Meu cunhado Epaminondas chegou aos 80 anos e, apesar do mal de Parkinson, mantém a serenidade que sempre o acompanhou ao longo dos anos, aliada a um espírito atuante, idealista, capaz de se inflamar quando instigado. Funcionário de carreira do Banco do Brasil, banco que levava legiões de brasileiros a se prepararem para seus concursos, verdadeiros vestibulares, com a diferença de que o pretendente a uma vaga não tinha direito de escolha da agência para tomar posse, como o vestibulando escolhe a faculdade para cursar. Com muito esforço e dedicação ao banco, ele construiu aos poucos um respeitável patrimônio que garantiu conforto à família, e boa educação aos filhos. Esse potiguar de Angicos, além da carreira profissional que viveu, manteve-se sempre atualizado, através dos livros, revistas semanais, enciclopédias, discos, fitas, CDs, etc., trazendo para dentro de casa o melhor da cultura publicada no país.
Eu ainda era garoto quando ele conheceu a minha irmã Dodora em Mossoró, por quem se interessou... Obedecendo ao costume da época, namorou, noivou, para só depois casar. Preso ao seu compromisso profissional ele, só depois de aposentado, resolveu trazer à tona a sua veia poética que, entre o humorístico e o social, descreve de maneira singela algumas situações e emoções sentidas, no passado, principalmente.
É bem interessante a maneira como ele expressa o seu primeiro encontro com a mana Dodora: “Conheci uma garota/ numa praça em Mossoró/ com rabinho-de-cavalo/ bonita como ela só./ Com jeitinho inocente/ e astúcia de serpente/ fisgou este (feliz) brocoió./ Logo dois anos depois/ lua-de-mel em Fortaleza/ tudo era sonho e magia/ muita felicidade – que beleza!/ Não tenho de que reclamar/ nosso destino é amar/ hoje e sempre, com certeza!/ Quando casei com você/ não existia computador/ fui movido, pode crer/ somente pelo amor./ Para felicidade e prazer/ Padre Humberto abençoou...” Não fosse a dedicação integral, o amor devotado ao banco, sobrasse um pouquinho mais de tempo para a arte de Bilac, Bandeira, Drummond e Quintana, certamente um maior número de poemas interessantes conheceríamos dele.
Outra coisa. Em conversa informal que tivemos dia desses, ele me contou que gostaria de também mexer na nossa Gramática: “Não é de hoje que penso no assunto. Começou quando os filhos recorriam a mim, para tirar suas dúvidas de português. E elas foram tantas, que a coisa cresceu. Hoje, se houvesse interesse de alguma editora, eu levaria à frente o meu projeto de reforma da gramática."
Bom, esse é o meu cunhado Epaminondas. Uma daquelas pessoas que chamam a atenção pela simplicidade, e que a gente não imagina do que são capazes de produzir e de criar. Saúde, cunhado, e boa sorte!
"Ao fim das crônicas conheça os poemas do autor"
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segunda-feira, 21 de junho de 2010
terça-feira, 15 de junho de 2010
NORDESTE A 40 HORAS
Depois de um mês de férias pelo Nordeste para visitar familiares e conhecer o mais novo membro da família (o meu neto piauiense, Leonardo), estou de volta para dividir com os amigos leitores o que foi esse mês de viagem a Natal e Mossoró, no Rio Grande do Norte, e a Teresina, no Piauí. As pessoas se assustam quando eu falo que viajo quarenta horas de ônibus galgando esse imenso país como se fora um longo carinho no corpo da pessoa amada... é assim que me sinto quando viajo por terra, pelo Brasil: aflora em mim sentimentos de amor, pátria, chão, gente simples, garra, aspiração, desejos... Essa viagem que se findou no último dia 10, mais uma vez, apesar dos apelos familiares para que viajasse de avião, não abri mão de fazê-la por terra... e não me arrependi, tantos são os sons, as visões, as cores com que nos deparamos a cada instante, em cada lugar alcançado. É bem verdade que os cheiros da Mãe Natureza ficaram um tanto prejudicados com os ônibus “executivos”. Bom mesmo era abrir a janela madrugadinha e sentir o cheiro das plantas orvalhadas que ladeiam a rodovia.
Claro que imprevistos acontecem. Na viagem de ida, antes da primeira parada em Vitória, sofri um bocado com o frio no interior do veículo. Para não incomodar os passageiros, permaneci na minha poltrona no meio do ônibus sofrendo com uma temperatura de 20 graus, já que não havia mais mantas em cada poltrona que aqueciam os passageiros. Depois de buscar agasalhos nas malas e tomar um descongestionante para aliviar a rinite, tive a resposta do motorista para o fim das mantas no veículo:
- Elas foram sendo levadas, levadas, como se os passageiros pensassem: “faz parte do pacote da passagem!” Como não houve reposição, os mais desavisados sofrem...
Como falei acima o asfalto está “um tapete”, como deveriam ser todas as rodovias do país, não apenas as principais. Afinal, todos pagam seus impostos e carecem de um mínimo de conforto, longe da poeira e dos atoleiros... Bom, depois de 40 horas de uma viagem que cortou os estados do Espírito Santo, da Bahia (que consome quase um dia inteiro!), Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Paraíba, chego a Natal e sou recebido pelo mano Tarcísio, que deu uma pausa nos seus afazeres literários para me buscar na rodoviária de Natal. A alegria pelo reencontro, as novidades relatadas no trajeto rumo à sua casa, os empreendimentos imobiliários que surgem de todos os lados nesta dinâmica Natal, tudo contribuiu para encurtar o trajeto e logo chegávamos à casa.
O cheirinho da boa comida regional já foi sentido na entrada. E, a surpresa preparada pela cunhada Ione, foi “uma covardia”: carne de sol como carro chefe, acompanhado da passoca, do arroz de leite, e do suco de mangaba. Ave Maria!... diante de tanta maravilha gastronômica há tanto tempo privado, nem sentia mais a reclamação da coluna por tantas horas sentado no ônibus. Mas, aquela deliciosa recepção tinha hora marcada. É que a mana Dodora nos aguardava... fazia questão que eu ficasse na sua casa. Firme, não abria mão de me hospedar, segundo Tarcisio. O que ela confirmou na minha presença:
- O combinado foi o seguinte: Rodoviária e passeios pela cidade, é por conta dele. Estadia, é comigo! (Dodora, a mãezona acostumada com tantos filhos e netos estende aos irmãos distantes a tarefa do acolhimento na capital potiguar.) E concluiu: Já está tudo resolvido. Vai ficar no quarto do Ricardo. Preparei tudo!
É. Trato é trato, e assim foi feito entre eles. Eu apenas concordei com tanta cordialidade.
Claro que imprevistos acontecem. Na viagem de ida, antes da primeira parada em Vitória, sofri um bocado com o frio no interior do veículo. Para não incomodar os passageiros, permaneci na minha poltrona no meio do ônibus sofrendo com uma temperatura de 20 graus, já que não havia mais mantas em cada poltrona que aqueciam os passageiros. Depois de buscar agasalhos nas malas e tomar um descongestionante para aliviar a rinite, tive a resposta do motorista para o fim das mantas no veículo:
- Elas foram sendo levadas, levadas, como se os passageiros pensassem: “faz parte do pacote da passagem!” Como não houve reposição, os mais desavisados sofrem...
Como falei acima o asfalto está “um tapete”, como deveriam ser todas as rodovias do país, não apenas as principais. Afinal, todos pagam seus impostos e carecem de um mínimo de conforto, longe da poeira e dos atoleiros... Bom, depois de 40 horas de uma viagem que cortou os estados do Espírito Santo, da Bahia (que consome quase um dia inteiro!), Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Paraíba, chego a Natal e sou recebido pelo mano Tarcísio, que deu uma pausa nos seus afazeres literários para me buscar na rodoviária de Natal. A alegria pelo reencontro, as novidades relatadas no trajeto rumo à sua casa, os empreendimentos imobiliários que surgem de todos os lados nesta dinâmica Natal, tudo contribuiu para encurtar o trajeto e logo chegávamos à casa.
O cheirinho da boa comida regional já foi sentido na entrada. E, a surpresa preparada pela cunhada Ione, foi “uma covardia”: carne de sol como carro chefe, acompanhado da passoca, do arroz de leite, e do suco de mangaba. Ave Maria!... diante de tanta maravilha gastronômica há tanto tempo privado, nem sentia mais a reclamação da coluna por tantas horas sentado no ônibus. Mas, aquela deliciosa recepção tinha hora marcada. É que a mana Dodora nos aguardava... fazia questão que eu ficasse na sua casa. Firme, não abria mão de me hospedar, segundo Tarcisio. O que ela confirmou na minha presença:
- O combinado foi o seguinte: Rodoviária e passeios pela cidade, é por conta dele. Estadia, é comigo! (Dodora, a mãezona acostumada com tantos filhos e netos estende aos irmãos distantes a tarefa do acolhimento na capital potiguar.) E concluiu: Já está tudo resolvido. Vai ficar no quarto do Ricardo. Preparei tudo!
É. Trato é trato, e assim foi feito entre eles. Eu apenas concordei com tanta cordialidade.
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