O quadro assusta: destruição da camada de ozônio, aquecimento do planeta, degelo da calota polar, mudanças climáticas, oceanos, rios e lagos poluídos. De repente, o cidadão comum – como se não bastasse a ameaça nuclear criada pela ambição e pela insanidade humanas! – passou a conviver, mais recentemente, com ameaças causadas pelo descaso do homem com relação ao meio ambiente. Como resposta, temos assistido a tsunamis, furacões, enchentes ou secas em proporções nunca antes vistas.
O Brasil mesmo, onde sempre tivemos a ousadia de proclamar que “Deus é brasileiro”, devido aos privilégios climáticos ou geológicos que sempre nos livrou de terremotos ou furacões, por exemplo, de repente, se vê com clima completamente desregulado a ponto de nos últimos meses presenciarmos uma inversão na situação climática do país, com o Rio Grande do Sul e Santa Catarina conhecendo o flagelo da seca que devasta plantações e gado, enquanto em muitos estados nordestinos a chuva caia como nunca se vira, transbordando rios, estourando barragens, derrubando barreiras, destruindo estradas, provocando calamidades inéditas em tal magnitude.
Raquel, Graciliano, José Lins, se vivos fossem teriam hoje que descrever não a morte da lavoura ou dos animais, pela seca; não o êxodo dos flagelados para os grandes centros; a falta d’água ou a desertificação do chão nordestino; mas a devastação causada por caudalosos rios que não paravam de subir, destruindo o que estivesse pela frente.
O sertanejo que costuma esperar até o dia de São José, 19 de março, para iniciar o plantio, com a chegada antecipada da chuva este ano, não precisou fazer promessa ou romarias ao santo. Ela veio, mas em volume devastador, enquanto no Sul, o agricultor tomava conhecimento do que era a seca inclemente.
Ao homem simples, assustado com as mudanças climáticas, resta rezar e pedir clemência. Os mais atingidos (em geral, os mais pobres!) dependem de atitudes públicas, às vezes nem tão precisas, como no caso da barragem estourada no Piauí! Os dirigentes donos do mundo, no entanto, parecem ignorar o ser humano, os que vivem em área de risco por necessidade, e boicotam acordos que buscam menos destruição ambiental, deixando o planeta na iminência de uma calamidade maior e irreparável. Que Deus nos acuda!
"Ao fim das crônicas conheça os poemas do autor"
...
domingo, 31 de maio de 2009
sábado, 23 de maio de 2009
SENHORA DO DESTINO (ou quando a reprise supera a estréia)
Três fatos determinaram esta minha crônica: a escolha do poeta Antonio Francisco para compor a seção Meus Poetas, Meus Amigos; a publicação, depois de 40 anos na gaveta, do meu texto “Jurema”; e a constatação de que assistir à reprise da novela “Senhora do Destino” virou uma obrigação para mim... Publicar o meu amigo Antonio Francisco, membro da Academia Brasileira de Cordel, é uma honra para mim; trazer “Jurema” a público depois de tanto tempo, uma grande alegria... o mais difícil fica por conta de falar o que sinto sobre “Senhora do Destino”.
Não me lembro bem a razão, mas não acompanhei essa novela no seu lançamento. Agora, quando da sua reprise, me vi de repente atraído por esse clássico da teledramaturgia brasileira: a epopéia de uma nordestina que resolve encarar a cidade grande, na tentativa de resolver seus problemas familiares, e acaba bem sucedida financeiramente. Só que, para complicar a situação, a sua filha é seqüestrada logo que chega ao Rio, em meio ao caos que se instalara com a luta estudantil contra a ditadura, fazendo com que a mãe passe toda a novela na luta para encontrá-la.
Com basicamente dois núcleos (a família de Maria do Carmo na Baixada Fluminense, e a do Barão, na zona sul, representando a classe A carioca), tornou-se fácil para o autor criar os seus personagens. E, é com que maestria ele faz isso! Eu, como nordestino, me identifiquei de cara com a obra porque, por coincidência, ela tem início justamente na época em que cheguei ao Rio... A interpretação do elenco está irreparável, desde a neta “atrevida” da protagonista, sempre a questionar a madrasta (ex-paquita Letícia Spiller) até o barão, Raul Cortez, em ótima parceria com Glória Menezes; Suzana Vieira, José Wilker, José Mayer, o triângulo romântico estão perfeitos; Não diria o mesmo de José de Abreu, na novela ex-marido de Maria do Carmo; depois, vem: Carolina Dieckman, boa; Leandra Leal, ótima; Du Moskovis, bom, mas podia render tanto quanto a ambiciosa companheira. Agora, Renata Sorrah, com a sua incrível “Nazaré” é, sem sombra de dúvidas, o grande destaque de interpretação.
A minha identificação com a novela de Agnaldo Silva tem sido tanta que muitas vezes me pego emocionado, quando, por exemplo, enxergo em determinados personagens, cópias autênticas de pessoas nordestinas tão minhas. Em época de enjoado “blá-blá-blá indiando”, e de falsíssima, apesar de belíssima, vilã vivida por Letícia Sabatella, só me resta elogiar e agradecer aos responsáveis por esta obra-prima chamada “Senhora do Destino”.
Não me lembro bem a razão, mas não acompanhei essa novela no seu lançamento. Agora, quando da sua reprise, me vi de repente atraído por esse clássico da teledramaturgia brasileira: a epopéia de uma nordestina que resolve encarar a cidade grande, na tentativa de resolver seus problemas familiares, e acaba bem sucedida financeiramente. Só que, para complicar a situação, a sua filha é seqüestrada logo que chega ao Rio, em meio ao caos que se instalara com a luta estudantil contra a ditadura, fazendo com que a mãe passe toda a novela na luta para encontrá-la.
Com basicamente dois núcleos (a família de Maria do Carmo na Baixada Fluminense, e a do Barão, na zona sul, representando a classe A carioca), tornou-se fácil para o autor criar os seus personagens. E, é com que maestria ele faz isso! Eu, como nordestino, me identifiquei de cara com a obra porque, por coincidência, ela tem início justamente na época em que cheguei ao Rio... A interpretação do elenco está irreparável, desde a neta “atrevida” da protagonista, sempre a questionar a madrasta (ex-paquita Letícia Spiller) até o barão, Raul Cortez, em ótima parceria com Glória Menezes; Suzana Vieira, José Wilker, José Mayer, o triângulo romântico estão perfeitos; Não diria o mesmo de José de Abreu, na novela ex-marido de Maria do Carmo; depois, vem: Carolina Dieckman, boa; Leandra Leal, ótima; Du Moskovis, bom, mas podia render tanto quanto a ambiciosa companheira. Agora, Renata Sorrah, com a sua incrível “Nazaré” é, sem sombra de dúvidas, o grande destaque de interpretação.
A minha identificação com a novela de Agnaldo Silva tem sido tanta que muitas vezes me pego emocionado, quando, por exemplo, enxergo em determinados personagens, cópias autênticas de pessoas nordestinas tão minhas. Em época de enjoado “blá-blá-blá indiando”, e de falsíssima, apesar de belíssima, vilã vivida por Letícia Sabatella, só me resta elogiar e agradecer aos responsáveis por esta obra-prima chamada “Senhora do Destino”.
sábado, 16 de maio de 2009
JUREMA
(No meu tempo de estudante e de Calabouço, escrevi alguns textos pensando publicá-los um dia. “Jurema” era um deles. Hoje, com pequenas modificações, o trago finalmente a público, comemorando as 500 visitas a este blog.)
Jurema apareceu, um dia, com pinta de mendiga vadia. Uma mulher acabada que não demonstrava tristeza no semblante. A primeira reação dos estudantes foi a mais comum: a vaia. Se ela não tivesse dado ouvidos àquela manifestação, não presenciaríamos, posteriormente, os espetáculos que a mesma haveria de protagonizar, em frente ao restaurante Calabouço.
- Mais respeito com as “senhoras”, seus v...!
Aí, a turma se interessou por ela. Mais uma vaia, novo xingamento. Um mais saliente faz um comentário malicioso. Jurema discute com ele e a turma toma partido: Ju-re-ma! Ju-re-ma! Ju-re-ma!
Os contatos iam, aos poucos, se tornando mais coloquiais, com os que já haviam almoçado agrupando-se em torno dela.
- Que é que tu faz, Jurema?
Ela, com olhar de menina assustada, fazia quase que um giro total, em torno de si mesma, encarando os jovens, um a um. A boca era funda. O riso largo denunciava a ausência da maioria dos dentes...
- Eu vou cantar para vocês... O ar se impregnava de cheiro de cachaça quando, desafinada, emitia alguns sons musicais:
- “Foi na Bahia”...
Esse foi o começo. Depois, começaram a ver as pernas de Jurema. A calçinha de Jurema. E a torcida em volta dela, a essa altura já bem concorrida, gritava:
- Strip-tease, Jurema! Strip-tease!
Passageiros de ônibus que se dirigiam ao centro ou à Zona Norte, se viravam curiosos para ver a aglomeração. Garotas mais recatadas que freqüentavam o Calabouço cuidavam em passar longe.
- Strip-tease, Jurema!
- Gente, olhe, que eu ainda não comi hoje!...
- Faz strip-tease que “chove” dinheiro. Mas faz mesmo. Olhe aí, pessoal, a Jurema está sem calcinha (era a armadilha)
- Tô sem calça, tô?...
- Êêêê!... (exclamação geral).
Caiu a primeira moeda no círculo. Caiu a segunda. E muitas outras repicaram na calçada num incentivo àquele espetáculo grotesco, pago com algumas moedas, troco do almoço ou do transporte: uma mulher sem casa, sem comida, sem destino, com uma vida desgraçada, conseguindo alguns trocados de uma juventude estudantil atuante para exibir, como atração, o que restava de si, do seu corpo... O auge do espetáculo era o strip-tease.
- Mas tira “tudo”, Jurema!
- Olhe as moças na fila!... ponderava ela.
- Elas não estão vendo, não. Tira logo a roupa, Jurema!
- Fazia-se tímida. Sentava-se num caixote que arrastava, no qual guardava alguns pertences, como coberta velha que a aqueceria à noite sob uma marquise qualquer, e de repente, ficava calada.
- Assim não vale, Jurema. Tem que fazer strip-tease senão não “chove” mais dinheiro (Mais duas moedas vindas de direções opostas, foram se encontrar no meio daquele picadeiro). Ela meio desengonçada, ela se apressa a recolher.
- Tá bem. Então, faz “paredinha”...
- Vamos juntar todo mundo. Faz “paredinha”, pessoal!
E, dentro de alguns instantes, para maior entusiasmo da turma, o vestido surrado de malha verde-abacate era levantado acima dos seios, deixando à mostra um corpo de mulher desgastado pelo tempo e pela vida desregrada.
Tornou-se popular. Era notada à distância. Às vezes chegava sambando ou imitava miss desfilando em passarela. Aí, suspendia a saia bem acima do joelho, para dizer que estava de mini-saia.
- Jurema!!!
A obra que o governo – a título de urbanização do local, mas, seguramente, com o intuito de desmobilizar a classe estudantil – iniciara, ao lado do restaurante, atingiu, não só a tranqüilidade dos estudantes, que se movimentavam, bolando planos de resistência, com vistas ao pior... A temporada “estudantil” de Jurema também fora atingida em cheio, e entrava em declínio. Isso, porque, com a mudança do tráfego, que fora desviado para a pista de frente do restaurante, acabava o local onde os “shows” eram realizados. Os próprios estudantes estavam agora mais preocupados com o fechamento do restaurante... E, se engajavam na luta!
Houve um dia em que ela resolveu mudar de tática. Quando os estudantes foram chegando à noitinha, para o jantar, encontraram-na de braços levantados, defendendo os direitos ameaçados daqueles jovens.
-...porque eu também sou “mãe e sou brasileira”! E quero que meus filhos tenham colégio pra estudar, e Calabouço pra comer!...
A turma já não lhe dava mais atenção, porque lá dentro havia atrações mais inflamadas saudadas por caloroso batimento de talheres sobre bandejas de aço. Conclamando, de cima de uma mesa estrategicamente colocada num canto do salão, o orador proclamava:
- Companheiros!!!
E, numa noite, em que o pessoal discutia na fila as últimas medidas tomadas pelo governo e a brutalidade da polícia nas manifestações estudantis, Jurema apresentava o seu show mais verdadeiro e pungente, jamais mostrado no Calabouço.
- Eu tô com fome... vocês gostavam quando eu fazia strip-tease, não gostavam?... eu quero comer... se não me derem comida, eu vou deitar aí!... E deitou-se na pista, soluçando convulsivamente, indiferente aos estudantes que nervosos discutiam na fila, buscando saídas para a crise com a polícia que naqueles dias atingia o seu clímax, ou aos motoristas que, admirados com a cena patética, tentavam desviar seus veículos...
Jurema apareceu, um dia, com pinta de mendiga vadia. Uma mulher acabada que não demonstrava tristeza no semblante. A primeira reação dos estudantes foi a mais comum: a vaia. Se ela não tivesse dado ouvidos àquela manifestação, não presenciaríamos, posteriormente, os espetáculos que a mesma haveria de protagonizar, em frente ao restaurante Calabouço.
- Mais respeito com as “senhoras”, seus v...!
Aí, a turma se interessou por ela. Mais uma vaia, novo xingamento. Um mais saliente faz um comentário malicioso. Jurema discute com ele e a turma toma partido: Ju-re-ma! Ju-re-ma! Ju-re-ma!
Os contatos iam, aos poucos, se tornando mais coloquiais, com os que já haviam almoçado agrupando-se em torno dela.
- Que é que tu faz, Jurema?
Ela, com olhar de menina assustada, fazia quase que um giro total, em torno de si mesma, encarando os jovens, um a um. A boca era funda. O riso largo denunciava a ausência da maioria dos dentes...
- Eu vou cantar para vocês... O ar se impregnava de cheiro de cachaça quando, desafinada, emitia alguns sons musicais:
- “Foi na Bahia”...
Esse foi o começo. Depois, começaram a ver as pernas de Jurema. A calçinha de Jurema. E a torcida em volta dela, a essa altura já bem concorrida, gritava:
- Strip-tease, Jurema! Strip-tease!
Passageiros de ônibus que se dirigiam ao centro ou à Zona Norte, se viravam curiosos para ver a aglomeração. Garotas mais recatadas que freqüentavam o Calabouço cuidavam em passar longe.
- Strip-tease, Jurema!
- Gente, olhe, que eu ainda não comi hoje!...
- Faz strip-tease que “chove” dinheiro. Mas faz mesmo. Olhe aí, pessoal, a Jurema está sem calcinha (era a armadilha)
- Tô sem calça, tô?...
- Êêêê!... (exclamação geral).
Caiu a primeira moeda no círculo. Caiu a segunda. E muitas outras repicaram na calçada num incentivo àquele espetáculo grotesco, pago com algumas moedas, troco do almoço ou do transporte: uma mulher sem casa, sem comida, sem destino, com uma vida desgraçada, conseguindo alguns trocados de uma juventude estudantil atuante para exibir, como atração, o que restava de si, do seu corpo... O auge do espetáculo era o strip-tease.
- Mas tira “tudo”, Jurema!
- Olhe as moças na fila!... ponderava ela.
- Elas não estão vendo, não. Tira logo a roupa, Jurema!
- Fazia-se tímida. Sentava-se num caixote que arrastava, no qual guardava alguns pertences, como coberta velha que a aqueceria à noite sob uma marquise qualquer, e de repente, ficava calada.
- Assim não vale, Jurema. Tem que fazer strip-tease senão não “chove” mais dinheiro (Mais duas moedas vindas de direções opostas, foram se encontrar no meio daquele picadeiro). Ela meio desengonçada, ela se apressa a recolher.
- Tá bem. Então, faz “paredinha”...
- Vamos juntar todo mundo. Faz “paredinha”, pessoal!
E, dentro de alguns instantes, para maior entusiasmo da turma, o vestido surrado de malha verde-abacate era levantado acima dos seios, deixando à mostra um corpo de mulher desgastado pelo tempo e pela vida desregrada.
Tornou-se popular. Era notada à distância. Às vezes chegava sambando ou imitava miss desfilando em passarela. Aí, suspendia a saia bem acima do joelho, para dizer que estava de mini-saia.
- Jurema!!!
A obra que o governo – a título de urbanização do local, mas, seguramente, com o intuito de desmobilizar a classe estudantil – iniciara, ao lado do restaurante, atingiu, não só a tranqüilidade dos estudantes, que se movimentavam, bolando planos de resistência, com vistas ao pior... A temporada “estudantil” de Jurema também fora atingida em cheio, e entrava em declínio. Isso, porque, com a mudança do tráfego, que fora desviado para a pista de frente do restaurante, acabava o local onde os “shows” eram realizados. Os próprios estudantes estavam agora mais preocupados com o fechamento do restaurante... E, se engajavam na luta!
Houve um dia em que ela resolveu mudar de tática. Quando os estudantes foram chegando à noitinha, para o jantar, encontraram-na de braços levantados, defendendo os direitos ameaçados daqueles jovens.
-...porque eu também sou “mãe e sou brasileira”! E quero que meus filhos tenham colégio pra estudar, e Calabouço pra comer!...
A turma já não lhe dava mais atenção, porque lá dentro havia atrações mais inflamadas saudadas por caloroso batimento de talheres sobre bandejas de aço. Conclamando, de cima de uma mesa estrategicamente colocada num canto do salão, o orador proclamava:
- Companheiros!!!
E, numa noite, em que o pessoal discutia na fila as últimas medidas tomadas pelo governo e a brutalidade da polícia nas manifestações estudantis, Jurema apresentava o seu show mais verdadeiro e pungente, jamais mostrado no Calabouço.
- Eu tô com fome... vocês gostavam quando eu fazia strip-tease, não gostavam?... eu quero comer... se não me derem comida, eu vou deitar aí!... E deitou-se na pista, soluçando convulsivamente, indiferente aos estudantes que nervosos discutiam na fila, buscando saídas para a crise com a polícia que naqueles dias atingia o seu clímax, ou aos motoristas que, admirados com a cena patética, tentavam desviar seus veículos...
domingo, 10 de maio de 2009
DO MEU SONHO DE BB
Vivi a minha a adolescência nos anos sessenta. Era muito comum entre os jovens de uma cidade pequena daquela época, freqüentar bailinhos ao som de Ray Conniff; “curtir” os Beattles, Nélson Gonçalves, Altemar Dutra; levar a namorada ao cinema, à sorveteria; e, iniciar-se em sexo na “casa da luz vermelha”... Na hora de escolher uma profissão, vinham logo à mente: Direito, Medicina, Engenharia, ou Banco do Brasil... Banco do Brasil? Com certeza! Era incrível o fascínio que ele exercia sobre os adolescentes da época.
O interesse era justificado. Além do ótimo salário que o banco oferecia, o seu funcionário gozava de uma série de vantagens: comissões diversas, complemento da aposentadoria, perfeita assistência médica e clube para lazer seu e da sua família, porque ninguém é de ferro... A fama dos membros do “Clube do Bolinha” (o banco até então só admitia homens!) era perfeitamente justificada. Principalmente nas cidades pequenas, onde os seus funcionários desfilavam uma discreta superioridade, provocando interesse entre mocinhas casadoiras e admiração e uma ponta de inveja entre os rapazes.
Mas, aqueles trabalhadores diferenciados que, um dia, enfrentando verdadeiros vestibulares para conseguir uma vaga no BB, eram apenas uns “sortudos” que acertaram na loteria? Negativo! Havia a outra face da moeda. A começar pelos lugares onde assumiriam e pelas constantes transferências, que os tornavam verdadeiros desbravadores a chegar nos pontos mais distantes do país, onde houvesse carência de funcionários. Da selva amazônica ao árido Nordeste, era por aí que se começava... E, havia rígidas regras de conduta. O funcionário tinha que andar sempre “na linha”. O menor deslize significava severa punição. Um regime quase militar! Horários rigorosamente controlados e serviços sempre supervisionados eram outras exigências da casa.
Nos meus livros “Em Família” e “Nativo”, está o poema “Acreditando cegamente”, que dedico a esses trabalhadores, pela sua bravura, pela aventura que era assumir o BB de então. Nele também está consignada a minha decepção pela casa a qual (ainda motivado pelo sonho de adolescente!) só tardiamente me acolheria, em 1980. O banco que me admitira, com relação ao funcionalismo havia mudado radicalmente, para atender às leis de organismos financeiros internacionais...
Do meu sonho de BB, restaram a certeza do dever cumprido, as grandes amizades, e a dor de ver uma instituição (que durante décadas foi o sonho de muitos adolescentes), sofrer tamanha modificação! É duro ver acontecer isso com uma casa que, graças ao estímulo e à tranqüilidade que dava ao seu funcionário, chegou a produzir grandes talentos para o país. Inúmeros foram os diplomatas, ministros, políticos, escritores, atletas e artistas gerados por uma banco que, hoje em dia, movido por uma competição capitalista selvagem, parece visar apenas o lucro...
Obs.: crônica extraída do livro “A Ponte” que o autor publicou em 2007.
O interesse era justificado. Além do ótimo salário que o banco oferecia, o seu funcionário gozava de uma série de vantagens: comissões diversas, complemento da aposentadoria, perfeita assistência médica e clube para lazer seu e da sua família, porque ninguém é de ferro... A fama dos membros do “Clube do Bolinha” (o banco até então só admitia homens!) era perfeitamente justificada. Principalmente nas cidades pequenas, onde os seus funcionários desfilavam uma discreta superioridade, provocando interesse entre mocinhas casadoiras e admiração e uma ponta de inveja entre os rapazes.
Mas, aqueles trabalhadores diferenciados que, um dia, enfrentando verdadeiros vestibulares para conseguir uma vaga no BB, eram apenas uns “sortudos” que acertaram na loteria? Negativo! Havia a outra face da moeda. A começar pelos lugares onde assumiriam e pelas constantes transferências, que os tornavam verdadeiros desbravadores a chegar nos pontos mais distantes do país, onde houvesse carência de funcionários. Da selva amazônica ao árido Nordeste, era por aí que se começava... E, havia rígidas regras de conduta. O funcionário tinha que andar sempre “na linha”. O menor deslize significava severa punição. Um regime quase militar! Horários rigorosamente controlados e serviços sempre supervisionados eram outras exigências da casa.
Nos meus livros “Em Família” e “Nativo”, está o poema “Acreditando cegamente”, que dedico a esses trabalhadores, pela sua bravura, pela aventura que era assumir o BB de então. Nele também está consignada a minha decepção pela casa a qual (ainda motivado pelo sonho de adolescente!) só tardiamente me acolheria, em 1980. O banco que me admitira, com relação ao funcionalismo havia mudado radicalmente, para atender às leis de organismos financeiros internacionais...
Do meu sonho de BB, restaram a certeza do dever cumprido, as grandes amizades, e a dor de ver uma instituição (que durante décadas foi o sonho de muitos adolescentes), sofrer tamanha modificação! É duro ver acontecer isso com uma casa que, graças ao estímulo e à tranqüilidade que dava ao seu funcionário, chegou a produzir grandes talentos para o país. Inúmeros foram os diplomatas, ministros, políticos, escritores, atletas e artistas gerados por uma banco que, hoje em dia, movido por uma competição capitalista selvagem, parece visar apenas o lucro...
Obs.: crônica extraída do livro “A Ponte” que o autor publicou em 2007.
domingo, 3 de maio de 2009
O TERCEIRO PORTO
Divulgo hoje neste espaço o poema com que encaro a Terceira Idade (65 anos em 27 de abril!). Acho que a pessoa lamentar o que deixou de fazer é uma bobagem. Possuir a Vera Fischer, (que, no fundo, era desejo de todo jovem brasileiro da época) não foi, com certeza, o único desejo não realizado. Pior do que isso, considero as escolhas erradas que fazemos: trabalho ou profissão, por exemplo. E, acontece tanto, não é mesmo? Acredito que o mais importante é a pessoa saber se adaptar com fairplay à nova realidade, acreditando, acima de tudo, no Deus supremo. Bom... aí está o poema ao qual dei o título de “O terceiro porto”.
O TERCEIRO PORTO
Eis um exemplo de sonho que não vivi:
Possuir a Vera Fischer no seu esplendor!
Mas não lamento, como Borges ou Nadine,
Alguns “Instantes” não realizados da vida
Ao ancorar neste porto implacável,
Inaugurando solenemente a minha velhice...
Se dos meus pais ganhei um corpo saudável
Sem seqüelas ou maiores imperfeições,
Dele procurei cuidar sempre com desvelo,
Pois, quando se ganha um bom presente
Não se vai estragá-lo com o que não presta,
Corrompê-lo com o que não devia...
Fiz musculação no fabrico do pão;
Levantando rudes pesos de concreto...
Geravam suor, desenvolviam músculos.
Nas garotas, provocavam suspiros sutis;
E, naquelas da “luz vermelha”, os elogios
Faziam parte das aulas eróticas iniciais...
Esforços físicos, hábitos saudáveis,
Prepararam o meu corpo para as batalhas.
O velho esqueleto virou sustentáculo
Da combativa e sólida musculatura,
Que hoje aporta o limiar da velhice
Com vontade de caminhar ainda mais...
Da parte física, só me queixo da rinite
Desde cedo tratada com vacinas,
Cauterização de mucosa, (a fumaça,
Cheiro de chuurrasco no ar!) bons alívios!
Depois, a cortizona entrando em cena.
E, sempre, sempre, gotinhas para dormir.
Já o psíquico difere do físico – e como!
Como medito, meu Deus, me penitencio!...
Muito me questiono, para tudo busco razões.
Mesmo assim, no balanço geral, acredito,
O resultado é azul: tenho saldo positivo!
E tudo agradeço à minha fé em Deus.
Casamento de trinta anos: prós e contras.
Na viuvez, os filhos como herança maior;
A eles sempre busquei dar bons exemplos.
Difícil é agradar a três cabeças distintas
Que já não trazem a candura das crianças;
E com vontades muitas vezes irredutíveis.
Os meus conceitos não são os mesmos
Que viveram os meus velhos pais,
Tampouco os que vivem os meus filhos
Ou viverão, por certo, os meus netos.
O mundo é uma evolução constante
E a certeza é uma só: “O futuro está intacto”!
O TERCEIRO PORTO
Eis um exemplo de sonho que não vivi:
Possuir a Vera Fischer no seu esplendor!
Mas não lamento, como Borges ou Nadine,
Alguns “Instantes” não realizados da vida
Ao ancorar neste porto implacável,
Inaugurando solenemente a minha velhice...
Se dos meus pais ganhei um corpo saudável
Sem seqüelas ou maiores imperfeições,
Dele procurei cuidar sempre com desvelo,
Pois, quando se ganha um bom presente
Não se vai estragá-lo com o que não presta,
Corrompê-lo com o que não devia...
Fiz musculação no fabrico do pão;
Levantando rudes pesos de concreto...
Geravam suor, desenvolviam músculos.
Nas garotas, provocavam suspiros sutis;
E, naquelas da “luz vermelha”, os elogios
Faziam parte das aulas eróticas iniciais...
Esforços físicos, hábitos saudáveis,
Prepararam o meu corpo para as batalhas.
O velho esqueleto virou sustentáculo
Da combativa e sólida musculatura,
Que hoje aporta o limiar da velhice
Com vontade de caminhar ainda mais...
Da parte física, só me queixo da rinite
Desde cedo tratada com vacinas,
Cauterização de mucosa, (a fumaça,
Cheiro de chuurrasco no ar!) bons alívios!
Depois, a cortizona entrando em cena.
E, sempre, sempre, gotinhas para dormir.
Já o psíquico difere do físico – e como!
Como medito, meu Deus, me penitencio!...
Muito me questiono, para tudo busco razões.
Mesmo assim, no balanço geral, acredito,
O resultado é azul: tenho saldo positivo!
E tudo agradeço à minha fé em Deus.
Casamento de trinta anos: prós e contras.
Na viuvez, os filhos como herança maior;
A eles sempre busquei dar bons exemplos.
Difícil é agradar a três cabeças distintas
Que já não trazem a candura das crianças;
E com vontades muitas vezes irredutíveis.
Os meus conceitos não são os mesmos
Que viveram os meus velhos pais,
Tampouco os que vivem os meus filhos
Ou viverão, por certo, os meus netos.
O mundo é uma evolução constante
E a certeza é uma só: “O futuro está intacto”!
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