador vai em frente, querendo saber a opinião dos demais. Raramente ocorre unanimidade nas respostas. E, é essa diversidade de opiniões, muitas vezes acaloradas, que dá charme ao quadro.
Num intervalo, depois de debaterem entre outros temas, sobre as cotas nas universidades, o Dr. Carlos Alberto “Redondo”, do alto dos seus 70 anos, faz uma revelação:
- Vou fazer faculdade de jornalismo...
- Mas... como, doutor? Pergunta surpreso, ou por provocação, um dos debatedores.
- Vou! Vou sim! Enquanto tiver disposição e vontade de aprender, vou estudar!... Não vou ficar parado, não!...
Nino, que além de debatedor, também atua na mesa de operação, faz sinal para o apresentador do programa, informando que a última propaganda daquele intervalo está rodando e o som sendo reaberto para os debatedores. Como a conversa em torno do Dr. Redondo continuasse, Nilson apela, gritando:
- Gente, o programa está recomeçando! E, mais forte: Silêncio!!!
A próxima rodada de perguntas é iniciada por Nino Bellienny. De vez em quando algum debatedor manda abraço, dá aviso ou conta algo curioso. Naquele dia foi a vez de Nino narrar a aventura ocorrida com ele na sexta-feira à noite: ele e Gurgel, saindo do programa, foram assistir ao show de Elisa Lucinda, no teatro. Ao final, esperou a esposa que viria apanhá-los. No entanto, um defeito no carro obrigou-a a parar em frente ao Mercado Municipal. Resumo da ópera: Nino e Gurgel chegando ao local tiveram de empurrar o carro até onde as forças deram... A sorte é que o motorista do táxi que o casal tomou de volta para a casa, e que acabou reconhecendo a voz do radialista Nino, com seu vasto conhecimento, resolveu o problema mecânico do carro.
Naquela segunda-feira, em meio aos acalorados debates do Frente a Frente, a cidade tomou conhecimento da inusitada aventura vivida por Nino e sua esposa, mais Gurgel, em meio a uma Campos quase deserta, na primeira hora de uma fria madrugada...

sábado, 26 de setembro de 2009

PODE!... E NÃO PODE!...

Vou me valer do chavão que a comediante Fabiana Karla utiliza com muita graça no programa Zorra Total: ...Pode!!! e ...Não pode!!!
1 - Aumentar o número de vereadores do Brasil de 51.748 para 59.791... PODE!!!
2 - Aumentar o salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal, de R$ 24.500,00 para 25.723,13... PODE!!!
3 - Atualizar o rendimento do aposentado pelo INSS que ganha acima de 1 salário mínimo, pelo valor que começou a receber quando foi aposentado... NÃO PODE!!!
Tomei esses três fatos como ilustração, da mesma forma que poderia utilizar-me de tantos outros que a todo instante o governo ou seus representantes agem para beneficiar grupos, classes, políticos ou partidos, deixando sempre o povo relegado a segundo plano.
Na novela “Senhora do Destino” Flavio Migliaccio faz um aposentado que padece de alucinações por dois motivos: primeiro, por conta da “sua” morenaça (Elisangela), que morreu e que ele julga que vai reencontrá-la a qualquer momento. Segundo, por conta da sua aposentadoria. Como o personagem, o brasileiro aposentado que recebe acima de 1 salário mínimo, de certa forma, também padece dessa alucinação: distúrbio emocional proveniente da frustração de assistir anualmente à desvalorização da tão sonhada aposentadoria.
Quando se está no poder, a pessoa pode conceder aumentos à sua vontade, beneficiando mais aquele que poderá lhe dar algo em troca, e punindo, injustamente, aquele que não obstante o que já fez pelo país, hoje já não tem muito a oferecer... Os ministros do Supremo Tribunal Federal que já não ganham pouco, foram beneficiados com mais um aumento, o que fatalmente fará com que ocorram reajustes em cascata até o mais simples funcionário de um cartório de justiça. Sem contar os outros poderes que, também exigirão equiparação salarial...
É de se estranhar também o empenho dos nossos parlamentares no sentido de brigar pelo aumento do número de vereadores do país que, na maioria das vezes, nada fazem a não ser aprovar as contas do executivo municipal, conceder comendas e usufruir de benesses.
A real situação do aposentado brasileiro é bem diferente do humor da nossa televisão. Pois, enquanto nesta o “PODE!... NÃO PODE!...” dá prazer, provoca risos, na insensível e muitas vezes cruel realidade do governo o mesmo tema pode causar dores e sofrimentos a quem honestamente cumpriu a sua parte como cidadão brasileiro! E, para um governo adepto ao “toma lá dá cá”, chegado a uns conchavos e que protege Sarney, Dilma e outros do mesmo nível, e que trata o aposentado de maneira severa, dura, como se este fosse responsável pela bandalheira e pela farra com o dinheiro público, só me resta, revoltado, dizer... NÃO PODE!!!

sábado, 19 de setembro de 2009

AFRO-DESCENDENTES

Está claro que os tempos são outros: temos negros na corte maior da nossa justiça, no Congresso e no Ministério. Mas houve um tempo em que o negro de maior destaque no país era um comediante, Grande Otelo. Depois, numa amplitude maior, já que atingia o lado internacional, conhecemos Léa Garcia, Lourdes de Oliveira, Breno Mello e outros artistas afro-descendentes que, pelas mãos de Vinicius de Moraes, autor da adaptação do drama de Orfeu para o cenário carioca, estrelaram o premiado filme “Orfeu do Carnaval”. A atriz e cantora Zezé Mota também foi destaque neste cenário, com sua interpretação em “Xica da Silva”. Hoje, graças à luta dos artistas negros no país, podemos assistir ao talento e à beleza de Taís Araújo, em núcleo de novela (que não é mais o de empregados domésticos!) na vitrine mais importante do país que é a novela das 9,00 da Globo.
Todos nós sabemos que, depois da Abolição, os negros não tiveram por parte do governo o apoio dado a estrangeiros para iniciarem nova vida. Em conseqüência, tiveram que buscar sobrevivência nas cidades, inchando-as, dando origem às famosas, mas humilhantes favelas.
Durante anos os negros tiveram boas chances em apenas dois setores: no samba e no futebol, deslumbrando os espectadores do Brasil e do mundo! Pareciam ser essas as suas únicas opções profissionais, já que era fácil conseguir bons dólares através de suas performances...
Mas, a inteligência negra aliada à sua luta, demonstraram que o jovem pode tornar-se excelente profissional em qualquer área. Através do ensino, principalmente do médio, onde a Escola Técnica, Sesi, Senac e outros órgãos, tem produzido mão-de-obra qualificada que resulta em bons salários. Evidentemente, havia os que sonhavam com campos mais avançados como os centros cirúrgicos, os tribunais, etc. o que só era possível a custa de sacrifício redobrado...
Numa crônica do meu livro “A Ponte” eu falo de uma nova realidade entre os afro-descendentes, onde alguns dos seus membros desfilam carro último tipo, freqüenta shoppings, tem laptop e buscam a melhor educação para seus filhos... devido principalmente, aos bons salários que recebem como funcionários da Petrobrás, principalmente. Lembro a Petrobrás porque a proximidade que temos com as plataformas petrolíferas, nos leva a conhecer o dia-a-dia de muitos profissionais residentes em Campos. Daí ter produzido a citada crônica...
A página de hoje surgiu em razão do debate no Congresso sobre vagas para negros em universidades. Tão inteligentes e competentes quanto os brancos, está comprovado que eles são... Por isso, talvez nem fosse preciso uma lei que trouxesse esse benefício. Mas, a dívida que os governantes da época da Abolição legaram à população afro-descendente foi tão grande que, por mais discutível que possa parecer uma lei que venha beneficiar os seus descendentes, ela será uma lei justa!

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

UM EPISÓDIO LAMENTÁVEL

O episódio envolvendo Nelsinho Piquet que bateu o seu carro numa corrida de Fórmula-1 do ano passado para favorecer o seu companheiro de equipe na Renault me deixou, como brasileiro, bastante constrangido. Esse rapaz beneficiado com a fama conseguida por seu pai, não precisava se envolver num escândalo de tamanha proporção! Com a sua entrada num grupo tão restrito já facilitada, não precisava mais do que talento (comprovado com o seu retrospecto em outras fórmulas), garra (também comprovada) e... paciência. Só isso! O tempo se encarregaria do restante.
Na minha juventude, não havia tantos brasileiros fazendo sucesso nos esportes lá fora. Lembro-me de Maria Ester Bueno, tenista campeã por diversas vezes em Wimbledon; de Éder Jofre, grande campeão do boxe; de Ademar Ferreira da Silva, campeão olímpico, único brasileiro a conseguir duas medalhas individuais em Olimpíadas... todos, comprovadamente, vencedores por seus próprios méritos. Assim como os automobilistas Emerson Fittipaldi, Nélson Piquet, e Airton Senna que mais tarde, com muita luta triunfariam na Fórmula Um.
Em 1958, na Suécia, os bons ventos começavam a soprar para o nosso país. Nesse ano o Brasil se tornou campeão mundial de futebol. Título conseguido com talento, garra e paciência. O dinheiro fácil só faria a cabeça dos jogadores anos mais tarde pois, ainda em 1962, quando fomos bi-campeões no Chile, Garrincha conheceu a fama, mas chegou tarde para a fortuna e morreu pobre.
Depois, veio a consagração de ídolos isolados (Nélson e Rodrigo Pessoa, Torben e Lars Grael, Popó e Guga) e dos times brasileiros de basquete, vôlei, vôlei de praia, futebol de salão, de praia, etc., sempre com atletas com talento, garra e muita luta. Acredito que faltaram essas qualidades ao filho do grande corredor Nelson Piquet.
Infelizmente, vivemos num país onde não existem maiores referências morais. Os nossos dirigentes são os primeiros a dar maus exemplos. Um percentual muito grande deles encontra-se envolvido em corporativismo, “toma lá, dá cá”, maracutaias... A famosa Lei de Gérson (que ao fim de uma antiga propaganda televisiva, dava um sorriso meio “cínico” e dizia: “Gosto de levar vantagem em tudo. Certo?”) parece continuar em pleno vigor, o que não traz nenhum benefício à mente do jovem que busca o seu caminho.
Felizmente, por educação ou por índole, mesmo num meio adverso, os nossos jovens vão à luta! Já faz algum tempo que eles, em nome do desenvolvimento, como modernos bandeirantes, deixavam a sua casa e partiam para tomar posse numa agência qualquer do Banco do Brasil, nos confins do país; hoje, como bravos pioneiros, trabalham em alto mar para produzir petróleo e gerar divisas para a Nação; não esquecendo o que as nossas Forças Armadas enfrentam para garantir a nossa segurança. Em razão de atitudes positivas como essas, ainda é possível acreditar no futuro deste país. Mas, não assistindo a espetáculos grotescos como esse do Nelsinho Piquet...

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

CARTA AO FILHO QUE VAI SER PAI

Rodrigo, meu filho,

Você me transmite hoje a noticia mais auspiciosa dos últimos tempos: a de que vai ser pai... Desde que a ouvi, como todo avô que se preza, me sinto em estado de graça: rindo, cantando, levando às pessoas a novidade... Devo lhe dizer que nenhum tratado, obra, tarefa, que você já tenha feito ou que venha a produzir um dia, se compara a essa maravilha que é a fecundação, da qual, somos apenas intermediários, uma vez que o seu autor supremo é Deus!
Quis o destino que ela fosse acontecer neste recanto brasileiro tão bravo, tão querido, tão calorento e acalorado, que é o Piauí. Mas, quis também o destino que vivêssemos outro tempo: o da globalização. Aquele em que podemos falar e ver a imagem e a voz do outro, “em tempo real”. Tudo isso ameniza a distância que nos separa do abraço físico, porque o espiritual é uma constante.
O importante é que todos estamos torcendo para que chegue ao lar de vocês um garoto ou uma garota saudável que lhes traga muita alegria. Para tanto, junto ao amor que devota à sua mulher, você agora precisa acrescentar outro sentimento que é o do cuidado, da atenção redobrada, de que ela precisará nesses meses de espera.
Sabemos que a graça, a alegria, o encantamento do momento, que invade o coração de todos, contrasta com a violência, a corrupção, a ganância dos homens, principalmente daqueles tem mais responsabilidade que nós, homens comuns, por serem nossos representantes e conduzirem o destino da Nação. Por isso, é que se faz necessário que lutemos cada vez mais pelo bem, pela justiça, pela fraternidade, pela grandeza do nosso país, pela conservação do nosso planeta e pela propagação do amor, tão em baixa nos dias atuais... Tudo isso para que essa e todas as crianças que estão para chegar, possam viver um outro tempo, onde prevaleçam o amor, a fraternidade, a fé em Deus...
A viagem que estava planejando para revê-los, certamente será agora será encurtada e, logo logo, estarei por aí para, comemorarmos juntos a boa nova!
Que Deus cubra de bênçãos vocês e a criança que está para chegar!

sábado, 29 de agosto de 2009

CARTA A ROBERTO GÓES

Campos dos Goytacazes, julho de 2009.

Caro amigo Roberto Góes,

Nem sei se ainda mereço desculpas pela demora em responder às duas cartas enviadas pelo amigo. Ainda assim, vou tentar justificar a minha demora em respondê-las. Estou com o filho mais velho se formando pela UENF; o segundo, que é biólogo, estudando e buscando oportunidades no Piauí; e o caçula começando a trabalhar... Dentro do possível, vou administrando o meu tempo de viúvo, porque assumi o compromisso (desde que a mãe deles partiu para a eternidade) de não deixar “a peteca cair”. Infelizmente, a atividade que encontrei para preencher o meu tempo não é nada rentável e a aposentadoria, que era para nos dar uma velhice tranqüila, se desvaloriza ano após ano! Ela, a atividade literária, pelo menos, preenche o tempo e me trás alegrias, como a criação do blog http://www.paineldogurgel.blogspot.com/ pelo meu filho Rodrigo. Quer dizer, aquilo que eu fazia a título de “colaboração” para os jornais da cidade, agora faço com uma amplitude bem maior através da Internet, tendo ainda a oportunidade de criar seções como “Meus poetas, Meus amigos”, onde eu publico trabalhos de poetas que me são caros. Em breve incrementarei mais o blog introduzindo uma seção de fotos, entre outras novidades. Por outro lado, o tempo que gasto como essa obrigação, aliado às minhas atividades na Academia Pedralva e no Café Literário, me deixa quase sem nenhuma margem... Sem falar da casa (uma bagunça eterna!) e da comida que faço, de vez em quando para variar o self-service. Bom... é a vida, não é mesmo?
Falando do amigo: em primeiro lugar, conhecendo o seu drama familiar, por já ter vivido problema semelhante, quero trazer a minha solidariedade e a confiança em Deus, que é quem nos sustenta nesses casos. Coragem, amigo! Afinal, estamos todos aqui de passagem...
Voltando às suas remessas de trabalhos, sem achar que sou a pessoa indicada para a tarefa, devo dizer que gostei muito das suas memórias, principalmente quando retratam personagens de Mossoró, que também são muito meus, uma vez que lá vivemos em época semelhante. João Fernandes, Padre Mota e tantos outros que você descreve com precisão e riquezas de detalhes, me deixaram fascinado. Parabéns! Acho que você poderia criar um trabalho agrupando os seus personagens mossoroenses, ambientando-os dentro daquele cenário luminoso e quente que é próprio da cidade.
Peço desculpas mais uma vez pela demora e rogo a Deus pela saúde da sua mulher. Na expectativa de novos contatos, agora mais fáceis, graças à Informática, envio o meu abraço fraterno.

Saúde, sucesso e felicidade, deseja o amigo

José Gurgel dos Santos

sábado, 22 de agosto de 2009

UM CERTO SERMÃO

Nutro pelo Monsenhor Paulo Pedro Seródio uma grande admiração. E, não é somente pela sua oratória envolvente. O atual vigário da Catedral do SS Salvador é também um pintor de categoria, já tendo exposto aqui suas belas telas retratando o sofrimento de Jesus no Calvário. Por outro lado, no meio intelectual da cidade já ouvi alguém, num rasgo de admiração, dizer: “Amei o seu texto! Gostaria de tê-lo escrito!” Vou me valer desse entusiasmo para dizer da minha admiração não por um texto escrito, mas por um sermão pronunciado. O da missa de domingo pelo Monsenhor Seródio.
Não sei se por orientação eclesiástica ou por inspiração momentânea, o fato é que ele, mudando um pouco o seu tom eloqüente, manteve com seus paroquianos naquele sermão um quase “diálogo”, onde esses respondiam com risos miúdos a cada uma das suas falas hilárias (apesar da seriedade dos temas abordados). Disse o Monsenhor, entre outras coisas: “Acho engraçado como as pessoas ficam olhando para mim num restaurante. Por quê? Um padre não pode comer, nem beber?”... Que não aceita ser chamado de solteiro, muito menos de solteirão, porque é casado com a Igreja... Que está careca devido às luzes dos fotógrafos sobre sua cabeça nos casamentos que realiza... Sobre a vaidade feminina: “De vez em quando uma fiel chega pra mim e pergunta: - Não se lembra de mim?” “Claro que não!” A mulher fez tanta plástica que está irreconhecível! Comentou também sobre vaidade masculina: “Os rapazes agora andam tão ligados em musculação, que não usam mais camisa normal. Só camisetas para destacar os músculos sarados”.
O que mais prendeu a atenção dos fiéis, no entanto, foi quando ele detalhou o seu dia-a-dia na Pastoral dos Nômades (ciganos, gente de circo, etc.) que há alguns anos vivenciou. Contou o Monsenhor: “O sacrifício começa com o acordar, quando, fazer a higiene matinal com uma caneca d’água torna-se um ato de malabarismo. E, fazer as necessidades no mato? Eu, então, que sofro de uma prisão de ventre crônica? Quando chegava num lugar e encontrava uma privada, ficava deslumbrado! E o anoitecer? Dormir ao relento? Vocês já dormiram no chão? Para os gordinhos é um sacrifício, Não tem onde se apoiar, quando se levanta!...”
Tem ocasiões em que um gravador faz falta. Aquele sermão em que o sacerdote usou a ironia para falar do sofrimento humano, foi uma delas. Nem sempre é preciso falar difícil. Muitas vezes, a fala coloquial transmite mais do que uma enfiada de palavras eruditas. Saí da igreja leve e feliz, certo de que o filho de Deus que se fez homem e viveu entre nós defendendo os humildes e oprimidos, certamente, após esboçar um discreto sorriso, terá dado também o seu aval àquele sermão antológico.

Nota: Por falta de tempo, transcrevo do meu livro “A ponte” esta crônica sobre um sermão antológico do Monsenhor Paulo Pedro Seródio. Sem ser formal, foi uma das pregações mais brilhantes que eu tive a graça de assistir. Monsenhor Seródio também me causou impacto quando visitei a expressiva e brilhante exposição de seus quadros, sobre a agonia de Jesus.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

AMIGOS E FOTOGRAFIAS

Aprecio bastante fotografias, assim como cultivar amigos. Fotos de familiares, e depois de amigos, sempre foram um hobby para mim. A minha esposa, de quem consegui realizar belas fotos, faleceu no ano 2000. A essa altura eu fazia parte de dois movimentos culturais na cidade de Campos – a Academia Pedralva e o Café Literário – o que muito me ajudou a enfrentar “a barra” do doloroso acontecimento. Em ambos os movimentos pude constatar que, quem não pode ter “um milhão de amigos” conforme Roberto Carlos, pode certamente cultivar algumas dezenas de “amigos de fé, irmãos e camaradas”. É o que tem acontecido comigo – graças a Deus! – nos rincões que me cabem deste imenso Brasil: Campos, Mossoró e Natal. A saudável convivência com grandes amigos, resultaria em grandes momentos fotográficos.
Como a vida me deu o privilégio desta coleção maravilhosa coleção, não custa nada reparti-la com os meus mais novos amigos – muitos dos quais provavelmente nunca conhecerei pessoalmente! – que são aqueles que me dão a honra de visitar este blog. São fotografias de lançamentos dos meus livros, encontros na Academia Pedralva e outros momentos informais com familiares e pessoas que me são muito caras.
A autoria das fotos é de Avelino, Viviane, Sobral, dos meus filhos Roberto e Rodrigo, e de amigos mossoroenses e natalenses, autores de momentos marcantes da minha vida cultural. Passemos, então, a alguns desses registros fotográficos...


Aqui, com o poeta Antonio Roberto, na sua memorável criação: o Café Literário.



Com o saudoso escritor campista Waldir Carvalho e D. Zeni.


Em Mossoró, com Dorian Jorge Freire, de saudosa memória, fonte de inspiração para o meu trabalho como cronista.



Ainda em Mossoró, com o grande incentivador das letras mossoroenses, saudoso professor Vingt-um Rosado.



Em Natal, em conversa informal com o mano Tarcísio e o sobrinho Bruno.




No stand da Academia Pedralva, na 5ª Bienal do Livro de Campos, com o então prefeito Alexandre Mocaiber, e o então presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, professor Luiz Guilherme Fernandes.


Na Academia Pedralva, os grandes eventos terminam sempre numa foto coletiva. Aqui, na posse da acadêmica Jaélzia Denise (a 3ª a partir da direita).



Em Natal, a família prestigiando o lançamento do meu livro “Em Família”



No Sebo do Canindé, em Mossoró, com um grupo de poetas e intelectuais locais.



“Sêbado” é o título original deste sebo que funciona aos sábados. Na foto com o seu proprietário, o dentista Marcus Pereira, e Canindé, no lançamento do meu livro “A Ponte” em Mossoró.



Em encontro informal em Mossoró, com o cronista José Nicodemus e o grande cordelista brasileiro do momento, Antonio Francisco.


Com meus amigos e ídolos em Campos: a poetisa Lysa Castro e o poeta e comunicador mais antigo da radiofonia brasileira, José Florentino Salles (86 anos).

Obs.: Para o trabalho fotográfico que ilustra a crônica de hoje, contei, mais uma vez, com a colaboração do estúdio do meu amigo e maior fotógrafo de Campos, Dib Hauaji.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

UMA PERGUNTA

Uma pergunta: por que manter num país de tanta desigualdade, a custo incalculável, gerido por elementos que só se realizam no ilícito, um Senado que não corresponde à sua finalidade? Não estou cometendo nenhum crime com este questionamento, porque sabemos que há muitos países que são unicamerais e legislam bem. Além disso, com o fim de um senado podre, estaríamos exterminando da sociedade um câncer em fase de pré-metástase, e garantiríamos bem mais verbas para a educação, a saúde e a segurança do povo que são péssimas.
Como acreditar numa instituição onde o alvo das acusações tenta cinicamente demonstrar inocência? Onde um imaturo político quando acuado, rosna e ameaça o interlocutor com olhar satânico. E, como ainda crer numa classe onde o maior acusador do presidente, pessoa tida como impoluta pela maneira firme com que faz acusações, na verdade também faz das suas com o dinheiro público, e, quando descoberto, apressa-se a consertar devolvendo aos cofres públicos a dívida contraída com afilhado no exterior? Como acreditar?
Não sou nenhum analista político. Sou um cidadão brasileiro patético com os crimes e a bagunça generalizada provocados por senadores irresponsáveis. E, pensar que em muitos países “cabeça branca” é sinônimo de caráter, honradez e honestidade... são famosos os conselheiros orientais, que são consultados na velhice por suas experiências e conduta ilibadas. O contrário ocorre no nosso senado, onde parece que nenhuma cabeça branca merece confiança. No entanto, a despeito do pensamento de líderes e do mandatário maior da nação, favoráveis à permanência do gerador dessa bagunça, o momento é de se questionar... e muito! Para o bem de todos e da Nação. Portanto, senhores senadores pensem no País; nos pobres que os elegeram. Dêem exemplos! Comecem por ser honestos! Entendam, em seguida, que são apenas funcionários da Nação. Não seus donos!
Sabemos das duras punições a políticos que cometem delitos, em outros países, principalmente os do oriente. Lá existem penas severas para políticos corruptos. Nos Estados Unidos, político anda na linha porque sabe o rigor da lei nacional. Não quero dizer que devêssemos implantar no país, castigos físicos do tipo perda progressiva das falanges ou das próprias mãos, como prova de honestidade. Mas, convenhamos, estamos presenciando uma “casa de mãe Joana” de luxo, acobertada por um desavergonhado corporativismo, onde tudo é permitido. A lei é cada um fazer o que quiser, principalmente com o dinheiro público e depois desfilar por aí com seus sorrisos irônicos, e livres como se fosse o mais honesto dos homens.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

HERÓIS

Um “herói” nacional foi preso por não pagar pensão alimentícia. Outro “herói” há pouco tempo envolveu-se com travestis numa noitada de motel. Um terceiro “herói” desertou; não das forças armadas, mas de uma empresa que lhe pagava régio salário. É... na nossa pátria, não se concebem mais heróis como antigamente. Na verdade, o conceito de herói hoje apregoado pela mídia diverge muito do seu antigo: aquele ser que se sacrifica por uma causa, dando o seu sangue, e, se preciso, a própria vida na sua defesa.
Pelo conceito atual, herói e aquele que nasceu com sorte... Desenvolveu habilidade para determinada atividade, arranca aplausos de platéias empolgadas, e suspiros de moçoilas louras, naturais ou fabricadas. Sofre ataques firmes dessas poderosas inimigas acabando por capitular, ou seja, rendendo-se ao casamento. A sua participação em competições milionárias, leva-os muitas vezes a certas conquistas, o que lhe garante, na volta à Pátria, o honroso abraço presidencial.
Quanto engano! A nossa sorte nesse deslumbramento é que somos um país abençoado por Deus: único no mundo com tanta riqueza em tanta dimensão! Não devemos nos esquecer que se, apesar das bandalheiras, chegamos aos dias atuais sendo admirados e respeitados pelas demais nações, muito devemos aos atos de bravura de homens como Estácio de Sá, Tiradentes, Duque de Caxias, Almirante Tamandaré, e tantos heróis nacionais, que lutaram e/ou morreram para garantir aos brasileiros esta pátria imensa e rica, chamada Brasil.
Responsável pela fabricação de falsos Imperadores, Rainhas, Príncipes e Princesas a mídia deslumbrada, no afã de consagrar esta ou aquela figurinha da vez, e acostumada a dirigentes trapalhões e a constantes corporativismo dos poderes republicanos, esquece de abrir espaço para aqueles que realmente consagraram sua vida à Pátria, defendendo-a incansavelmente, seja de inimigos, seja do atraso, da prepotência, do analfabetismo, e de mazelas que travam o desenvolvimento nacional.
Os restos mortais dos nossos pracinhas que combateram nos campos da Itália, no Monumento dos Pracinha, Aterro do Flamengo, nos dá a verdadeira dimensão do significado da palavra herói. Jovens militares que deram o seu sangue pela liberdade. Além do confronto da 2ª Guerra Mundial, outros pracinhas brasileiros também arriscariam suas as vidas em outros conflitos mundiais, como o do Canal de Suez, e, nos dias atuais, pacificando uma nação de miseráveis, o Haiti. Estes, sim, com todas as letras e todos os galardões, podem e devem ser reverenciados como HERÓIS!

sábado, 25 de julho de 2009

DISSIPANDO O CLIMA

Ivoneide me ligou para avisar que recebera o livro. Aproveitou para me “puxar a orelha”, dizendo que eu estava muito “pra baixo” na minha última crônica (e não foi apenas ela a reclamar!) Aí eu falei: “Mas como estar “pra cima” num momento desses em que, para onde a gente olha, é só negatividade?...” “- Você precisa, de vez em quando, voltar a ler a mensagem da D. Cacilda, aquela senhora de noventa e dois anos, que lhe enviei?” –“ Peraí, deixa eu me lembrar...” respondi. “- É...Você não dá mesmo atenção ao que eu lhe mando....
Vou fazer uma revelação e espero que os meus amigos não se zanguem: são muitas as mensagens que chegam ao meu e-mail (cópias de algo interessante que saiu na Internet, por exemplo), o que, às vezes, torna impossível ler todas. Provavelmente, foi o que aconteceu à mensagem dela. Olhei-a de relance, e exclui... Quando abro o meu e-mail, o que não faço diariamente, me deparo muitas vezes com dezenas de mensagens... daí não poder ler tudo na íntegra. Quando eu sinto que é muito importante – como é o caso de uma que descreve as diferenças entre a gripe comum e a gripe “suina” – que ela mesma me enviou, aí é diferente: eu catalogo e dou logo um jeito de divulgá-la.
Mas, o que eu gostaria mesmo, hoje, era narrar alguma coisa engraçada, parecida com as palhaçadas de Oscarito e Grande Otelo, Cantinflas, Jerry Lewis, que a gente ia ver no cinema, para dar boas gargalhadas e deixar os problemas de lado. Atualmente, faço isso assistindo na TV a Jim Carrey, Mr. Bean, CQC, Pânico, Zorra, vídeo cassetadas e pegadinhas. São esses os programas que, hoje em dia, me fazem esquecer um pouco os dramas e as tragédias do cotidiano. Mas não é a mesma coisa do cinema, porque aqui basta entrar um intervalo e você mudar de canal, e, lá vem as maracutaias do Senado, as balas perdidas, o tráfico, as crianças caindo ou sendo jogadas dos edifícios...
Espero que esta venha dissipar o clima “pra baixo” da minha última crônica, até porque, na verdade, não estou “sentado a beira do caminho”... Recentemente me inscrevi num curso de Informática para idosos, no Centro Cultural Anthony Garotinho. A gente entende que as “feras” dos computadores são os jovens. Mas, já que a vida moderna determinou que o homem não pode mais viver sem os micros e a Internet, nós também precisamos dominá-los em todos os seus macetes e mistérios... E, é com a curiosidade com que os pequenos descobrem as primeiras letras, que me encontro com um grupo de idosos nos familiarizando, a partir dos primeiros comandos ensinados, com a magia da Informática.

sábado, 18 de julho de 2009

SENTADO À BEIRA DO CAMINHO...

De repente o filme da nossa vida vai caminhando para o final e a gente nem se dá conta... Uma expectativa aqui, uma emoção a mais acolá, uma trama mais pesada, quando a gente vê o meio do caminho já vai longe. Bendito seja Manoel Bandeira que no seu poema “Consoada”, sobre a morte, falou a certa altura: “...o meu dia foi bom, pode a noite descer...” O médico e intelectual campista Wilson Paes, no seu poema “Missão Cumprida”, em agradecimento a Deus pela vida, diz que cumpriu a sua missão e que, depois de ver crescer a sua grande descendência, está pronto para a partida. Toda a descendência, aliás, presente ao seu velório, um dos mais concorridos que a cidade já viu. A vida passa rápido e felizes são os que podem falar da morte com tanta tranqüilidade.
O avanço da Medicina nos leva a acreditar numa vida cada vez mais longa. Mas, é sempre bom, de vez em quando, fazer um flashback da nossa existência. Eu, por exemplo, alto dos meus 65 anos, começo revendo o casarão novo que meu pai construíra na Alberto Maranhão, em Mossoró, com o cheiro forte de tinta denunciando a minha rinite. O jardim de infância, o grupo escolar, o novo colégio dos padres, tão longe que parecia fora da cidade, os padres comedidos, os padres se casando, provocando comentários. O jipe do pai de Paulo que nos levava (eu, ele, Berício e Cizinho) a inocentes serenatas de Altemar Dutra em vitrolas portáteis, nas janelas das namoradas. A escola de datilografia do professor Antonio Amorim, o Tiro de Guerra, os bailinhos, as namoradas, a zona do meretrício, a partida de Mossoró.
Nessa época Roberto Carlos já era o dono das paradas, mas a música que mais me marcou não era cantada por ele, mas por seu parceiro, Erasmo Carlos: “Sentado a beira do caminho”... Depois foi a vez do Rio de Janeiro, o ano de 1968, a Embratel, o casamento, os filhos, Campos, Macaé, Banco do Brasil (um sonho retardado!), novamente Campos, um poema premiado, a atuação na imprensa local, a morte dos parentes, a viuvez.
Não sei se, na vida, fiquei mais “sentado a beira do caminho”, ou se rodei bastante pelas rodovias da vida. O que eu sei é que vivi procurando entender e respeitar o sentido da vida, um jogo bastante difícil e perigoso, que em certas horas é preciso muita fé para não tropeçar e enveredar pelos vícios, que são tantos e se apresentam tão fáceis. O que eu sei é que torço para amanhã ou depois, sereno, poder dar um alô para a morte, ou falar para Deus: “- Missão cumprida!”

sexta-feira, 10 de julho de 2009

COISA DE LOUCO

A mente humana é algo fantástico! Quando eu vejo tanta aberração acontecendo com a infância e a adolescência no nosso país, fico preocupado. Porque na realidade eu sou leigo no assunto, mas sou curioso, e sei que muita coisa que acontece ao menino ou à menina irá refletir futuramente no adulto, com maior ou menor intensidade. E, o modo de viver de um doente mental é impressionante: o seu mundo próprio; o relacionamento com as outras pessoas; suas inesperadas reações; é tudo muito subjetivo, especial.
Ao longo da vida me deparei com muitos doente mentais, inclusive, com o famoso “Gentileza”, que pregava a bondade, o evangelho, na sua pacífica caminhada pelas ruas do Rio, nos anos 60/70. Contam que a causa da sua loucura foi ter perdido a família no incêndio de um circo em Niterói. Menos famosos, mas com algum problema psíquico, lá no Rio mesmo, cruzei muitas vezes com gente no meio da multidão falando sozinho ou discutindo com o imaginário...
Já morando em Campos, tomei conhecimento de uma série de loucos que já habitaram nossas ruas. No entanto, como cheguei aqui em 1980, só conheci uns poucos. Um deles, metia medo! Não sei como a psiquiatria denomina a doença em que a pessoa tem a sua própria personalidade, mas de repente encarna outra... Eu trabalhava no centro e muitas vezes via um homem que nas horas de normalidade era livreiro e quando estava atacado, se vestia de militar, com um cacetete na mão e esbravejando ao vento. O interessante é que até fazia poesia, com o pseudônimo de Salen Rod. Por que lembrar-me de Salen Rod nesta crõnica? Porque muitas vezes quando, vestido de militar, esbravejando na praça São Salvador, ao me ver passar, vinha na minha direção falando frases ininteligíveis, como se fossem ameaças. Estaria eu representando determinado personagem que lhe fora algoz tempos atrás? Taí uma coisa que nunca vou saber. Primeiro, porque em vida, eu nunca ousei perguntar-lhe. Segundo, porque ele agora está morto.
Esse papo sobre loucura vem a propósito da magnífica interpretação que o ator Bruno Galiasso vem dando ao seu personagem, filho da Cristiane Torloni na trama. Essa, no meu entender, é uma das poucas coisas boas que acontecem nesta novela das Índias...
Como falei antes, não sou estudioso da mente humana, nem das suas complexidades. Mas, a loucura, no caso dessa novela, provavelmente deve ser caso de hereditariedade. É só observar o procedimento da mãe dele. Vocês já imaginaram como deve ter sido a infância daquele personagem do Bruno?... “Hala-baba”!!!

domingo, 5 de julho de 2009

SONHAR, NÃO CUSTA NADA–2 (ATÉ QUANDO?)

Que chato! Eu querendo escrever coisas mais leves, alegres, pra cima, e as coisas só me levando para o lado negativo... pra começar, a companhia telefônica, que não suporta um atraso por mais justificado que seja, me deixa sem telefone e Internet por mais de 05 dias. Imaginem nos dias atuais ficar sem telefone e internet por mais de 05 dias... Uma parada! O pior vem depois: você paga a conta, corre em busca de um telefone público e depois de muita busca, acha um funcionando (tudo indica que que a morte do “orelhão” foi decretada inapelavelmente!); aí começa a “via crucis” da comunicação: as tentativas para avisar à empresa que está tudo legal agora! Após dezenas de tentativas falando com secretárias eletrônicas insensíveis que costumam mandar você para diversos lugares, (só faltando mandar para aquele que você está imaginando...) Finalmente uma voz com variações humanas e que lhe dá atenção! Ufa!
Depois de alguns minutos com muito cuidado para não melindrar a funcionária (até porque é perigoso ofender funcionário público mesmo que você esteja alucinado), você angustiado entabula aquele difícil diálogo com a barulhada incrível do transito ao lado. Mas, o negócio é controlar os nervos ao máximo e resolver o seu problema... Depois que você é atendido precisa anotar um número quilométrico como protocolo, e recebe um prazo de 24 horas para a sua linha voltar a funcionar.
Agora, então, resta se acomodar no seu sofá amigo para assistir ao noticiário televisivo. É... nervoso como você está passando nesses dias, nada como um bom noticiário para ficar informado com o que acontece no país e no mundo. E, o que está acontecendo??
“Morre o ídolo Michael Jackson.”
“Sarney diz que não sai!”
“O presidente Lula apóia Sarney.”
“Sarney não é o único endemoniado!”
“O deputado do castelo é inocentado pela comissão de ética.” ÉTICA??? Estou acordado mesmo? Ou seria a continuação do pesadelo que estou vivendo esses dias? Por acaso eles estão falando a nossa língua?
“Me ajuda aí, oh!...” Datena faz um escarcéu com as notícias que lhe chegam e “baixa o cacete”, na liberação do deputado do castelo... A sua revolta e a explosão televisiva faz com que a interação “dateniana” com seus ouvinte se transforme numa enorme pilha de pizzas que chegam ao estúdio, capaz de provocar indigestão num batalhão... O pior é que além do absurdo do noticiário de Brasília, ainda temos as deprimentes notícias envolvendo crianças (tarados se utilizando da inocência de crianças cada vez mais novas) e criminosos espancando até à morte inocentes criaturas. Ou de espancamento de idosos. Até quando???

domingo, 28 de junho de 2009

SONHAR, NÃO CUSTA NADA...

Na minha concepção de garoto do interior, admirador do way of life americano que via sempre nos filmes no cinema da minha cidade, as coisas aconteciam assim: países que se destacavam no cinema ou em outras artes, eram paises de 1º mundo; assim como aqueles que incentivavam o espírito olímpico dos seus jovens; eram civilizados, também, aqueles que tinham boas universidades de fácil acesso e laboratórios onde os jovens pudessem desenvolver pesquisas científicas; bem como aqueles cujas leis fossem práticas, exeqüíveis, sem brechas para a corrupção; ainda os que, com a quantidade mínima de partidos fizessem constantes alternâncias no poder; e os que, sendo presidencialistas ou parlamentaristas, tivessem como objetivos primordiais a educação dos filhos, o bem estar da sociedade, a manutenção da ordem e a busca pelo contínuo desenvolvimento do país...
Pois é, “sonhar não custa nada”, já dizia um samba famoso... E eu sonhava que um dia chegaria ao primeiro mundo, “sem precisar sair do Brasil”. Nos meus sonhos, eu imaginava que chegaríamos ao ano 2000 com auto-estradas amplas, trem-bala interligando o país, metrôs em todas as capitais, ensino básico com horário integral para a garotada, saúde digna para o povo, e aposentadoria que não fosse achatada tão depressa, (levando aqueles que trabalharam tantos anos a sofrerem humilhações constantes!); a Amazônia sendo tratada com mais espírito ecológico e menos privilégios políticos; nos grandes centros, ações que viessem a quebrar a vergonhosa corrente “falta de instrução/desemprego/tráfico/milícias/barbarie”, e mais: o fim das prisões lotadas e desumanas, além do “prende e solta” abonado por uma justiça retrógrada, que costuma beneficiar apenas o rico...
O que parece é que o projeto do grande estadista brasileiro Juscelino Kubischek de encontrar o desenvolvimento através da integração, transferindo os poderes para o interior do país, transformou-se numa grande “ilha da fantasia”, onde cada um procura adquirir mais fortuna, desviando ilicitamente montanhas de dinheiro que poderiam, se cumprissem seus objetivos originais, mudar o destino do país. É... com a atuação desonesta e de conluio das nossas elites, o país de primeiro mundo dos meus sonhos parece ainda estar muito longe da realidade!
Mesmo assim, brasileiros sérios, talentosos e conscientes, lutaram e lutam para honrar o nome do país, e fazem aqui, muitas vezes, o que deveriam fazer os governantes. São talentos como Ayrton Senna, Fernanda Montenegro, Gisele Bunchen, Diane dos Santos, Diego Hipólito, o pessoal do futebol, do vôlei, da natação, nossos médicos, físicos, cientistas... Vencedores, eles fazem a sua parte com extrema galhardia, honrando o seu nome e o nome do país, ao contrário daqueles que ganham para serem nossos representantes, mas se acostumam com as “maracutaias” fáceis do poder e envelhecem, melancolicamente, tentando impor ao povo que “o certo é fazer o errado”!...

sábado, 20 de junho de 2009

VELHICE, BAH!...

Lysa Castro que aparece neste blog com poesia e em fotografia, do alto dos seus 91 anos, tem duas características marcantes, porém antagônicas: a seriedade e a comicidade. Elas ocupam espaço naquela pessoinha aparentemente frágil, na proporção de 50 por cento para cada uma. No momento em que fala da morte, por exemplo, (ela que mora com um filho que passa a maior parte do tempo na casa da namorada) revela a dor da solidão, diz que “Deus se esqueceu dela, mas que não tem coragem para abreviar a partida”. Já, quando recita “Aquela” que um dia já se chamou “Velhice, bah!”, em que tira o maior sarro da sua idade e dos efeitos naturais do tempo sobre o seu corpo, ela é hilária e não há quem não dê umas boas gargalhadas.
Grande responsável pela formação intelectual da família, essa influente jornalista no Rio de Janeiro pelos idos dos anos 60, viúva e morando em Campos há mais de 20 anos, promoveu festa recentemente para comemorar a aprovação de uma neta no exame de ordem da OAB. Por outro lado, as pessoas se divertem com as peripécias dessa senhora que apesar da elevada idade, sobe escada e faz qualquer outro serviço com agilidade de menina. Lysa, que raramente adoece, costuma dizer que conhece cada pedacinho do seu corpo. E quando qualquer um deles se rebela, quer falhar ou começa a doer, ela o repreende, dá pulinhos e, conforme o caso, se dependura numa barra até a parte voltar ao normal.
Acredito que de todas as coisas engraçadas acontecidas com ela de que se tem notícia, nenhuma supera a que lhe aconteceu recentemente e que, na maior tranqüilidade, me passou por telefone:
- Meu filho, você não sabe o que me aconteceu... Eu estava esperando uma visita, e resolvi abrir o portão. O Peralta faz sempre uma festa quando me vê. (Peralta é o vira-lata que ela pegou pequeno e que hoje tem um porte capaz de assustar). Nesse dia, parece que ele estava endiabrado, me cercava por todos os lados. De repente, eu tropecei e cai. Ah, foi o que ele quis! Pensando que eu era da idade dele, fez a festa. Corria para os meus pés, ia pra cabeça e quando eu tentava me levantar, me derrubava, puxando pela roupa... Quando eu podia, juntava as duas pernas e dava um chega pra lá nas costelas que ele ia longe. Mas quem disse que eu me levantava?... quando me preparava, lá vinha ele em disparada para recomeçar a brincadeira. A sorte é que eu conseguir me arrastar até o portão, e quando a moça chegou, pude lhe passar a chave...
Indispensável eu dizer da minha preocupação, mas, depois de saber que estava tudo bem, sem nenhuma fratura ou escoriação, que ela saíra ilesa da alucinante brincadeira do Peralta, restou-me dar umas boas gargalhadas com mais uma da nossa querida e imprevisível Lysa Castro!

sábado, 13 de junho de 2009

AUTOR

Desde que eu soube do concurso literário, passei a fazer expediente no minúsculo quarto de empregada, em meio a depósitos de mantimentos e objetos não utilizáveis, na intenção de transformar velhas recordações num trabalho digno do evento. Mesmo advertidos para não me interromperem, os garotos algumas vezes batiam na porta, com desculpas fantasiosas. Quando a situação se tornava insustentável, dava uma parada e recomeçava mais tarde, ocasião em que o silêncio só era quebrado pelo ronco dos carros ou pelos ruídos eletrônicos de um fliperama próximo. Era, afinal, um desafio que poderia somar pontos nas minhas investidas literárias. Daí, o meu aguçado interesse...
A minha intenção ao criar esse texto, era buscar a origem do meu interesse pela criação literária que sempre me perseguiu. Acho que tudo começou com o meu avô, Professor Lourenço, no início do século XX, na pequenina Caraúbas, interior do Rio Grande do Norte. Destacaria também os meus tios maternos, que tinham sempre divertidas histórias para nos contar nas suas visitas a Mossoró, quando lá iam a negócio ou para cuidar da saúde. E, chegaria aos meus irmãos Deífilo e Tarcísio, com criações elogiadas no campo da poesia e do conto, respectivamente. Tudo isso para chegar às minhas descobertas e aos meus devaneios literários ao longo dos anos. Arredios e desconfiados como o próprio autor...
Por volta dos doze anos, costumava matutar sobre a vida e sobre a morte com seus mistérios insondáveis. De vez em quando, transpunha alguma coisa para o papel. A mais remota experiência de que tenho lembranças foi quando, de férias em Natal na casa de uma irmã, uma noite encantado com o céu ornado por milhões de estrelas, escrevi umas quadrinhas para aplacar a saudade que sentia da minha mãe. Pela primeira vez me senti um “autor”. Um autor precoce é verdade, mas carente de elogios e de apoio. Porém, como cobrar falta de apoio literário de um pai, com seus inúmeros afazeres como dono de padaria e de uma mãe, dona de casa, que conseguiram o desafio de criar nove filhos?...
Foi no ginásio e no científico que conheceu os primeiros namoros, os amigos e as inevitáveis conversas sobre o que acontecia no mundo. Os bons lançamentos literários eram comentados, assim como o cinema, que era o máximo, com suas novidades, como o cinemascope. Confesso que nunca fui um grande leitor. Talvez o cinema, com bons e variados filmes, tenha me desviado um pouco da leitura. Lembro-me de que, cheguei a ler “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos e a coletânea de poesia “Os encantos da mulher nua”, esse - como todo adolescente da época -, curioso na anatomia feminina. De repente, um livro veio parar nas minhas mãos: “O Encontro marcado”, de Fernando Sabino, marcando a minha juventude e afastando de mim o trauma por volumes grossos e letra miúda de certas obras...
Quando dois dos meus irmãos integraram um grupo de teatro de estudantes em Mossoró, conheci uma obra que me introduziu no universo político/social:: “Eles não usam Black-tie”, de Gianfrancesco Guarnieri. E, como que num impulso, passei a escrever uma peça em que ambientava, no cenário nordestino, personagens semelhantes aos do autor. O irmão Tarcísio, àquela época, já inveterado leitor foi quem me alertou para o “plágio”. Sua generosa observação, no entanto, foi como “água fria na fervura”. De nada adiantou ponderar, dizendo que com o tempo acharia o meu próprio estilo. A minha inexperiência aliada ao meu entusiasmo pelo que havia escrito, dizia que “a peça estava pronta para ser levada aos palcos do Brasil e do mundo”. Perfeita! A realidade, porém era outra...
As minhas redações no colégio sempre receberam elogios. Por conta delas, acabei escrevendo para o programa de rádio “A voz do Estudante”. Daí para o jornal foi rápido. Como havia um espaço vazio, fui fazer coluna social. Entrevistei misses e cobri a sociedade local. Mas, veio a revolução de 1964 e uma edição inflamada do jornal, opondo-se ao movimento, foi recolhida às pressas das bancas. O jornal, temporariamente parado acabou com o meu sonho de jornalista. E aguçou outro desejo meu: ganhar a vida no Rio de Janeiro como tantos conhecidos já haviam feito. Esse era o desejo de muitos jovens nordestinos na época. Com os diplomas do Curso Científico, do Curso de Datilografia do Professor Antonio Amorim além do Certificado de Reservista me aventurei. Só que, a promessa aos pais na ocasião, foi a de estudar Medicina...
Após duas tentativas frustradas, a Medicina foi posta de lado. Passei a fazer concursos. Como Operador de Telex Internacional entrei para a Embratel que acabava de ser criada no país. Com um bom salário, pensava em me casar e já não me preocupava mais com a “bóia”, a preço simbólico, do Calabouço. Local de momentos tão marcantes da minha juventude que acabei escrevendo uma dezena de crônicas sobre o tema (uma delas, “Jurema”, acabei de publicar neste espaço). Em seguida, vieram o casamento, os filhos e 10 anos de Embratel no Rio. Depois, o TRT em Campos, e mais tarde o BB, em Macaé onde, atraído por um edital, resolvi participar do concurso literário...
Pois é... Naquele quartinho de empregada que mais parecia uma cela, no inicio dos anos 80 fiz esse trabalho, hoje apresentado com pintura nova. A primeira versão não foi classificada, mas me estimulou a continuar tentando, e ser premiado em concurso nacional de poesia anos mais tarde. Afinal, quando se busca um objetivo, todos os caminhos são válidos. E, foram essas participações que me abriram portas decisivas para que os meus desafios literários virassem realidade em Campos dos Goytacazes.

domingo, 7 de junho de 2009

CHARADA

Querendo resolver logo o problema do conserto da máquina, ligou cedinho para a oficina. Atendeu uma voz feminina: diferente, aveludada, mal dormida. Aquele “alô!” não era um alô comum: tinha musicalidade, e se perpetuava no ouvido com altos e baixos de montanha-russa:
- Al-Lo-OU-uuu!...
A princípio, quis desligar. Talvez tivesse se enganado ao teclar o número. Por outro lado, aquela voz diferente o deixara intrigado.
- Por favor, é do número “dois, sete, ..., ..., ..., ,..., ..., ... ?
- S-i-I-I-i-i-M-m... (Respondeu a voz melosa).
- Posso falar com o gerente? (perguntou ele, a essa altura imaginando que aquela voz sensual pudesse ser um novo “marketing” da oficina).
- U-u-U-a-u!... que voz bo-Niii-ta! (A curiosidade aumentou: ela não respondera à sua pergunta, e ainda elogiava a sua voz!)
- A senhora não chamou o gerente... (Insistiu)
- Não chamei porque aqui não tem gerente nenhum, bem! Tem uns seis meses que eu adquiri essa linha. (Justificou ela, atenuando um pouco aquela marcante sonoridade. Com isso, tudo ficava claro: o número era o mesmo, só que mudara de dono.)
- Que confusão! (falou ele, desculpando-se) Tomei o seu tempo...
- Não há de que se desculpar! Com essa voz de l-o-C-u-T-o-O-O-R... (Voltou a intrigante sonoridade. Ele, a essa altura, já querendo conhecê-la).
- Que tal se nos encontrássemos?
- N-Ã-o! (Para ela, a coisa não podia ser apressada. “Poderia haver decepção”. Mesmo assim, falou sobre os seus predicados, que eram ótimos: tinha mais de trinta, um metro e setenta, loura, olhos claros...
- M-a-S, A-g-O-r-a N-ã-o! D-e-P-oOo-i-s... (Há momentos em que saber esperar é muito importante. E, para garantir o retorno, ele apressou-se em informar o seu número)
- Lo-go, lo-go, Vo-Cê vai me Co-nHe-cEER m-E-L-h-o-R... Ho-je não, O-k??? (Ele, embasbacado, insistiu uma vez mais):
- E, se a gente nos encontrássemos logo mais à noite na Pelinca... Lá tem tantos lugares interessantes... Você gosta de pizza... churrasco...?
- TcHau, b-e-M-m!... Te ligo! (E, desligou. Grilado, ele pensava: “Será que ela volta a ligar?” “Ou só queria fazer hora!” “Foi tudo um trote?!” “ Vai ver, não é nada do que falou!” (aquela voz melosa martelava a sua cabeça, e ele tentando desvendar os seus mistérios. Lá pelas tantas, o telefone toca e ele se apressa)
- Al-Lo-OU! (Era ela)...

Obs.: extraída do meu livro de crônicas “A Ponte”, de 2007.

domingo, 31 de maio de 2009

O QUADRO ASSUSTA

O quadro assusta: destruição da camada de ozônio, aquecimento do planeta, degelo da calota polar, mudanças climáticas, oceanos, rios e lagos poluídos. De repente, o cidadão comum – como se não bastasse a ameaça nuclear criada pela ambição e pela insanidade humanas! – passou a conviver, mais recentemente, com ameaças causadas pelo descaso do homem com relação ao meio ambiente. Como resposta, temos assistido a tsunamis, furacões, enchentes ou secas em proporções nunca antes vistas.
O Brasil mesmo, onde sempre tivemos a ousadia de proclamar que “Deus é brasileiro”, devido aos privilégios climáticos ou geológicos que sempre nos livrou de terremotos ou furacões, por exemplo, de repente, se vê com clima completamente desregulado a ponto de nos últimos meses presenciarmos uma inversão na situação climática do país, com o Rio Grande do Sul e Santa Catarina conhecendo o flagelo da seca que devasta plantações e gado, enquanto em muitos estados nordestinos a chuva caia como nunca se vira, transbordando rios, estourando barragens, derrubando barreiras, destruindo estradas, provocando calamidades inéditas em tal magnitude.
Raquel, Graciliano, José Lins, se vivos fossem teriam hoje que descrever não a morte da lavoura ou dos animais, pela seca; não o êxodo dos flagelados para os grandes centros; a falta d’água ou a desertificação do chão nordestino; mas a devastação causada por caudalosos rios que não paravam de subir, destruindo o que estivesse pela frente.
O sertanejo que costuma esperar até o dia de São José, 19 de março, para iniciar o plantio, com a chegada antecipada da chuva este ano, não precisou fazer promessa ou romarias ao santo. Ela veio, mas em volume devastador, enquanto no Sul, o agricultor tomava conhecimento do que era a seca inclemente.
Ao homem simples, assustado com as mudanças climáticas, resta rezar e pedir clemência. Os mais atingidos (em geral, os mais pobres!) dependem de atitudes públicas, às vezes nem tão precisas, como no caso da barragem estourada no Piauí! Os dirigentes donos do mundo, no entanto, parecem ignorar o ser humano, os que vivem em área de risco por necessidade, e boicotam acordos que buscam menos destruição ambiental, deixando o planeta na iminência de uma calamidade maior e irreparável. Que Deus nos acuda!

sábado, 23 de maio de 2009

SENHORA DO DESTINO (ou quando a reprise supera a estréia)

Três fatos determinaram esta minha crônica: a escolha do poeta Antonio Francisco para compor a seção Meus Poetas, Meus Amigos; a publicação, depois de 40 anos na gaveta, do meu texto “Jurema”; e a constatação de que assistir à reprise da novela “Senhora do Destino” virou uma obrigação para mim... Publicar o meu amigo Antonio Francisco, membro da Academia Brasileira de Cordel, é uma honra para mim; trazer “Jurema” a público depois de tanto tempo, uma grande alegria... o mais difícil fica por conta de falar o que sinto sobre “Senhora do Destino”.
Não me lembro bem a razão, mas não acompanhei essa novela no seu lançamento. Agora, quando da sua reprise, me vi de repente atraído por esse clássico da teledramaturgia brasileira: a epopéia de uma nordestina que resolve encarar a cidade grande, na tentativa de resolver seus problemas familiares, e acaba bem sucedida financeiramente. Só que, para complicar a situação, a sua filha é seqüestrada logo que chega ao Rio, em meio ao caos que se instalara com a luta estudantil contra a ditadura, fazendo com que a mãe passe toda a novela na luta para encontrá-la.
Com basicamente dois núcleos (a família de Maria do Carmo na Baixada Fluminense, e a do Barão, na zona sul, representando a classe A carioca), tornou-se fácil para o autor criar os seus personagens. E, é com que maestria ele faz isso! Eu, como nordestino, me identifiquei de cara com a obra porque, por coincidência, ela tem início justamente na época em que cheguei ao Rio... A interpretação do elenco está irreparável, desde a neta “atrevida” da protagonista, sempre a questionar a madrasta (ex-paquita Letícia Spiller) até o barão, Raul Cortez, em ótima parceria com Glória Menezes; Suzana Vieira, José Wilker, José Mayer, o triângulo romântico estão perfeitos; Não diria o mesmo de José de Abreu, na novela ex-marido de Maria do Carmo; depois, vem: Carolina Dieckman, boa; Leandra Leal, ótima; Du Moskovis, bom, mas podia render tanto quanto a ambiciosa companheira. Agora, Renata Sorrah, com a sua incrível “Nazaré” é, sem sombra de dúvidas, o grande destaque de interpretação.
A minha identificação com a novela de Agnaldo Silva tem sido tanta que muitas vezes me pego emocionado, quando, por exemplo, enxergo em determinados personagens, cópias autênticas de pessoas nordestinas tão minhas. Em época de enjoado “blá-blá-blá indiando”, e de falsíssima, apesar de belíssima, vilã vivida por Letícia Sabatella, só me resta elogiar e agradecer aos responsáveis por esta obra-prima chamada “Senhora do Destino”.

sábado, 16 de maio de 2009

JUREMA

(No meu tempo de estudante e de Calabouço, escrevi alguns textos pensando publicá-los um dia. “Jurema” era um deles. Hoje, com pequenas modificações, o trago finalmente a público, comemorando as 500 visitas a este blog.)

Jurema apareceu, um dia, com pinta de mendiga vadia. Uma mulher acabada que não demonstrava tristeza no semblante. A primeira reação dos estudantes foi a mais comum: a vaia. Se ela não tivesse dado ouvidos àquela manifestação, não presenciaríamos, posteriormente, os espetáculos que a mesma haveria de protagonizar, em frente ao restaurante Calabouço.
- Mais respeito com as “senhoras”, seus v...!
Aí, a turma se interessou por ela. Mais uma vaia, novo xingamento. Um mais saliente faz um comentário malicioso. Jurema discute com ele e a turma toma partido: Ju-re-ma! Ju-re-ma! Ju-re-ma!
Os contatos iam, aos poucos, se tornando mais coloquiais, com os que já haviam almoçado agrupando-se em torno dela.
- Que é que tu faz, Jurema?
Ela, com olhar de menina assustada, fazia quase que um giro total, em torno de si mesma, encarando os jovens, um a um. A boca era funda. O riso largo denunciava a ausência da maioria dos dentes...
- Eu vou cantar para vocês... O ar se impregnava de cheiro de cachaça quando, desafinada, emitia alguns sons musicais:
- “Foi na Bahia”...
Esse foi o começo. Depois, começaram a ver as pernas de Jurema. A calçinha de Jurema. E a torcida em volta dela, a essa altura já bem concorrida, gritava:
- Strip-tease, Jurema! Strip-tease!
Passageiros de ônibus que se dirigiam ao centro ou à Zona Norte, se viravam curiosos para ver a aglomeração. Garotas mais recatadas que freqüentavam o Calabouço cuidavam em passar longe.
- Strip-tease, Jurema!
- Gente, olhe, que eu ainda não comi hoje!...
- Faz strip-tease que “chove” dinheiro. Mas faz mesmo. Olhe aí, pessoal, a Jurema está sem calcinha (era a armadilha)
- Tô sem calça, tô?...
- Êêêê!... (exclamação geral).
Caiu a primeira moeda no círculo. Caiu a segunda. E muitas outras repicaram na calçada num incentivo àquele espetáculo grotesco, pago com algumas moedas, troco do almoço ou do transporte: uma mulher sem casa, sem comida, sem destino, com uma vida desgraçada, conseguindo alguns trocados de uma juventude estudantil atuante para exibir, como atração, o que restava de si, do seu corpo... O auge do espetáculo era o strip-tease.
- Mas tira “tudo”, Jurema!
- Olhe as moças na fila!... ponderava ela.
- Elas não estão vendo, não. Tira logo a roupa, Jurema!
- Fazia-se tímida. Sentava-se num caixote que arrastava, no qual guardava alguns pertences, como coberta velha que a aqueceria à noite sob uma marquise qualquer, e de repente, ficava calada.
- Assim não vale, Jurema. Tem que fazer strip-tease senão não “chove” mais dinheiro (Mais duas moedas vindas de direções opostas, foram se encontrar no meio daquele picadeiro). Ela meio desengonçada, ela se apressa a recolher.
- Tá bem. Então, faz “paredinha”...
- Vamos juntar todo mundo. Faz “paredinha”, pessoal!
E, dentro de alguns instantes, para maior entusiasmo da turma, o vestido surrado de malha verde-abacate era levantado acima dos seios, deixando à mostra um corpo de mulher desgastado pelo tempo e pela vida desregrada.
Tornou-se popular. Era notada à distância. Às vezes chegava sambando ou imitava miss desfilando em passarela. Aí, suspendia a saia bem acima do joelho, para dizer que estava de mini-saia.
- Jurema!!!
A obra que o governo – a título de urbanização do local, mas, seguramente, com o intuito de desmobilizar a classe estudantil – iniciara, ao lado do restaurante, atingiu, não só a tranqüilidade dos estudantes, que se movimentavam, bolando planos de resistência, com vistas ao pior... A temporada “estudantil” de Jurema também fora atingida em cheio, e entrava em declínio. Isso, porque, com a mudança do tráfego, que fora desviado para a pista de frente do restaurante, acabava o local onde os “shows” eram realizados. Os próprios estudantes estavam agora mais preocupados com o fechamento do restaurante... E, se engajavam na luta!
Houve um dia em que ela resolveu mudar de tática. Quando os estudantes foram chegando à noitinha, para o jantar, encontraram-na de braços levantados, defendendo os direitos ameaçados daqueles jovens.
-...porque eu também sou “mãe e sou brasileira”! E quero que meus filhos tenham colégio pra estudar, e Calabouço pra comer!...
A turma já não lhe dava mais atenção, porque lá dentro havia atrações mais inflamadas saudadas por caloroso batimento de talheres sobre bandejas de aço. Conclamando, de cima de uma mesa estrategicamente colocada num canto do salão, o orador proclamava:
- Companheiros!!!
E, numa noite, em que o pessoal discutia na fila as últimas medidas tomadas pelo governo e a brutalidade da polícia nas manifestações estudantis, Jurema apresentava o seu show mais verdadeiro e pungente, jamais mostrado no Calabouço.
- Eu tô com fome... vocês gostavam quando eu fazia strip-tease, não gostavam?... eu quero comer... se não me derem comida, eu vou deitar aí!... E deitou-se na pista, soluçando convulsivamente, indiferente aos estudantes que nervosos discutiam na fila, buscando saídas para a crise com a polícia que naqueles dias atingia o seu clímax, ou aos motoristas que, admirados com a cena patética, tentavam desviar seus veículos...