E... lá estavam os dois, após alguns telefonemas, para o seu primeiro encontro. A garota parecia ainda mais jovem do que naquele dia no shopping, quando, em frente ao cartaz do filme, após ligeiras opiniões, acabaram trocando seus números de telefone. O professor, nervoso, não parava de sorrir, de balbuciar palavras, de gesticular, de dobrar o programa do concerto que combinaram assistir naquela noite.
- Você... sabe o que está fazendo?
Claro que ela sabia. Os jovens de hoje não são como os da sua época. São mais esclarecidos, livres, vividos (o que os leva, muitas vezes a quebrar a cara bem cedo). E fora justamente uma decepção amorosa que a fizera ir àquele encontro com aquele homem maduro. Talvez buscasse nele o porto seguro, o colo que lhe faltava. Ela, “órfã de pais vivos”, criada por uma tia que ultimamente aparecera com problemas sérios de saúde. Comentou que estava tensa devido à saúde da tia; temia o resultado dos exames, pensando: - “E, se ela estivesse com “aquela” doença”?...
O professor sabia que aquele não era um encontro normal. Ali estava mais por escolha da menina. Um amigo que encontrara no teatro, um pouco antes, já expressara a sua opinião: “Deixa de ser bobo, rapaz! Vai fundo!” O outro, mais velho, acostumado com aventuras com as “cabritas” que regulavam a idade dela, piscou-lhe o olho discretamente, como se dissesse: “É isso aí, companheiro, não podemos perder tempo...” Já ele, buscava entender a razão do seu interesse por aquela menina, a curiosidade que o levava a acalentar aquela aventura, mesmo sabendo do ônus que poderia proporcionar.
- Você sabe a minha idade? Criou coragem e perguntou. Ela preferiu ignorar a pergunta...
- A minha idade... você sabe? Ela, agitada, evitou mais uma vez responder. Mexendo na bolsa, retira o celular no qual passa a consultar alguma coisa. Foi quando da bolsa caíram alguns pertences, inclusive a identidade. Ele habilmente recolhe o material e constata: “Menos da metade da minha!” Ela se fez de inocente e educadamente o advertiu: “Psiu... - Está começando o conserto”.
Não entendia aquela garota que tinha idade para ser sua filha. Enquanto a concertista executava o “Noturno nr. 5 de Chopin”, ele envolto no mistério, fechou os olhos, tomou a mão da garota, deixando-se levar pela melodia: “Eu estou viúvo. O mundo está louco mesmo”! Quem vai ligar?
No último acorde, durante os intensos aplausos, ela tomou dele a identidade e apressou-se. Ele, meio perturbado, disfarçou e a seguiu. Lá fora, só deu para ver quando a garota habilmente tomou um táxi...
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