Confesso a minha grande decepção: não foi o que eu esperava a prisão de Caio Silva Souza, o moço que matou o cinegrafista Santiago Andrade, da Band, ao acionar um artefato numa manifestação contra o aumento das passagens de trem, na semana passada. Sim, porque pela violência usualmente praticada pelos Black Bloc durante as manifestações de protesto eu esperava que fosse mostrado à imprensa um animal, uma fera raivosa, um pit bull enfurecido, um indivíduo que mesmo acuado estivesse pronto para atacar e destruir quem e o que encontrasse pela frente, não fazendo a menor análise do que os seus atos pudessem produzir. Imaginava que ao ser localizado, o homem (quase adolescente!) tivesse olhos faiscando, boca espumando e atitude de pronto ataque.
Não foi nada disso que vimos na “triunfal” apresentação de um dos autores do disparo do artefato que matou Santiago, antigo e exemplar cinegrafista da TV Bandeirantes. Operação que, inclusive, contou com a participação da namorada e do advogado de defesa do rapaz. O que se viu pela televisão, foi uma pessoa acuada e arrependida, se entregando; renunciando a um ideal (???); desistindo das “façanhas” dos que hoje se encontram no poder; largando no meio do caminho o sonhado refugio que buscava no Ceará, em troca de uma “confortável universidade do crime”, onde agora ingressa.
Eis o homem! Ou “os homens”!? Porque esse que é entregue como troféu, a despeito da sua atuação como black bloc, tinha conceito de pessoa honesta. De classe econômica muito pobre, trabalhava e era elogiado pelos colegas! Para melhorar o seu parco orçamento, fora convocado para “fazer bicos” a R$ 150,00. Para tanto deveria enfrentar policia, depredar, incendiar e correr todos os riscos que correm os fora da lei, por cada manifestação. Além do extra, teria a seu favor o anonimato garantido pelas máscaras negras fornecidas. Em entrevistas, deixou entrever que havia grupos de financiadores bem organizados, que chegavam ao requinte de apanhá-lo de carro para cada “trabalho”. Um trabalho que para ele era muito prático porque podia trabalhar “honradamente” durante o dia, e faturar um ganho “sujo” à noite, ameaçando, destruindo (e, agora, matando). Tudo anonimamente. Jogo estranho e doloroso esse para um jovem de apenas 23 anos, que acabou causando uma dor imensa numa família do Rio, que seguramente, atinge todo o país.
A minha decepção maior é saber que Caio Silva não leva consigo para atrás das grades todos os corruptos, que o levaram ao crime, já acostumados a aliciar a nossa juventude, cientes da impunidade que o poder e o dinheiro representam. Eles, que tantas vezes posam de bons moços, de chefes de família exemplares, de benfeitores dos pobres (políticos, principalmente), é que deveriam ser os primeiros a irem para atrás das grades! Mas, infelizmente, continuarão por aí, levando nossas crianças e jovens para o crime, patrocinando Black blocs, destruindo o futuro do Brasil. Até quando?