Mossoró certamente está mais triste. Partiu para o céu na semana passada a mítica Nazira, filha de D. Tonha e S. Quincas Gomes, irmã de Nilza, Neuza, Naíde, Nilde e Neide, pelo time feminino, e Nilo, Nicomedes e Nemézio, pelo masculino, se não me falha a memória...
Nos anos 50 e 60, não havia televisão na cidade. Informática, Internet eram "ficção científica". Mas, em compensação, havia dois clubes sociais com bailes semanais, dois cinemas com filme novo praticamente todos os dias, salão de sinuca, churrascaria que avançava sobre o rio Mossoró e zona do meretrício onde o sexo pago era festejado todas as noites. Além de praças ajardinadas onde garotas bonitas passeavam e trocavam olhares com rapazes interessados em namoros. Os bairros mais distantes com ruas sem asfalto sofriam com a poeira. E, era nessa mágica cidade que Nazira morava, apesar de viver num mundo só seu...
Qualquer descuido familiar significava uma fuga incrível que podia levá-la rapidamente a qualquer ponto da cidade. Da rua do comércio, onde uma loja qualquer a atraía com o brilho de uma pulseira de miçanga, aos pontos mais distantes, familiares (ou não!), onde as damas da noite a respeitavam e cuidavam de providenciar o seu retorno ao lar, ela tinha uma compulsão pela fuga de casa. Tantas e tão frequentes se tornaram as suas fugas, que restou ao velho Quincas providenciar a colocação de uma corrente junto à sua rede, fixada à parede, o que mantinha Nazira em casa, para o sossego dos familiares. Mesmo assim, em razão das suas constantes fugas, como que um folclore. muitas histórias surgiram, como esta em que ela apressada, em fuga, tromba com um cego:
- Você parece que vem "cego"! fala ela. E o ceguinho:
- E você, parece que vem "doida"!
É incrível como certos personagens ficam gravados em nossa mente para a vida toda. Nazira, que foi vizinha nossa da Souza Machado, foi uma dessas pessoas. Não havia viagem que fizesse a Mossoró que não fosse visitá-la. Levando sempre uma pulseira ou outro acessório que alegrasse a sua fantasia. Porque, se não levasse a cobrança era inevitável.
- Hei, não trouxe a minha pulseira, não!...
Nazira partiu para uma boa. Com certeza, será mais um anjo no céu. Livre da severa vigilância familiar. Se bem que a corrente, em razão da sua idade avançada já fora aposentada, ficando a vigilância bem mais light.
Mossoró, não possui mais sinuca no Bar Suez; cinema, no Cine Pax; nem bailes, nos clubes ou na churrascaria. O Clube Ipiranga, bem em frente à casa de Nazira, sucesso no meu tempo de adolescente, sem restauração, cai aos pedaços. Tudo leva a crer que, com a era do petróleo e de outros empreendimentos, o romantismo não tem mais vez. Quem sabe se Nazira, na inocência das suas fantasias, de repente, lá do céu, não consegue de volta um pouco do romantismo daquela época para os dias de hoje.
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