"Ao fim das crônicas conheça os poemas do autor"

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sábado, 30 de outubro de 2010

LEMBRANDO O POETA

O poeta Antonio Roberto, que nos deixou há quase dois anos, gostava, de vez quando, no comando do Café Literário, de falar esta trova: “Poeta não é somente/ quem faz verso sobre um tema/ poeta é principalmente/ quem faz da vida um poema”. Uma bela trova filosófica por ele utilizada quando queria se referir a alguém que, embora não sendo poeta, levasse a vida com lirismo.

Confesso que o meu relacionamento com ele, embora lhe devesse alguns favores literários, não era dos mais íntimos. Eu o conhecia do banco em que trabalhamos, sabia da sua fama de poeta, mas, só quando nos aposentamos é que passamos a ter mais contatos. Ele, diretor da Biblioteca Municipal, com muitas idéias na cabeça; eu, viúvo recente, buscando na literatura uma ocupação. No sub-solo do Palácio da Cultura, onde fora improvisada uma sala de aula, freqüentei junto com Walnize Carvalho, Sueli Petrucci e outros amigos amantes das letras um curso sobre Poesia, por ele ministrado.

Pouco tempo depois, ele criaria o seu Café Literário. Cheio de atrações, como era do seu feitio. Emocionante era ver a sua luta para apresentar grandes atrações a cada noite. Num dos nossos primeiros encontros, a poetisa Lysa Castro reservou a sua cadeira cativa naquela atração literária. Tão carismática quanto o poeta, ela apesar da idade avançada, enriqueceu bastante os nossos saraus com os seus versos e a sua cultura. Para mim foi uma dádiva conhecer esses dois.

Eu me lembro de dois fatos curiosos vividos por nós três. Primeiro, um revellion que deveríamos passar degustando vinho e salgadinhos na casa de Lysa, “jogando literatura fora”... O papo ia longe e pensávamos (eu e Lysa) que fosse entrar pela madrugada. Mas, a certa altura, ele foi interrompido pelo poeta dizendo que já ia, pois precisava dar atenção a D. Djanira, sua mãe que, idosa e adoentada, gostava que ele estivesse sempre por perto. E, se foi, privando-nos de uma passagem de ano muito especial... De outra feita, retornando de um encontro literário em Cambuci, já quase meia-noite, seu carro pifou próximo a Campos. A noite era chuvosa. Mas, quem disse que o poeta ficou nervoso? A sua preocupação era uma só: não atrasar muito, por causa da mãe. Felizmente, veio a ajuda e logo chegamos a Campos...

Muitas opiniões a respeito daquele poeta tranqüilo, culto, amigo, franzino na aparência, mas gigante quando entrava na seara da literatura, ainda serão emitidas. E, nada mais justo que ele seja sempre lembrado por tudo que fez pela cultura da região.

Há dois anos, na primeira reunião realizada na Academia Pedralva após a sua morte, o acadêmico Roberto Acruche, em meio a um pronunciamento inflamado, perguntou: qual o poema mais bonito deixado por Antonio Roberto? Diversas opiniões já eram ouvidas pelo salão lotado, quando ele interrompeu:

- Nenhum desses, senhores! Seu maior poema foi a sua Lição de Vida! E, não houve quem não concordasse com ele...

3 comentários:

Roberto Pinheiro Acruche disse...

Poxa!... Bom, excessivamente bom, parabéns! Abraços...

Ivoneide Lima de Góis disse...

José Gurgel,
Hoje pela manhã quando destaquei a folhinha do dia 01/11 uma citação levou-me a lembrar o nosso poeta Antonio Roberto.
A citação é do Syathélabo onde ele diz: Aos que a certeza da morte entristece, a promesa da imortalidade consola.
Antonio Roberto, é imortal.Parabéns!Ivoneide.

walnize carvalho disse...

Doces lembranças!
Walnize