"Ao fim das crônicas conheça os poemas do autor"

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quarta-feira, 28 de abril de 2010

ANIVERSÁRIOS

Há pessoas que não ligam para a data do aniversário. Para elas, um abraço de parabéns, uma lembrancinha dos mais próximos; um telefonema de alguém mais distante é o suficiente. Eu sou desse time. Para outras, não. A festa é imprescindível. Ivoneide joga nesse. Tudo concorre para a celebração. Que pode ser simples, com um bolinho e refrigerante, para se cantar parabéns, mesmo com um reduzido numero de participantes, ou uma grande festa, como a que a mesma organizou para comemorar os meus 60 anos. Uma festa linda, marcante, com a presença de grande número de amigos, no Café Literário.

Outro que faz parte do segundo bloco (o dos festeiros) é Adriano. Conheci Adriano quando participamos, juntamente com meia dúzia de outros idosos, do curso de informática para adultos do CCAG. Semana passada encontrei-me com ele no supermercado Walmart. Estava ao lado da esposa, empurrando dois carrinhos abarrotados de produtos para festa, principalmente latinhas de cerveja, e, conversador como todo bom carioca, ao me ver foi logo disparando:

- Não vai furar, não, hein! Olhe aqui, a aniversariante... (e me apresentou a sua esposa que, bastante simpática, também reforçou o convite). Ele insistia:

- Você vai, não vai? Para você, “campista” há mais tempo do que eu, chegar lá não vai ser nenhuma dificuldade. É simples: pega a 28 de Março, e... (gastou um tempinho para explicar o itinerário. Eu ouvindo tudo atento). Depois, continuou:

- Bota uma camisa da seleção e chega lá, por volta das oito. Vai ser um barato! No início a coisa é mais “light”... Tem a dança da criançada. Tem dança de salão. Quando a coisa já estiver esquentando, lá pela meia-noite, o sambão entra pra valer. Vira Carnaval! Escola de Samba! Você sabe, nós que viemos do Rio de Janeiro, festejamos mesmo é com samba: com batucada, cantoria, apito, gongozela, o escambau.

- E os vizinhos?... ponderei eu.

- Ah... Os vizinhos gostam... participam. Não temos problema. Nem de som, nem de hora...

Como estava com pouca mercadoria, me dirigi a outro caixa que me liberasse mais rápido. Antes de sair, desejei um feliz aniversário à sua esposa, e uma ótima festa para o “festeiro” Adriano. E, vim para casa imaginando a cena: o som da batucada misturado ao barulho estridente das gongozelas, no silêncio da noite campista, fazendo “bombar” pelos ares, a incrível festa do Adriano.

- Pode deixar, companheiro, que farei tudo para comparecer!

Isso foi semana passada. Agora vou ligar pro meu amigo, para saber como transcorreu o aniversário da sua esposa. Arranjando, logicamente, uma desculpa sensata pelo meu não comparecimento.

terça-feira, 13 de abril de 2010

O MORRO DO BUMBA

Chocado, como o Brasil inteiro, com a tragédia do Morro do Bumba – depósito de lixo sobre o qual autoridades permitiram que incautos cidadãos realizassem o sonho da casa própria, constituíssem família e criassem seus filhos em aparente tranqüilidade, para ver tudo acabar numa terrível avalanche de lixo compactado e chorume – não consigo tirar da cabeça mais essa tragédia nacional anunciada. E, não sei por que razão, de vez em quando me vem à mente uma antiga piada.

Conta essa piada que cidadãos de diversos países foram se queixar a Deus, pelos privilégios por Ele concedidos ao Brasil...

- Por que, Senhor, tanto benefícios para aquele país ? Lá não tem os ciclones como os que castigam o meu... Era o americano.

- Nem guerras, Senhor! Os europeus uniam-se em coro na sua reclamação.

- Senhor, e os terremotos?! O japonês educadamente reclamava: - O meu país tão pequenino sofre tanto com esses abalos!...

Na fila ainda esperavam a vez asiáticos, africanos, latino-americanos, todos com reclamações engatilhadas, quando Deus resolve abreviar a reunião contra o Brasil, falando:

Meus filhos, sérios e inteligentes como vocês são, certamente hão de perceber que estão reclamando sem razão... Queria que vocês meditassem, por exemplo, no “tipo de gente” que Eu coloquei lá!... Após um momento de reflexão, analisando as palavras do Senhor, eles foram aos pouco se retirando...

Eu ouvi pela primeira vez essa piada – que, como toda piada, tem sempre um fundo de verdade - na adolescência. Mas nunca a esqueci por seu incrível humor negro e por sua terrível realidade. Como é que pode administradores permitirem construções em cima de um lixão? É, mas no nosso país pode tudo. Deixa acontecer, se render votos, melhor! Se não... o que representam “apenas” 200 cidadãos mortos, não é verdade?...

Infelizmente, a tragédia do Morro do Bumba tem tudo a ver com esta piada. Do “povim” que o Senhor colocou aqui, destaca-se a pior classe dele: a daqueles que nós elegemos nossos representantes. Os mais inteligentes, os mais espertos. Tão espertos que só fazem leis em benefício próprio, que possam inocentar seus crimes, suas falcatruas. Pensar na Pátria, nos concidadãos sem segurança, educação, moradia digna, aposentadoria justa? Isso é coisa para intelectual... Obras de infra-estrutura?! O importante é construir praças e serviços que possam lembrar o seu governo. Às favas com as obrigações institucionais. Escárnio e desprezo com o povo até a próxima eleição, é esta a lei do político brasileiro.