Nutro pelo Monsenhor Paulo Pedro Seródio uma grande admiração. E, não é somente pela sua oratória envolvente. O atual vigário da Catedral do SS Salvador é também um pintor de categoria, já tendo exposto aqui suas belas telas retratando o sofrimento de Jesus no Calvário. Por outro lado, no meio intelectual da cidade já ouvi alguém, num rasgo de admiração, dizer: “Amei o seu texto! Gostaria de tê-lo escrito!” Vou me valer desse entusiasmo para dizer da minha admiração não por um texto escrito, mas por um sermão pronunciado. O da missa de domingo pelo Monsenhor Seródio.
Não sei se por orientação eclesiástica ou por inspiração momentânea, o fato é que ele, mudando um pouco o seu tom eloqüente, manteve com seus paroquianos naquele sermão um quase “diálogo”, onde esses respondiam com risos miúdos a cada uma das suas falas hilárias (apesar da seriedade dos temas abordados). Disse o Monsenhor, entre outras coisas: “Acho engraçado como as pessoas ficam olhando para mim num restaurante. Por quê? Um padre não pode comer, nem beber?”... Que não aceita ser chamado de solteiro, muito menos de solteirão, porque é casado com a Igreja... Que está careca devido às luzes dos fotógrafos sobre sua cabeça nos casamentos que realiza... Sobre a vaidade feminina: “De vez em quando uma fiel chega pra mim e pergunta: - Não se lembra de mim?” “Claro que não!” A mulher fez tanta plástica que está irreconhecível! Comentou também sobre vaidade masculina: “Os rapazes agora andam tão ligados em musculação, que não usam mais camisa normal. Só camisetas para destacar os músculos sarados”.
O que mais prendeu a atenção dos fiéis, no entanto, foi quando ele detalhou o seu dia-a-dia na Pastoral dos Nômades (ciganos, gente de circo, etc.) que há alguns anos vivenciou. Contou o Monsenhor: “O sacrifício começa com o acordar, quando, fazer a higiene matinal com uma caneca d’água torna-se um ato de malabarismo. E, fazer as necessidades no mato? Eu, então, que sofro de uma prisão de ventre crônica? Quando chegava num lugar e encontrava uma privada, ficava deslumbrado! E o anoitecer? Dormir ao relento? Vocês já dormiram no chão? Para os gordinhos é um sacrifício, Não tem onde se apoiar, quando se levanta!...”
Tem ocasiões em que um gravador faz falta. Aquele sermão em que o sacerdote usou a ironia para falar do sofrimento humano, foi uma delas. Nem sempre é preciso falar difícil. Muitas vezes, a fala coloquial transmite mais do que uma enfiada de palavras eruditas. Saí da igreja leve e feliz, certo de que o filho de Deus que se fez homem e viveu entre nós defendendo os humildes e oprimidos, certamente, após esboçar um discreto sorriso, terá dado também o seu aval àquele sermão antológico.
Nota: Por falta de tempo, transcrevo do meu livro “A ponte” esta crônica sobre um sermão antológico do Monsenhor Paulo Pedro Seródio. Sem ser formal, foi uma das pregações mais brilhantes que eu tive a graça de assistir. Monsenhor Seródio também me causou impacto quando visitei a expressiva e brilhante exposição de seus quadros, sobre a agonia de Jesus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário