"Ao fim das crônicas conheça os poemas do autor"

...

terça-feira, 24 de novembro de 2009

FOTOCRÔNICA

É natural que a pessoa que escreve traga consigo recordações marcantes da cidade onde nasceu. Comigo não é diferente, e aí está Mossoró, o lugar onde nasci.


Foi nessa importante e iluminada cidade potiguar que eu vivi a minha infância e a adolescência. Uma infância saudável, com direito a irmãos pequenos e animas que faziam a nossa alegria. Foi aí que fiz a primeira comunhão e conclui os estudos básicos.






As transformações da adolescência trouxeram os namoros, as festas do tipo “quadrilhas”, e as de clube, incluindo o Carnaval; além do Tiro de Guerra...






A gente ia crescendo, e assistindo aos amigos partindo para o Rio ou São Paulo, alimentando a idéia de um dia também partir. Nesta foto, um grupo de potiguares, novos no Rio de Janeiro, num viaduto do Aterro do Flamengo. (Na época, o bigodão a la Doutor Jivago era moda, e eu o adotei)...


No final do aterro, próximo ao Aeroporto Santos Dumont, ficava o Restaurante Calabouço, onde estudantes secundaristas como eu se alimentavam e alimentavam um nacionalismo inflamado contra a ditadura militar. Em 68, por exemplo, participei da famosa passeata dos 100 mil, após a morte do estudante Edson Luiz num confronto com a polícia militar. Na foto, estou na 2ª fila, logo atrás dos grandes intelectuais da época que encabeçavam a passeata.

Foto: Evandro Teixeira. JB

Eu não sabia que a grande paixão da minha vida morava no Catete, próximo de mim. Um dia, fatalmente, nos encontraríamos... E, quando isso aconteceu, foi amor à primeira vista. O Parque do Flamengo foi testemunha, servindo de cenário em muitas ocasiões,...


Paixões fulminantes não conseguem esperar. E olha nós aí, na roça, jurando amor eterno. Os parentes e amigos viajaram do Rio, para conferir a “amarração”...






A fase das brincadeiras, das aventuras, passara. Agora tinha que suar a camisa para trazer o pão para casa. Numa época de emprego bons e fartos, entrei para a EMBRATEL, onde convivi durante dez anos com uma turma muito amiga. Gostava do serviço que era completar ligações internacionais, via telex ou telefone, num ambiente onde a camaradagem reinava.




Não demorou muito e, Ricardo veio aumentar a nossa alegria; três anos depois a dose se repete com Rodrigo, os cariocas da família.

O Rio agitado obriga-nos a optar pela tranqüilidade de Campos para criarmos os filhos. Aqui trabalhei um ano na Junta de Conciliação e Julgamento, de onde saí em virtude de “um sonho de criança”: passar num concurso para o Banco do Brasil...


Com a chegada do campista Roberto, a família ficou completa. Mas, essa formação durou apenas 14 anos, quando Deus chamou Neli. Vivemos anos difíceis como todos que já viveram drama semelhante. Felizmente, a minha afinidade com as letras e o meu espírito fraterno, fez com que aos poucos fôssemos retornando à normalidade.

Dentre tantos amigos conquistados ao longo dos anos, sobressai um antigo colega de banco que se destacou como grande poeta e figura de proa na cultura campista e da região. Falo do poeta Antonio Roberto Fernandes cuja convivência, notadamente através do seu Café Literário, e da Academia Pedralva Letras e Artes, muito contribuíram para que me tornasse o homem de letras que hoje sou...




...capaz de transformar uma meia dúzia de fotografias numa Fotocrônica, com o pretexto de exaltar o valor da FRATERNIDADE.

domingo, 15 de novembro de 2009

LAMENTO PELO MONITOR

Triste, muito triste, a notícia do fechamento do jornal Monitor Campista, de Campos. Não só pelo fato de ser mais uma empresa que deixa dezenas e dezenas de pais de família desempregados numa cidade onde as oportunidades são cada vez mais difíceis, mas, por sentir que o terceiro jornal mais antigo do país, em atividade, ao fechar as suas portas, encerra o ciclo de um jornal que foi testemunha da história campista, atuando sempre com correção e categoria.
O bacana do Monitor começa nas letras do seu título em estilo gótico; passa por colunas como “Campos há 50, 100 e 150 anos”; por matérias isentas de partidarismo político; por um colunismo aberto à criatividade, sem nunca fazer do noticiário policial uma atração. Por tudo isso que o Monitor Campista é tão apreciado pela família campista.
Ao ver as tristes imagens da manifestação de solidariedade em frente à sua sede, com Patrícia, Carla e tantos funcionários em lágrimas, senti um misto de tristeza e de revolta por sentir que a nossa cultura sai ainda mais enfraquecida desse fechamento.
Em momentos assim, eu fico ainda mais melancólico porque inevitavelmente vem à minha mente o “crime” que foi a demolição do Teatro Trianon – símbolo de uma época áurea da cidade! – com toda a sua pompa, e o descaso que acontece com tantos prédios históricos em lamentável estado de conservação que, a persistir a mesma mentalidade, não sobreviverão para mostrar às futuras gerações, o que um dia foi a cidade de Campos...
Infelizmente, parece que preservação da cultura nunca foi o forte da cidade... A mentalidade aqui parece ser outra: “Deu lucro?... derruba! Vende! Que importa o valor histórico de um belo solar, que abrigou figuras históricas, se em seu lugar é possível construir um rentável empreendimento? Às favas com a cultura e a história da cidade!..”
O meu protesto é de um cronista que em 1999 foi colaborador do Monitor. É uma pena que o velho Monitor, por onde passou a nata do jornalismo campista em várias épocas, venha a fechar as portas! Torço por uma possível saída que ainda possa mudar esse quadro sombrio. E, daqui mando o meu abraço de solidariedade ao Jairo e aos demais funcionários do Monitor Campista.

domingo, 1 de novembro de 2009

E, SE...

E, se... o Brasil entendesse que tem uma missão a cumprir, e que já não é mais “o país do futuro”, porque o futuro chegou?...
E, se... crianças e jovens aprendessem desde cedo a importância de cuidar do meio ambiente, como condição fundamental para a preservação da vida?... E, com relação à Amazônia, aprendêssemos a respeitar opiniões sérias, principalmente de estudiosos da região; e, o problema fosse tratado com seriedade, sem protecionismo, visando preservar a mata milenar, o silvícola, o solo nacional?...
E, se... os políticos entendessem que são representantes “do povo”, por quem devem lutar; e não apenas da “própria família e dos amigos”, a quem acham que devem beneficiar?...
E, se... nos habituássemos a copiar de outros povos não apenas a futilidade, a corrupção, a bandalheira, mas também o respeito, as necessárias punições, as leis justas?...
E, se... tivéssemos leis mais sérias, que punissem o bandido comum, mas não se esquecessem do bandido de colarinho branco, que teve boa educação, dinheiro fácil, e no fim, certo da Impunidade, age irresponsavelmente, aceitando conchavos, roubando o erário público, ceifando vidas, contribuindo para o desastre da nossa sociedade?...
E, se... o zelo pela a coisa pública fosse obrigatório e não ocorressem: medicamentos jogados no lixo, hospitais inacabados e aparelhagens de custo elevado sendo destruídas pelo tempo?...
E, se... entendêssemos que a tecnologia, a informática, que nos dá conforto e prazer, também é responsável pelo desemprego e pelo lucro cada vez maior dos empresários e banqueiros?...
E, se... os dirigentes buscassem fórmulas para a sobrevivência do povo que não fosse o clientelismo ou o trabalho informal sem nenhuma segurança física ou previdenciária?...
E, se... houvesse um entendimento de que o país é formado por incontáveis regiões e micro-regiões, e que a realidade do Leblon é bem diferente da realidade de Eirunepé; E que a concorrência desenfreada da mídia confunde e desagrega?...
E, se... houvessem oportunidades reais para que não fosse preciso o mestre, o doutor, os formandos em geral buscar a profissão de “gari” para sobreviver?...
E, se... o governo entendesse que o trabalhador que chega honestamente à aposentadoria, merece o benefício integral tanto quanto os funcionários públicos que, muitas vezes, como “afilhados políticos”, não estão submetidos ao controle do relógio, ou ganham sem trabalhar; que o trabalhador aposentado merece a velhice tranqüila com que sonhou!...
E, se... lembrássemos que Jesus nunca foi corretor de imóveis no Céu e que, certa vez, até expulsou os vendilhões da casa do Pai?...
E, se... o “filhinho do papai” aprendesse desde cedo que é o seu dinheiro que sustenta a guerra do tráfico?...
E, se... o carro com a proteção do insufilm nos vidros não tornasse “iguais” pessoas boas ou mal intencionadas?...
E, se... a motocicleta circulasse, apenas, para fins honestos?...
E, se... o trabalhador favelado fosse respeitado tanto pelo bandido quanto pelo policial autêntico, não acontecendo em confrontos tantos crimes, tantas lágrimas, tantas crianças órfãs?...
E, se... finalmente, entendêssemos que não basta proclamar que “Deus é brasileiro!” ou que “O Paraíso é aqui!”... mas que é preciso fazer por onde merecer?...