Foi assim... Charles vivia sozinho. Não podia ver uma perna de moça que logo se chegava e ensaiava inconveniências. Suas atitudes já eram motivo de vergonha para a família, já que Charles não respeitava moças moças, moças adultas, e até moças idosas, como era o caso da vovó... era só a visita chegar, se acomodar na poltrona e lá vinha Charles buscando as pernas das moças com suas demonstrações eróticas. Foi então que os donos se apressaram para arranjar-lhe uma companheira. E, Lili entrou em cena. Chegou com lacinho de fita, perfumada, mas como na música de Chico, ele não deu bola para os enfeite não, “queria mesmo era agarrar, despentear, ir para cama”... E, foram tantos dias dedicados exclusivamente à amada Lili, que as visitas até se viram aliviadas do constante assédio do Charles às suas pernas.
Tantos encontros amorosos e sem nenhum cuidado contraceptivo resultaram que logo, logo, Lili se viu prenhe, não faltaram os elogios masculinos à façanha de Charles, muito parecidos com aqueles da propaganda de cerveja:
- Charlão!... Machão!... Durão!... Paisão!...
Enquanto isso a barriga de Lili crescia, crescia... e pelos cálculos de gestação canina já estava chegando o dia do nascimento dos filhotes. Numa bela noite de sábado, o pânico:
- Lili sumiu!!! Foi um clamor... “Procurou no meu quarto?” – Procurei! “Na cozinha?” – Também! “Lá fora?” – Já revirei tudo, mãe: área, cozinha, banheiro, todos os quartos, lá fora!... A casa do meu vizinho da frente foi tomada por um desespero coletivo:
- Quem deixou a porta aberta? Quem? Quem? Quem? Era mais uma acusação do que uma pergunta propriamente dita.
- Ela não sabe andar por essa Pelinca! – E, com a barriga naquele tamanho! - Pequenininha e mansa como é, com certeza já apanharam! - Meu medo é que seja atropelada. Santo Deus!...
O pai um pouco mais calmo que os demais determina: filho vai na direção da Formosa. Amor, vai pela Pelinca! Até o meu caçula, vendo o clamor instado em razão do torno do sumiço de Lili se prontificou a ajudar, percorrendo de moto ruas adjacentes...
O grupo reunido na frente da casa não tirava o olho da rua, na esperança de que a qualquer hora um dos “caçadores” voltasse com a fujona sã e salva. Chega o primeiro, nada! O segundo, nada! O terceiro ainda não tinha voltado, quando veio o grito de alívio da filha que vasculhando cada palmo da casa acabara descobrindo o esconderijo da Lili, no quarto de objetos usados, num espaço quentinho de um móvel antigo que ela cuidadosamente escolheu como maternidade. Era lá que estava a Lili, indiferente a tanto alvoroço que, sem saber provocara, se preparando para trazer à luz seus filhotes, para orgulho de Charles que dera a pista à filha da casa, montando guarda próximo ao local onde se encontrava Lili.
Daí para a frente, foi só festa, respirar fundo de alívio, risos e agradecimentos ao Pai pelo aparecimento de Lili. Esta, na tranqüilidade do leito que improvisara, já naquela mesma noite pariu o primeiro filhote daquela gestação.
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